A jovem nadadora medalhada Rafaela Azevedo, do Algés e Dafundo, recuperou da COVID-19 sem notar mais do que uma mera “constipação” e, no regresso à piscina, sentiu-se melhor do que o esperado, apesar ter acusado algum cansaço.
“Somos cinco em casa e os meus pais e a outra irmã já estavam negativos quando fizemos o teste, presumindo que chegaram mesmo a ter o vírus. O único contacto que havia era quando precisávamos de comida. De resto, ficávamos apenas pelo nosso quarto e almoçávamos as duas sozinhas”, partilhou à agência Lusa a recordista nacional dos 50 e 100 metros costas, integrada no lote dos 7.705 recuperados em Portugal.
Rafaela Azevedo, de 18 anos, sentiu-se “algo entupida e com algumas dores de cabeça” no final de março, mas, como “nunca teve febre”, optou por deixar pendente a realização do teste de despistagem ao novo coronavírus, ao contrário da irmã Madalena, que reparou na infeção de uma colega de faculdade e detetou a COVID-19 em 03 de abril.
“Como ela deu positivo, calculámos logo que também devíamos ter o vírus, pois todos apresentavam sintomas ligeiros. Marcámos os testes e fui a única a acusar positivo no dia 17, mas não senti grandes receios. Isto não passou de uma constipação e só tomei ibuprofeno uma ou duas vezes por causa das dores de cabeça”, contou.
A residir em Oeiras, as duas irmãs voltaram ao laboratório privado Joaquim Chaves em 02 de maio para repetirem os testes, confirmando a recuperação total e o fim de um período obrigatório de isolamento, repartido pela esperança olímpica da natação lusa entre “treinos físicos, estudos, televisão e novas experiências na cozinha”.
“Ainda por cima estava para chegar o Dia da Mãe quando recebemos a notícia. Era ela quem nos levava a comida e acabou por ser um alívio para todos”, salientou a medalha de bronze nos 100 metros costas dos Europeus de juniores de 2019, ano em que terminou a final dos 50 costas nos Mundiais da mesma categoria na sétima posição.
Os atletas profissionais e de alto rendimento beneficiaram de um regime de exceção para treinaram durante o estado de emergência, que vigorou entre 19 de março e 02 de maio, uma hipótese muitas vezes impossível para os nadadores pelo encerramento das piscinas, e finalmente atenuada com a reabertura do Centro de Alto Rendimento do Jamor, em 12 de maio.
“Senti-me melhor do que esperava, tendo em conta que parei dois meses e já não estava afastada da água assim há muito tempo. Claro que me senti cansada, mas não sei até que ponto foi da retoma e não de ter sido infetada. Depois da ‘constipação’, tentei treinar em casa, mas notei cansaço muscular e parei quase três semanas”, observou.
Rafaela Azevedo acompanhou o regresso desfasado e condicionado às piscinas dos compatriotas Alexis Santos, Miguel Nascimento, João Vital e Victoria Kaminskaya, que evoluem nas instalações localizadas em Oeiras e integram o projeto olímpico para Tóquio2020, cuja realização foi prorrogada para o verão do próximo ano.
“Sou um dos casos em que o adiamento dos Jogos até foi positivo e não me deixou nada triste. Vou ter mais um ano de treino e a probabilidade de ser apurada será maior”, assumiu umas das principais promessas nacionais, que precisa de obter a marca mínima de 01.00,25 minutos para competir nos 100 metros costas em solo japonês.
A transposição dos Europeus de natação pura para maio de 2021 e dos Mundiais de piscina curta para dezembro do mesmo ano intensificou a inexistência de provas no horizonte imediato dos atletas portugueses, antecipando o desfecho de “uma boa época em todas as vertentes” para a jovem do eclético Algés e Dafundo.
“Em piscina curta, bati recordes nacionais nos 50 e 100 metros costas. Na única prova em piscina longa, fiquei muito perto da marca pessoal nos 100 costas e consegui melhorar a minha fasquia nos 50. É um bocadinho difícil manter o foco agora, mas continuo a ter objetivos para a próxima temporada e são coisas que quero muito alcançar”, apontou.
À cabeça surge a estreia nos Jogos Olímpicos, a disputar entre 23 de julho e 08 de agosto de 2021 em Tóquio, onde estarão Alexis Santos e Gabriel Lopes (200 metros estilos), Diana Durães e Tamila Holub (1.500 livres) e Ana Catarina Monteiro (200 mariposa), embora a meta mais palpável a breve trecho seja a conclusão do ensino secundário.
“Ter aulas ‘online’ é um desafio. As plataformas falham às vezes e é mais difícil estarmos concentrados, porque há muito movimento à nossa volta. Depois estou a ter três horas seguidas da mesma disciplina e torna-se um pouco cansativo, sobretudo nesta fase de muito calor e quando já não tínhamos aulas presenciais há muito tempo”, avaliou.
Aluna do 12.º ano na área de Ciências e Tecnologias, Rafaela Azevedo depende do desempenho nos exames nacionais de Matemática e Física e Química para poder escolher o curso universitário que irá abraçar, após ter sido estimulada a ultrapassar com a irmã, a também nadadora Madalena, obstáculos de natureza virulenta e origem desconhecida.
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