Andy Irons foi um dos meninos-bonitos do surf, que teve infelizmente um final trágico. Conhecido por ser um prodígio na modalidade, amante de festas e um surfista brilhante, sofria também com a dependência das drogas.
Kelly Slater precisa de poucas apresentações, mesmo para aqueles que não estão atentos ao surf ou ao desporto em geral. É o maior surfista de sempre, tendo conquistado 11 títulos de campeão mundial - o primeiro em 1992 e o último em 2011 - ao longo de mais de 30 anos de carreira, que ainda dura.
São poucos os surfistas que provaram ser maiores do que o surf, uma modalidade que vai para além do desporto, sendo quase uma forma de estar na vida. Se tivéssemos que perguntar qual o maior atleta de sempre, a resposta seria unânime: Kelly Slater, um dos grandes reinventores das técnicas vinculadas à modalidade.
Porém, o norte-americano não esperava encontrar um rival à altura no domínio das ondas. Irons (três vezes campeão do mundo) e Slater protagonizaram, durante anos, uma das rivalidades mais fortes. Dois estilos e personalidades distintas, sempre ao nível mais alto do surf. Com a sua personalidade carismática e reservada, Slatter era totalmente diferente do rebelde e radical Andy Irons.
Kelly Slater, da Flórida para o Panteão do Surf
Robert Kelly Slater nasceu em 1972 em Cocoa Beach, Flórida, tendo começado a praticar surf quando ainda tinha cinco anos de idade. À medida que crescia, os pais perceberam o talento e o gosto do jovem pelo mar. Apesar de a Flórida, na Califórnia, ser uma região que não proporcionasse grandes ondas, Slater conseguia sobressair quase sempre diante dos rivais, até dos mais experientes. Em 1984, com apenas 12 anos, Kelly venceu o primeiro campeonato nos Estados Unidos da América. Posteriormente, em 1986, alcançou um terceiro lugar numa prova de amadores em Inglaterra e venceu um campeonato júnior na Austrália, no ano seguinte.
Em 1990, Slater fez a estreia como surfista profissional no circuito mundial da WSL, mas não obteve grandes resultados. No primeiro ano terminou no 90º lugar do ranking e no seguinte no 43º. Foi só em 1992 que o jovem da Flórida chegou ao topo com o título de campeão mundial. Tinha apenas 20 anos, tornando-se no surfista mais jovem da história a conquistar um campeonato mundial.
Nesse ano, Slater ficou entre os três melhores das cinco primeiras etapas da competição. Além disso, venceu duas etapas: o Rip Curl Pro, em França, e também a última, o Pipeline Masters, no Havai.
Depois, Kelly surfou na história da modalidade. Foi 11 vezes campeão do mundo (1992, 1994, 1995, 1996, 1997, 1998, 2005, 2006, 2008, 2010, 2011) e, aos 49 anos, ainda compete. Em Portugal venceu em 2011.
Irons encontra no mar o seu ídolo de infância
Em 1991, estreava o 'Kelly Slater in Black and White', um filme que documentava a ainda curta carreira do surfista norte-americano no circuito mundial. Este projeto serviu de influência para muitos surfistas ao redor do mundo e um deles foi Andy Irons. À época, o jovem havaiano tinha 13 anos. Por nascer numa região onde se respira surf, Andy Irons e o seu irmão mais novo, Bruce, passavam a maior parte do tempo no mar. À semelhança de Kelly, Andy era imbatível dentro da água, extremamente competitivo e com talento para grandes manobras. Em 1998, entrou no Circuito Mundial e alcançou a primeira vitória em Huntington Beach, na Califórnia.
Porém, foi só em 2002 que Irons começou a mostrar o que realmente valia e a fazer frente a Kelly, o ídolo na infância e agora adversário. Nesse ano, Kelly Slater voltava a disputar o circuito mundial depois de três anos de ausência para se dedicar a projetos mais pessoais. O norte-americano regressava ao mar como hexacampeão mundial e já o maior vencedor de sempre da modalidade.
