A polémica provocada pela concentração de público na Nazaré, na semana passada, durante uma sessão de surf em ondas gigantes, em plena pandemia, não pode prejudicar a modalidade, considerou hoje João Aranha, presidente da Federação Portuguesa de Surf (FPS).
"Acredito firmemente que as autoridades vão ter a consciência que não foram os surfistas os responsáveis pelo que se passou. Vejo isto como no caso da Fórmula 1 em Portimão, em que as consequências para o MotoGP que ali se realizará não foi a proibição do mesmo, mas sim da assistência. Ainda não se falava de polémicas do género e a FPS já tinha planos de contingência e apelos para que não afluísse público às suas provas", assinalou em comunicado o responsável.
RECORDE AS IMAGENS DA ENCHENTE NA NAZARÉ QUE GEROU POLÉMICA
O dirigente da FPS destacou que se tratou de uma sessão de ‘free surf' e não um evento organizado, mas admitiu que está preocupado com "o impacto desta polémica e uma eventual nódoa que possa cair sobre o trabalho exemplar realizado pelos seus clubes, atletas, técnicos, juízes e, ao fim ao cabo, todos os seus agentes, na condução da época que terminou há cerca de 15 dias".
"A existir um impacto negativo, este será mínimo. Este pequeno incidente não será uma marca negativa na imagem do surf", acrescentou.
Ainda assim, João Aranha reconheceu que há "preocupação junto da comunidade surfista relativamente a propósito de uma eventual proibição do surf num futuro estado de emergência", mas o líder da FPS mantém o otimismo.
"Com base no que temos visto nas sucessivas deliberações do Conselho de Ministros, o desporto vai continuar a ser protegido. Temos mantido contactos com o secretário de Estado da Juventude e Desporto e ele tem sido incansável na salvaguarda do surfing", sublinhou.
Segundo o líder da FPS, o circuito português de surf "foi exemplar e não será prejudicado num agravamento de medidas".
Em causa esteve a concentração de milhares de pessoas junto ao Farol de S. Miguel Arcanjo e nas arribas junto à Praia do Norte, depois de, nos últimos dias, ter sido divulgada pela comunicação social e nas redes sociais a possibilidade de na quarta e na quinta-feira se formarem ondas gigantes.
À semelhança do que tem acontecido nos últimos anos, a presença de surfistas portugueses e internacionais atraiu ao local milhares de pessoas que se aglomeraram, pondo em causa, por uma lado a segurança individual, dada a perigosidade das arribas, e, por outro, o cumprimento das normas de contenção da pandemia da covid-19.
Como consequência, a Capitania do Porto da Nazaré decidiu interditar a Praia do Norte, na Nazaré, a qualquer atividade de surf, com base num parecer negativo das autoridades de saúde, alegando perigo para a saúde pública.
No despacho o Capitão do Porto, Zeferino Henriques, interdita as atividades de Free Surf e Tow-in Surfing, sustentando a proibição num parecer do Delegado de Saúde Regional da Administração Regional de Lisboa e Vale do Tejo, devido "à promoção da aglomeração de público, que constitui um risco acrescido para a saúde pública", no atual contexto de pandemia da covid-19.
Em resposta, a câmara da Nazaré solicitou uma reunião urgente à Direção Geral da Saúde (DGS) para apresentar um Plano de Contingência que permita retomar o surf na Praia do Norte.
O período de espera do Nazaré Tow Surfing Challenge, evento da Liga Mundial de Surf (WSL), disputado no ‘canhão' da Nazaré, começou na segunda-feira (02 de novembro), estendendo-se até 31 de março de 2021.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,2 milhões de mortos em mais de 48,7 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 2.792 pessoas dos 166.900 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
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