“Não sabia que era a única. Tem significado, claro que é incrível poder dar a Portugal duas medalhas de ouro, mostrar o meu trabalho. É incrível, não sei dizer outra palavra”, explicou, ainda a ‘pingar’ de nadar a última prova da natação em Oran2022.

A jovem de 19 anos nadou a distância em 1.01,34 minutos, 27 centésimos mais rápido do que a italiana Carlotta Costa, segunda, e 64 em relação ao bronze, da espanhola Carmen Sastre.

A recordista nacional da distância já havia vencido os 200 costas e deu à natação o nono pódio, o melhor registo das modalidades com medalhas portuguesas em Oran2022, que já tem um melhor pecúlio (25) do que Tarragona2018 (24), quando Portugal se estreou com 221 atletas, contra 159 desta feita.

No discurso da jovem do Louzan, a palavra “incrível” sai uma e outra vez, ainda “a tremer da prova e com os ânimos todos em cima”.

Em cima é como tem estado desde abril, ao bater vários recordes nacionais, a que agora lhe junta dois ouros numa competição internacional, um “alto” que, altera, pode ser seguido por “um baixo”.

“Estou com os pés na terra, tenho dois treinadores incríveis que me sabem colocar no lugar, como os meus pais, e é realmente passo a passo, não vou pensar no auge, é passo a passo. Comecei a época a querer mínimo para o Europeu, já fiz mínimo para entrar no projeto olímpico, estou com grandes tempos, e é continuar o trabalho até conseguir melhor”, afirma.

Como já aprendeu “bastante com os baixos”, também afirma ter uma capacidade maior de “gerir bastante bem a pressão”. “Sinto que dei aquele salto que era necessário para que a pressão não nos envolva a nós, e trabalhar com pressão positiva e não negativa”.

Quer fazer “o melhor” nos Europeus de Roma, em agosto, e no próximo ano fazer “metade das cadeiras” do curso de medicina, depois de fazer “quase todas” neste primeiro ano no curso.

“Claro que agora a natação vai estar em primeiro lugar, no próximo ano muito provavelmente vou fazer metade das cadeiras, vou gerindo todo o esforço, porque foi muito puxado ter feito quase todas as cadeiras e treinar 13, 12 vezes por semana”, descreve.

No “clube incrível” do Louzan “desde pequenina”, com apoios “em tudo” e a todos os níveis, conta, vê também a natação portuguesa como um todo “no caminho certo” para melhores resultados. “A equipa de Portugal está incrível”, volta a afirmar.

O sucesso na Argélia “tem a ver com a atitude e trabalho de cada um”, que, sem surpresa, considera que “tem sido incrível”.

Pouco antes, Raquel Pereira, de 22 anos, cumpriu os 200 metros bruços em 2.28,35 minutos, sendo apenas batida pela turca Viktoria Gunes, primeira com 2.26,48, e pela espanhola Marina García, segunda com 2.27,32, para arrecadar a medalha de bronze.

“Honestamente, eu sabia que era possível, e como tinha ficado em quinto na última edição [Tarragona2018], sabia que tinha altas probabilidades de atingir o terceiro lugar, mas acho que a primeira medalha, assim a este nível, nunca se vai esquecer. Estou muito contente”, diz.

Este resultado “era o que precisava para continuar motivada”, revela. “Já há algum tempo que não me sentia feliz na natação, ou [tão feliz] como já me senti. Esta medalha é mesmo muito especial”, reforça.

Uma coisa que “faltava mesmo muito à seleção” de natação foi o que a jovem encontrou em Oran: “mais espírito de grupo”.

Para a frente, o recorde nacional é um objetivo, assim como o arranque do mestrado em gestão.

Noutros resultados do dia de despedida da natação, e penúltimo de Oran2022, nos 400 metros livres, Tamila Holub foi quinta, com 4.14,25 minutos, e Francisca Martins oitava, com 4.24,14, e a estafeta feminina (Francisca Martins, Ana Pinho Rodrigues, Mariana Cunha e Camila Rebelo), terminou em sétimo nos 4x100 metros livres.

Nos 100 metros mariposa, Diogo Ribeiro (nono) e Miguel Nascimento (12.º) falharam a final, o mesmo destino de Gabriel Lopes, nono nos 200 livres, e de Francisco Quintas (10.º) e de novo Lopes (11.º) nos 100 bruços.

Ao todo, Portugal conquistou já 25 medalhas, somando os ouros de Leandro Ramos, João Coelho, Cátia Azevedo, Diogo Ribeiro, Camila Rebelo (por duas vezes) e Rafael Reis, à prata de Ana Pinho Rodrigues, Maria Inês Barros, Ana Catarina Monteiro, Diogo Ribeiro, Miguel Nascimento, Daniela Campos, Jieni Shao, Lorène Bazolo, Liliana Cá e da equipa masculina de ténis de mesa, e os bronzes de Raquel Pereira, Rafaela Azevedo, Lorène Bazolo, Evelise Veiga, Filipa Martins, Tiago Pereira, João Geraldo e da equipa feminina do ténis de mesa.

Os Jogos do Mediterrâneo Oran2022 arrancaram em 25 de junho e decorrem até quarta-feira, com mais de três mil atletas de 26 países diferentes, incluindo 159 portugueses em 20 disciplinas.