Numa altura em que carros e as motas começam a ser adaptados aos novos desafios do dia-a-dia, o Rali Dakar, muitas vezes criticado pela poluição que gera, tenta dar os primeiros passos para se tornar numa prova mais ecológica.
Para Anne Lassman-Trappier, chefe de mobilidade da associação France Nature Environments (FNE), o Dakar é uma corrida "estagnada". "Ainda interessa a algumas pessoas, mas não se move mais no sentido da história", atirou.
"Quando temos um desporto motorizado, sabemos muito bem que não acompanhamos os tempos. Temos 350 veículos na estrada todos os dias e isso representa alguma coisa, mas estamos a trabalhar", disse David Castera, o novo patrão do Rali Dakar.
Mas, como sinal dos novos tempos, o famoso rali tenta mostrar a sua vontade de se tornar 'verde', à imagem de outros desportos motorizados.
As experiências com um SUV elétrico
Há vários anos, a organização do Dakar lançou um programa de compensação de carbono na Amazónia. A prova também serve como laboratório para novos veículos.
Em 2017, um carro 100 por cento elétrico conseguiu terminar a corrida pela primeira vez após duas falhas nos anos anteriores. O veículo, patrocinado pela Acciona, gigante espanhola de energias renováveis, terminou em 52.º lugar, a 82 horas, 31 minutos e 48 segundos do vencedor, Stéphane Peterhansel.
Este ano, para a 42.ª edição da prova que está a decorrer na Arábia Saudita, um camião híbrido faz a sua estreia na competição. Após cinco etapas, a equipa Riwald é penúltima.
"O sistema elétrico do camião é carregado durante a condução, e por isso não há necessidade de um gerador ou de um carregador. A bateria é simplesmente carregada pelo processo interno do camião", explica o piloto holandês Gert Huzink.
Paralelamente à corrida, um SUV elétrico (veículo utilitário desportivo) completa as etapas, com Guerlain Chicherit ao volante, ele que tem nove Dakars no seu currículo.
"Hoje enfrentamos realidades, o automobilismo deve avaliar todas as situações. É preciso aceitar que as coisas mudam, viver de acordo com o tempo atual", disse o piloto francês.
Com uma bateria de 60 kWh e dois motores elétricos, o Odyssey 21 atinge uma velocidade máxima de 200 km/h e vai de 0 a 100 em 4,5 segundos, fazendo muito pouco barulho.
'Devolver o sentido ao Dakar'
"É muito surpreendente. Nos desportos motorizados, há um um certo tabu sobre o barulho, mas depois de ter corrido uma semana no deserto com um carro que não faz barulho, posso dizer que é muito melhor", explica Guerlain Chicherit.
O experiência poderá levar a uma participação com um veículo de competição no próximo ano. O problema, neste momento, é que uma bateria tem apenas 50 km de autonomia.
"A ambição é poder estar presente em 2023 ou 2024, somos realistas. Mas é preciso começar em 2021", acrescentou. Podemos vir a ter um Dakar 100 por cento elétrico? "Vai acontecer, tenho certeza", diz Theophile Cousin, um engenheiro que dirige o projeto.
Para Lassman-Trappier, essas iniciativas, se forem generalizadas, "podem dar sentido ao Dakar".
"Se mudarmos completamente o tipo de corrida e favorecermos os veículos sem energia fóssil, competindo no deserto, vai fazer muito mais sentido", disse ele.
A pergunta agora é se os organizadores ouviram a mensagem. Eles dizem que "num período de dez anos" haverá uma categoria de camiões 100 cento híbridos e dão a entender que o carro elétrico "poderá levar a criação de uma nova categoria" no Dakar.
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