A transição para a mobilidade elétrica está em curso e é irreversível no desporto automóvel e motociclístico, mas serão precisos “alguns anos” para ter verdadeira expressão, acreditam os responsáveis das federações de automobilismo e motociclismo.
O presidente da Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting (FPMK), Ni Amorim, sublinhou que a transição “já está a ser feita” e que “desde há três ou quatro anos” que há corridas automóveis com carros cem por cento movidos a energia elétrica, nas quais participam “construtores importantíssimos como a AUDI, a Porsche, a Jaguar”, havendo a indicação que “mais marcas vão entrar também em 2018”.
“Há construtores que estão a abandonar competições de motores convencionais para se dedicarem única e exclusivamente aos motores elétricos (…) Já há mesmo um campeonato FIA [Federação Internacional do Automóvel], que teve o apoio dos construtores, que é a Fórmula E, que já é um patamar acima por serem 100 por cento elétricos”, disse, em declarações à agência Lusa.
De resto, o antigo piloto referiu que na ´World Endurance Championship´ os carros híbridos, alimentados simultaneamente por motores de combustão e elétricos, são já os vencedores, nomeadamente em Le Mans.
“A FIA, entidade que regula o desporto automóvel mundial, está muito atenta a essa transição e evidentemente está articulada com os construtores. E nós sabemos que há grupos de construtores que têm como meta que, dentro de seis anos, 25 por cento da sua produção seja de carros elétricos”, comentou.
Em Portugal, existirá em 2018 “um rali só com carros elétricos em julho”, uma prova internacional FIA que terá a designação “Eco Rali Portugal”.
Manuel Marinheiro, presidente da Federação de Motociclismo de Portugal (FMP), também apontou a circunstância de já existirem “experiências no trial e na velocidade” em termos de mobilidade elétrica, embora atualmente apenas “nas classes mais jovens”.
“Cá em Portugal ainda não temos corridas com elétrico, até porque não está suficientemente desenvolvido”, indicou.
“O elétrico será o futuro. Eu pessoalmente espero que continue a haver corridas de motores a combustão, quanto mais não seja de clássicos e com o devido enquadramento ambiental. Mas, naturalmente, os motores elétricos serão o futuro também na área desportiva”, afirmou.
O presidente da FPMK alertou, no entanto, para “o problema da produção de energia para abastecer todos os carros elétricos”, comerciais e de competição, que chegarão ao mercado e às pistas nos próximos anos.
“Como é que ela vai ser feita? Através de centrais nucleares? É uma hipótese. Mas quais os países que vão aceitar fazerem centrais nucleares? Depois, é preciso fazer chegar de forma eficiente a energia para carregar os carros. Esta cadeia de produção tem de ser atualizada, não é só produzir carros elétricos”, advertiu.
No plano desportivo, a transição far-se-á “devagarinho”, previu Ni Amorim.
“Tem de se esperar para ver. Temos de andar em paralelo com o que acontece no mundo real dos veículos comerciais. Não podemos ir mais à frente nem mais atrás. Os carros elétricos já avançaram muito, agora está um bocadinho estagnado, ainda que hajam construtores que assumiram a meta de produção de 25 por cento de carros 100 por cento elétricos”, indicou.
Também o presidente da FMP revelou cautela em apontar previsões para a transição, antevendo que, em qualquer caso, “demorará alguns anos”, embora “não muitos”, já que “hoje em dia os ciclos são cada vez mais rápidos”.
Quanto ao formato das corridas, Manuel Marinheiro previu que “não haverá diferenças”, cabendo aos vários intervenientes “tudo fazer com que o interesse se mantenha”.
“Nós habituámo-nos a ter o barulho das motas e o cheiro da combustão. Mas o ambiente é mais importante do que isso e temos de nos adaptar a essa realidade”, disse.
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