Vários antigos campeões do mundo de rali, com passagens marcantes pelo Rali de Portugal, cuja edição de 2022 arranca na quinta-feira, recordaram hoje na Exponor momentos altos e formas de ver a vida após a retirada.
“A vida é para viver ao máximo. As pessoas perguntam-me se estou reformado. Reformado de quê? É preciso trabalhar, primeiro. Não trabalhei nada na vida, de certa forma. A vida desenrola-se à minha frente, é o que eu sinto. Enquanto tiver boa saúde, vamos a isso”, atirou Ari Vatanen.
Quando se celebram 50 anos do Mundial de ralis (WRC), o finlandês exemplificou a toada da conferência de imprensa ‘rotativa’ (com antigos pilotos agrupados de quatro a quatro perante os jornalistas), em tom introspetivo, passando em revista uma carreira com ponto alto no título mundial de 1981.
O quatro vezes campeão do Paris-Dakar, que também foi eurodeputado entre 1999 e 2004, referiu-se ainda ao atual líder do Campeonato do Mundo, o seu compatriota Kalle Rovanperä.
“As pessoas [na Finlândia] estão satisfeitas, estamos habituados a ser campeões, mas dois Sebastians roubaram-nos os títulos durante quase duas décadas. Loeb e Ogier são dois amigos, tenho muito respeito por eles, mas...”, atirou, bem-humorado.
O jovem, filho de outro ex-piloto, Harri Rovanperä, “pode ser campeão este ano, ou daqui a alguns anos”, num desporto que, como a vida, “é imprevisível”, destacou Vatanen.
Vatanen enalteceu ainda a glória no Dakar, após um acidente, como um dos mais marcantes momentos de décadas atrás do volante. “Sou mesmo eu, a começar uma segunda vida? A vida é um grande mistério”, atirou.
O italiano Ninni Russo, que foi copiloto mas depois se notabilizou como ‘manager’, referiu ter “demasiadas memórias” de um desporto de que se mantém sempre próximo, participando em duas funções “completamente diferentes, como do dia para a noite”.
Ao lado de Peter Solberg e David Richards, a francesa Michèle Mouton refletiu sobre a vitória no Rali de Portugal de 1982, depois de no ano anterior surpreender em Sanremo, tornando-se na primeira mulher a vencer uma prova do WRC.
“Portugal chegou após Sanremo, disse sempre que quando se vence uma vez, há mais confiança, e claro que aqui em Portugal não esperava ganhar. Consegui vencer, e o que me lembro mais é, diria, quando terminámos ver mulheres pela estrada, está na minha memória. Foi uma sensação especial”, descreveu.
Na recordação da antiga piloto, agora com 70 anos, está uma presença em Portugal “muito especial, com adeptos incríveis”. “Estará sempre na minha memória”, reforçou.
De resto, ter feito história não era algo que estivesse no pensamento, apenas o mais elementar de todos os instintos. “Não quis ganhar porque sou mulher, é porque sou piloto”, ressalvou.
Na ‘procissão’ de campeões, entre pilotos e copilotos, Tiziano Severo sentou-se ao lado de Miki Biasion, o italiano que conduziu para os títulos mundiais de 1988 e 1989 com o primeiro ao lado.
“Um dos mais importantes ralis para mim foi cá, no Rali de Portugal. Estive cá muitas vezes, mas lembro-me um ano mais do que os outros, 1985, quando, com um Lancia, lutava pela vitória com a Peugeot e acabámos em segundo. Foi incrível, um resultado e uma performance fantástica, ainda está no meu coração”, lembrou ‘Miki’.
Marcus Grönholm não se lembra “de nada” de quando correu em Fafe, onde vai voltar aos comandos de um dos carros dos 50 anos de WRC, com ‘paradas’ em vários dos locais que recebem especiais ao longo dos próximos dias, mas espera “ainda conseguir lidar com o carro”.
“A primeira vitória em Monte Carlo foi a coisa mais importante para mim, o resto foi só divertir-me, não levei nada muito a sério”, atirou o antigo piloto, hoje com 54 anos, campeão mundial em 2000 e 2002.
O alemão Christian Geistdörfer, que foi copiloto de Walter Röhrl e campeão do mundo em 1980 e 1982, lembrou o papel tático da função que desempenhou entre 1975 e 1990.
“O calendário está recheado de eventos diferentes. Monte Carlo é diferente da Suécia, Portugal da Grécia. Todos são ralis difíceis e exigem táticas diferentes. É isso que um copiloto traz”, lembrou.
Os 50 anos do Mundial de ralis (WRC) vão ser assinalados à margem do Rali de Portugal, em Matosinhos, de quinta-feira a domingo, com uma série de iniciativas que irão reunir antigos campeões e carros, com uma gala marcada para o dia de hoje.
Uma série de carros históricos serão exibidos no parque de serviço da Exponor e os adeptos das provas de rali terão uma rara oportunidade de ver alguns em corridas de demonstração em etapas especiais nos quatro dias da prova.
Ao todo, juntam-se detentores de 28 títulos mundiais na iniciativa, ao lado de outras figuras importantes da modalidade, com 40 carros clássicos a traçarem a história do WRC.
O Mundial de ralis (WRC) foi lançado em 1973 e, desde então, 35 países receberam etapas da prova. Portugal foi anfitrião na época inaugural e este ano recebe o 619.º rali do campeonato.
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