Por outro lado, Andy Irons, na altura com 26 anos, ganhava destaque e muitos o viam como o sucessor natural de Slater. O havaiano, que encantava com aéreos e um forte domínio sobre as ondas, triunfou em Bells Beach (Austrália); Teahupoo (Taiti), Mundaka (Espanha) e levantou o troféu de campeão mundial no Havai, a sua 'casa'.
O título de Andy serviu de incentivo para Kelly, pois agora havia um adversário à altura.
As melhores fotos de Irons e Slater
O duelo entre amor de irmãos
O ano de 2003 é considerado um dos melhores de sempre do Circuito Mundial. Os dois surfistas protagonizaram um dos maiores duelos já vistos na história da modalidade. Das oito etapas disputadas, Kelly e Andy haviam vencido quatro cada um, faltando saber quem seria o campeão mundial. Essa decisão foi 'atirada' para Pipeline, no Havai.
Andy sentia a pressão de vencer dentro de casa, como havia feito no ano anterior. Porém, a pressão também estava do lado de Kelly, que queria dar continuidade ao domínio no circuito. Em Pipeline, os dois chegaram à final e antes da bateria começar, Kelly disse para Andy:
"Quero que saibas que te amo como um irmão”.
Andy ficou baralhado depois de ouvir aquilo, até porque a relação entre os dois sempre era a de uma rivalidade intensa e não havia proximidade entre eles. Pelo menos, era o que passava cá para fora.
A intenção de Kelly era a de destabilizar o adversário. Contudo, não surtiu efeito. Diante do seu público, Andy Irons foi melhor e derrotou o rival, tornando-se bicampeão mundial.
A morte de Andy Irons
No ano seguinte, 2004, Andy destacou-se uma vez mais e conquistou, pela terceira vez consecutiva, o título mundial.
Um ano depois, os dois atletas estiveram cara a cara novamente, dessa vez, na final de Jeffreys Bay, na África do Sul. Aqui, o havaiano tinha conseguido 'arrancar' do júri pontuações de 8,33 e 8,23, deixando o surfista da Flórida a precisar de um 9,23 para reverter o resultado.
Foi então que no último minuto, Slater pegou a melhor onda. O surfista norte-americano conseguiu fazer quatro manobras com sucesso e acabou por ver um 9,5, vencendo Andy na final. A partir de então, Kelly entrou numa onda ascendente e conquistou o campeonato de 2005.
A declaração de amizade (falsa) que Slater tinha feito a Irons em 2003 foi-se transformando em realidade. A relação entre os dois surfistas ia ficando mais forte até se tornarem grandes amigos. Gravaram um filme juntos - A Fly in the Champagne - em que contavam um pouco sobre as viagens que fizeram juntos.
Em 2010, Andy Irons acabou por morrer. Tinha apenas 32 anos. O surfista foi encontrado sozinho num quarto de hotel em Dallas, nos EUA, vítima de uma paragem cardíaca provocada pela ingestão abusiva de drogas. Foram feitas muitas homenagens ao havaiano. Kelly sofreu muito com a perda do amigo e eterno rival.
Uma rivalidade para além do mar
No dia do funeral, Kelly disse que Andy foi um verdadeiro amigo e que resolveram as diferenças.
“Tive sorte de conhecê-lo e de ter passado tantos momentos com ele. Sinto-me abençoado por termos resolvido nossas diferenças. Aprendi do que sou sou feito e do que sou capaz por causa do Andy. Divertimo-nos muito, até em momentos com as nossas mulheres. Conheci um homem feliz, com sentido de humor, ingénuo e que estava feliz por passar todos os segundos com as pessoas que adorava. Hoje é um dia muito triste”, afirmou o surfista.
Lyndie Irons estava grávida de 8 meses do filho de Andy, Axel Irons.
A rivalidade entre Andy e Kelly entrou para a história do desporto e foi maior do que a vida.
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