No dia em que começa o Grande Prémio de Portugal em Portimão, fazemos uma viagem no tempo e recordamos 10 grandes prémios realizados em território nacional que se destacam na história da F1 em Portugal.
Das vitórias de Moss, à intempérie que 'abençoou' a vitória de Senna, passando pelos recordes de Prost e Mansell e pelos incidentes que as bancadas do Estoril viram, acompanhe-nos nesta viagem.
1958 - A vitória e o fair-play de Moss
O primeiro Grande Prémio de Portugal de Fórmula 1 realizou-se bem mais a norte que o de 2020. A 24 de agosto de 1958, o circuito da Boavista, no Porto, recebia pela primeira vez o campeonato mundial de Fórmula 1. A nona prova do campeonato desse ano acontecia uma pista difícil, cruzada por linhas de elétrico, com piso empedrado e nela correram nomes como Stirling Moss, Jack Brabham e Maria Teresa de Filippis, a primeira mulher a pilotar um carro de Fórmula 1.
Com Mike Hawthorn (Ferrari) e Stirling Moss (Vanwall) a lutar pelo título, Moss levou a melhor e venceu na Boavista, numa prova que ficou marcada pelo ato de fair-play do vencedor para com o seu rival: Hawthorn foi punido pelos comissários de prova por ter feito uma marcha atrás na pista - algo que era proibido e que levava a sua desclassificação -, depois de um problema com o seu carro, mas Moss saiu em sua defesa, testemunhando que o piloto da Ferrari não tinha cometido nenhuma ilegalidade, permitindo assim que Hawthorn mantivesse os pontos conquistados que acabaram por se revelar fundamentais na sua conquista do título de campeão mundial nesse ano. Um ato de classe do piloto britânico, que acabaria por vencer de novo no ano seguinte.
1959 - A estreia em Monsanto
No ano seguinte, o Grande Prémio de Portugal rumou à capital. O circuito de Monsanto recebia pela primeira e única vez na história uma prova do campeonato mundial de Fórmula 1. Com passagens pelo Alvito e pela aquela que é agora conhecida por A5, a prova de 66 voltas foi conquistada por Sterling Moss, ao volante de um Cooper-Clímax. O britânico venceu pela segunda vez em Portugal, um recorde de vitórias que perdurou até aos anos 80.
O GP Portugal de 1959 ficou ainda marcado pela presença, pela primeira vez, de um piloto português numa prova de Fórmula 1: Nicha Cabral estreou-se em Monsanto, ao volante de um Cooper Maserati, com o qual concluiu a prova em 10.º e último lugar.
1984 - O regresso e o meio ponto
Depois da Boavista voltar a receber a Fórmula 1 em 1960, Portugal voltou a ficar arredado da modalidade por mais 24 anos. O regresso aconteceu em agosto de 1984, com a estreia do Autódromo do Estoril, local onde o GP Portugal se iria manter até 1996.
A prova portuguesa era a última de um campeonato que estava a ser disputado mano-a-mano. A McLaren tinha os seus dois pilotos a lutar pelo título: Niki Lauda e Alain Prost. O piloto francês precisava de vencer a prova e esperar que o seu colega de equipa ficasse abaixo do 2.º lugar. Prost fez a sua parte, mas Lauda ocupou o segundo lugar no pódio carimbando o seu terceiro e último título de campeão de F1 por meio ponto de vantagem sobre o piloto francês que somava a sua primeira vitória no Estoril. O pódio ficou completo com um jovem brasileiro, de seu nome Ayrton Senna, que realizava a sua época de estreia na F1, no ano seguinte voltaria a estar ali, mas um pouco mais acima.
1985 - A 1.ª vitória de Senna
A história da Fórmula 1 não se pode escrever sem se falar de Ayrton Senna, considerado um dos pilotos mais lendários que já passaram pela competição. Quis o destino que a história de Senna na F1 também guardasse um lugar especial para o Autódromo do Estoril.
A 21 de abril de 1985, debaixo de uma 'carga de água', Senna, ao volante de um Lotus-Renault, saia da 'pole position' e ia 'passando pelos pingos da chuva' que iam provocando despistes atrás de despistes. Numa demonstração das suas capacidades, o piloto brasileiro manteve os nervos de aço e levou o seu carro ao fim da prova, vencendo o primeiro Grande Prémio da sua carreira com mais de um minuto de vantagem sobre Alboreto que foi segundo, e com uma volta de avanço face a todos os outros que conseguiram completar a prova: os 26 que partiram, só nove cruzaram a linha de meta. Era o início da lenda de Senna.
1988 - O recorde de Prost
O GP Portugal de 1988 viu Alain Prost estabelecer-se com o piloto que mais vezes ganhou a prova portuguesa. Depois de vitórias em 1984 e 1987, o francês da McLaren lutava com Senna, companheiro de equipa, pela liderança do campeonato mundial. O brasileiro teve uma melhor partida na prova, mas acabou ultrapassado por Prost na reta da meta, apesar de Senna quase encostar o brasileiro à barreira.
