Quem assistiu ao Grande Prémio da Grã-Bretanha em Fórmula 1 deve ter pensado o pior, quando viu o monolugar de Guanyu Zhou virado ao contrário, a sair disparado pelo asfalto, depois pela gravilha, até embater na barreira de proteção. O facto de a realização do evento ter cortado as imagens do acidente nos primeiros minutos, não mostrando nada, aumentou ainda a tensão em Silvestone, mas também em casa para quem via a prova via TV.

Pouco tempo depois, já com os restantes carros nas boxes após a corrida ser interrompida (bandeira vermelha), veio a boa notícia: Guanyu Zhou e Alex Albon estavam bem, apesar do aparatoso acidente.

Foi um fim de semana muito complicado em Silverstone já que horas antes, outro acidente também deixou os fãs do automobilismo apreensivos: numa das corridas da Fórmula 2, o norueguês Dennis Hauger perdeu o controle do seu carro e caiu diretamente em cima do israelita Roy Nissany.

Em ambos os acidentes, só não houve danos maiores graças ao halo, uma estrutura que protege a cabeça dos pilotos nos monolugares.

No caso de Guanyu Zhou, o seu carro capotou e saiu disparado contra o asfalto de forma invertida, depois na gravilha, até bater nas barreiras de proteção. Durante todo esse percurso, com o carro ao virado ao contrário com as rodas no ar, foi o halo quem protegeu a cabeça do chinês. Sem esse dispositivo de segurança, seria a cabeça do piloto da Alfa Romeo a ser arrastado no asfalto.

Das críticas a aceitação

O halo foi introduzido na Fórmula 1 em 2018, depois de muitas polémicas sobre o seu formato. O sistema de proteção frontal do cockpit é uma tira de titânio localizado na parte da frente do carro e serve para proteger a cabeça dos pilotos em caso de choque, além de suportar impactos em casos de capotamento. O dispositivo suporta uma pressão de até 12 toneladas. Nos testes realizados pela FIA, a estrutura de titânio em forma de quilha permitiu desviar uma roda lançada a 225 km/h.

Nos primeiros meses foi muito criticado pelos pilotos de Fórmula 1 mas também pelos amantes da modalidade, que entendiam que a barra de proteção era um golpe na estética dos monolugares. Niki Lauda criticou a sua escolha, em detrimento de outros modelos de segurança apresentados. Pilotos como Nico Hulkenberg, Kevin Magnussen deixaram reparos à estética do halo, que atrapalha a visão a partir dos monolugares. O diretor da Mercedes, Toto Wolff, pediu mesmo uma motosserra para eliminar o halo.

Os pilotos com mais experiência e mais sensatos, pediram tempo para que todos pudessem adaptar-se ao novo sistema

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"Acho que é preciso zelar pela segurança dos pilotos, mas é preciso encontrar uma solução com melhor aparência. Sabíamos há algum tempo que isso ia chegar e acho que, depois de algumas corridas, vamos esquecer completamente que está lá", disse, na altura, o britânico Lewis Hamilton.

Fernando Alonso que na altura da introdução do halo corria pela McLaren, considerou que "não deveria haver debate" sobre um elemento que melhore a segurança dos carros.

Jean Todt, presidente da FIA na altura, foi um dos grandes impulsionadores dos sistema.

"No ano passado [2017], tivemos 42 acidentes mortais em corridas de automóveis. Imagine como nos sentiríamos se acontecesse algo que o halo poderia impedir", lembrou o francês, presidente da FIA, na altura.

Halo: a salvar vidas desde 2018

Não demorou muito até o halo começar a justificar a sua aposta no mundo das corridas. Quatro meses após a sua introdução pela FIA, o carro de Nirei Fukuzumi acabou em cima do cockpit do seu conterrâneo japonês Tadasuke Makino, numa corrida em Espanha. Na altura, Charlie Whiting, que desempenhava o papel de diretor de Fórmula 1 da FIA (foi também delegado de segurança), disse que Makino terá sido o primeiro grande beneficiário do sistema de proteção. No mesmo ano, Alex Peroni escapou ileso a um espetacular acidente, graças ao halo.

2018: GP da Bélgica

A primeira vez que o sistema mostrou a sua importância na Fórmula 1 foi logo no ano da sua estreia. No Grande Prémio da Bélica em Spa-Francorchamps, o McLaren de Fernando Alonso saltou por cima do Sauber de Charles Leclerc, após o espanhol ser atingido na traseira por Nico Hulkenberg, na partida. Foi o halo que impediu o impacto do carro de Alonso sobre a sua cabeça.

