A Portinado solicitou duas mensalidades extraordinárias aos 500 associados e nadadores para regularizar dois salários consecutivos de 20 funcionários efetivos, colocados desde março no regime simplificado de 'lay-off' criado pelo Governo durante a pandemia de COVID-19.
“São ordenados numa média de 800 euros. Pedimos cinco euros aos alunos da escola e o dobro na vertente da competição, num apelo para conseguirmos manter o clube de pé, porque não sabemos quanto tempo irá durar esta situação. O Estado comparticipa dois terços, mas as nossas reservas são muito poucas e não temos capacidade de assegurar o remanescente do vencimento”, contou à agência Lusa o vice-presidente Paulo Costa.
Os algarvios deixaram de exercer atividades presenciais há quase dois meses, já que a declaração do estado de emergência em 19 de março ditou o encerramento global das piscinas, salvo as destinadas aos atletas de alto rendimento, conduzindo os 220 federados de natação e polo aquático à execução de treinos individuais à distância.
“Nem todos os sócios corresponderam ao nosso pedido, mas alguns já tinham pagado o mês de março, apesar de só ter havido uma semana de atividade, e disseram-nos para encarar esse valor excedente como comparticipação solidária. De resto, nada temos a dizer em relação ao ‘lay-off’, porque foi tudo bem feito da parte do Estado”, vincou.
Entre os 20 funcionários com contrato suspenso ou redução temporária do período laboral estão treinadores e restante pessoal de apoio da Portinado - Associação de Natação de Portimão, que aguarda pela reabertura das piscinas, excluída do plano de desconfinamento aprovado pelo Governo, para recuperar com “relativa rapidez”.
“Existem alguns planos apresentados pela Federação Portuguesa de Natação para a reabertura das piscinas, mas com protocolos muito exigentes, que de forma nenhuma são compatíveis com um espaço de utilização tão reduzida. Tudo irá depender de quanto tempo nos mantivermos privados de usar as instalações”, analisou Paulo Costa.
Consciente de que o verão “traz sempre algum abrandamento da procura das piscinas”, o fundador, diretor-técnico e treinador do emblema de Portimão garante uma estrutura preparada para voltar ao ativo até julho, sob pena de desfazer-se do orçamento anual fixado entre 250 e 260 mil euros e incorrer numa “situação extrema de insolvência”.
“Crise é sempre crise e nós dependemos muito da situação financeira das famílias. Na última crise, houve muita gente que deixou de procurar a piscina e sentimos uma diminuição enorme do número de alunos. Se antes tínhamos uma família completa, os pais deixaram de ir para ficarem só os filhos”, ilustrou.
Rosto inconfundível do desenvolvimento dos algarvios, Paulo Costa teme que a Portinado reviva os “anos horríveis” assinalados pela intervenção da ‘troika’ em Portugal, nos quais esteve na “iminência de fechar a porta”, após ter atravessado uma fase dourada no polo aquático entre 2009 e 2012, com um tricampeonato, uma Taça e duas Supertaças.
“Não houve despedimentos. Por sorte tivemos muitos funcionários que aproveitaram aquela vaga de emigrações para apostar noutros sítios. A saída deles foi uma benesse para nós, porque de outra forma não teríamos sequer a possibilidade de continuar com a porta aberta. Essa crise ainda demorou algum tempo e a recuperação foi lenta”, recordou.
Vários patrocinadores locais desinvestiram e o projeto reergueu-se com um orçamento mais contido, debruçado em recuperar brilho na natação artística, sincronizada e pura, na qual deram cartas o ex-velocista Alexandre Agostinho, recordista dos 100 metros livres, e Miguel Nascimento, hoje no Benfica e com marcas nacionais dos 50 aos 400 livres.
Ao abandonar a elite nacional do polo aquático, a Portinado uniu esforços em prol de uma escola de natação com 1.200 alunos nos diversos níveis de ensino e lazer, numa aposta contemplada com o grau de excelência concedido pelo organismo federativo em outubro de 2019, ano que distinguiu Portimão como Cidade Europeia do Desporto.
A ambição dos pupilos de Paulo Costa ganha asas à boleia da Câmara Municipal de Portimão, que subsidiou esta temporada com 20 mil euros e gere a piscina em conjunto com o clube desde 2001, tendo surgido há dois anos um projeto de requalificação, com vista à criação de um tanque adicional, um ginásio, dois balneários e áreas de serviços.
“Seria uma obra para fazermos durante um ano, sem pôr em causa o funcionamento da própria piscina. Não tínhamos uma data fixada, mas havia alguma recetividade. Nesta fase, as coisas estão em ‘stand-by' e, face às despesas acrescidas que a autarquia também terá com a pandemia, não sei que condições haverá para iniciarmos”, admitiu.
Ao dotar as Piscinas Municipais de Portimão de novas valências “modernas e funcionais”, comparticipadas pela edilidade, a Portinado pretende atenuar o desígnio de “clube que toda a vida lutou para sobreviver” rumo à desejada fasquia dos 2.000 atletas.
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