No final, Prost acabou por somar a sua terceira vitória no GP Portugal, um recorde que permanece até ao dia de hoje, igualado anos mais tarde por Mansell. Senna acabou na sexta posição, mas acabou por se sagrar campeão no final da época.
1989 - A marcha-atrás e a primeira vitória da Ferrari em Portugal
Uma ida à 'boxes' pode mudar tudo numa corrida de Fórmula 1, isso é tão verdade hoje como era há 31 anos que o diga Nigel Mansell. O britânico, que já tinha vencido no Estoril em 1986, liderava a prova, até que teve de ir ao 'pit' para trocar de pneus.
Mansell entrou nas 'boxes' mas falhou o seu lugar, parando uns metros mais à frente. Aí decide utilizar a marcha atrás do carro para regressar ao sítio, o problema? Isso era expressamente proibido pelos regulamentos - já os mecânicos empurrarem o carro era legal - e Mansell acabou por ver a 'bandeira preta' de desclassificação... ou melhor, devia de ter visto.
Isto porque o britânico ignorou as tentativas de ser avisado para a sua saída da corrida e ainda tentou ultrapassar Senna, que ainda lutava pelo campeonato. A manobra correu muito mal, levando os dois pilotos a despistarem-se e a ficarem fora da corrida. Senna disse adeus ao título e Mansell ficou de fora do GP seguinte devido aos incidentes daquela tarde em Portugal.
1991- E tudo o pneu tirou
O GP Portugal corria de feição a Nigel Mansell que com Patrese ocupava os dois primeiros lugares da corrida com os Williams, com o britanico a seguir na liderança da prova, um resultado que poderia reduzir o foço entre Mansell (2.º) e Senna (1.º) na liderança do campeonato mundial. Tudo corria bem até à 51.ª volta, quando o piloto da Williams fez a sua única paragem nas 'boxes'.
Em menos de oito segundos, Mansell ficou despachado dos pneus, mas acabou despachado pelo traseiro direito, que ficou mal preso e acabou por sair disparado do carro e 'atropelar' membros de outras equipas ainda no 'pit lane'. Os mecânicos da Williams resolveram a situação no local 'a la' desenrasca', mas várias alíneas dos regulamentos foram quebradas nesse momento e Mansell acabou por ser eliminado da prova. No final, foi Patrese a vencer o GP Portugal de 1992, Senna foi segundo e Alesi terceiro.
1992 - O voo de Patrese
O Grande Prémio de 1992 ficou na memória pelo acidente que envolveu Berger e Patrese. O piloto austríaco preparava-se para entrar no acesso às 'boxes' e Patrese, que seguia na sua roda, não se apercebeu da manobra do piloto da McLaren a tempo e quando se tentou desviar acabou por bater com o pneu frontal direito no traseiro esquerdo de Berger e o italiano acabou a voar na pista, quase atingindo uma ponte pedonal. Felizmente, Patrese não sofreu nenhum ferimento, mas os destroços do acidente acabaram por causar furos em vários carros.
No final, Mansell acabou vencedor do Grande Prémio de Portugal pela terceira vez, igualando o recorde de Alain Prost. que perdura até hoje. Os carros da McLaren completaram o pódio com Berger em 2.º e Senna em 3.º.
1993 - A vitória de Schumacher
A edição de 1992 começou a dar de que falar ainda antes da corrida de domingo: na sexta-feira, Alain Prost com Frank Willams, chefe da 'Williams', ao lado, anunciava em conferência de imprensa a sua retirada da Fórmula 1, numa altura em que o seu quarto campeonato estava praticamente garantido.
A corrida de domingo viu dois grandes incidentes, com Hakkinen (que ia mudar-se para a McLaren no ano seguinte) a embater nas proteções na volta 33 e com Berger, num incidente insólito, quando após sair da pit lane tem uma falha na suspensão que o atira diretamente contra a parede do outro lado da pista.
No final, um jovem alemão levou a melhor sobre os grandes nomes da competição na altura: Michael Schumacher, que fazia a sua terceira temporada ( a segunda completa) na F1 somava a sua segunda vitória da carreira e a primeira e única em Portugal. Prost foi segundo e campeão mundial e Damon Hill completou o pódio.
1996 - A vitória de Villeneuve na despedida de Portugal
Não era o planeado, mas o Grande Prémio de Portugal de 1996 acabou por ser o último em 24 anos. Apesar do atraso na partida, o canadiano Jacques Villeneuve conseguiu ultrapassar Schumacher, numa brilhante ultrapassagem na Parabólica e passar para o 2.º lugar da corrida, atrás de Damon Hill, colega de equipa na Williams e com o qual mantinha um duelo pelo título de campeão mundial, à penúltima prova do mundial de F1.
Com uma paragem de Hill para reabastecer, Villeneuve aproveitou para se lançar na frente e não mais largou, sagrando-se vencedor do último Grande Prémio de Portugal em 24 anos.
O próximo capitulo desta história começa-se a escrever esta sexta-feira, num novo palco: o Autódromo Internacional do Algarve, em Portimão.
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