Acidente entre Fernando Alonso e Charles Leclerc no GP da Bélgica, em 2018
Acidente entre Fernando Alonso e Charles Leclerc no GP da Bélgica, em 2018 Acidente entre Fernando Alonso e Charles Leclerc no GP da Bélgica, em 2018

2019: GP do Canadá

Nesse ano, logo após a partida, Kimi Raikkonen tocou no STR de Alexander Albon, fazendo voar um pedaço de fibra de carbono a alta velocidade. O mesmo acabou por embater no halo de Romain Grojean. Não fosse o halo e teria atingido o piloto francês.

Peça de carbono da asa dianteira do carro de Alexander Albon atingiu Romain Grosjean no GP do Canadá de 2019
Peça de carbono da asa dianteira do carro de Alexander Albon atingiu Romain Grosjean no GP do Canadá de 2019 Peça de carbono da asa dianteira do carro de Alexander Albon atingiu Romain Grosjean no GP do Canadá de 2019

2020: GP da Toscana

Na segunda partida para o GP da Toscana, no Circuito de Mugello, em Itália, Carlos Sainz acertou por trás a Alfa Romeo de Antonio Giovinazzi, que subiu sobre a McLaren do espanhol. O halo impediu que o carro do italiano acertasse na cabeça do espanhol. Na sequência do acidente, um detrito que ficou na pista após o choque, foi projetado e resvalou no halo.

Carro de Antonio Giovinazzi em cima do McLaren de Carlos Sainz no GP da Toscana de 2020
Carro de Antonio Giovinazzi em cima do McLaren de Carlos Sainz no GP da Toscana de 2020 Carro de Antonio Giovinazzi em cima do McLaren de Carlos Sainz no GP da Toscana de 2020

2020: GP do Bahrein

Se no Canadá o acidente não foi tão aparatoso para Romain Grojean, no Bahrein o francês escapou com vida graças ao sistema de proteção frontal do seu cockpit. Logo após a partida, Grosjean despistou-se e saiu disparado até bater na barreira de proteção. O choque foi tão violento que o monolugar do francês teria atravessado as barreiras, não fosse o halo, que acabou por empurrar barreira metálica, imobilizando assim o carro. O acidente provocou um incêndio no monolugar de Grosjean que conseguiu sair apenas com algumas queimaduras nas mãos, apesar de todo o aparato causado pela situação. Um acidente assustador e o halo a salvar mais um vida.

Roman Grosjean salvo pelo halo n Bahrein
Roman Grosjean salvo pelo halo n Bahrein Roman Grosjean salvo pelo halo n Bahrein

2021: GP Emilia Romagna

Mais um Grande Prémio em Itália em que a segurança da Fórmula 1 voltou a ser testada. George Russel (Williams) envolveu-se num acidente com Valtteri Bottas (Mercedes). A asa dianteira do inglês acertou no finlandês, o pneu do Williams saltou e bateu no carro de Bottas a uma velocidade de 50 km/h, espremendo o lado direito do seu carro, protegido pelo halo. O impacto no halo impulsionou Russell para o lado oposto de Bottas.

Momento em que pneu de George Russell pressiona Valtteri Bottas no GP da Emilia-Romagna de 2021 — Foto: Reprodução/F1
Momento em que pneu de George Russell pressiona Valtteri Bottas no GP da Emilia-Romagna de 2021 — Foto: Reprodução/F1 Momento em que pneu de George Russell pressiona Valtteri Bottas no GP da Emilia-Romagna de 2021 — Foto: Reprodução/F1

2021: GP Itália

Numa luta por posições na grelha, num dos muitos momentos tensos entre Lewis Hamilton (Mercedes) e Max Verstappen (Red Bull) na luta pelo campeonato, o neerlandês teve de alargar numa curva, passar por cima de um corretor que atirou o seu monolugar para cima do do inglês. O carro de Verstappen aterrou em cima de Hamilton e, por pouco, um dos pneus de Max não atingia Lewis na cabeça. Só não aconteceu porque o halo absorveu o impacto. O inglês ficou apenas com dores no pescoço.

O momento em que o carro de Verstappen cai em cima do de Hamilton
O momento em que o carro de Verstappen cai em cima do de Hamilton O momento em que o carro de Verstappen cai em cima do de Hamilton