Numa zona central do pavilhão daquela unidade de saúde, Beatriz Monteiro, jogadora de badminton que esteve nos Jogos Paralímpicos Paris2024, vai iniciando um utente do Rovisco Pais, tetraplégico e que sofreu um traumatismo craniano, na modalidade. Este, sentado numa cadeira de rodas, utiliza um balão de ar como bola, em vez do volante usado no badminton, uma das estratégias utilizadas para facilitar a participação de pessoas com deficiência.

“É extremamente importante estarmos aqui hoje, porque é mais uma ação de divulgação da nossa modalidade e de outro tipo de modalidades e onde pessoas que tenham algum tipo de deficiência podem praticar modalidades desportivas que são inclusivas”, disse aos jornalistas Beatriz Monteiro.

Um dos objetivos do Dia Paralímpico realizado hoje no Rovisco Pais, comemorativo do Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, e que reuniu sete modalidades [atletismo, badminton, boccia, canoagem, ciclismo, ténis de mesa e tiro] é que os participantes possam ganhar o gosto pelo desporto paralímpico e até vir a integrar competições, no futuro.

Em maio de 2023, Luís Lopes, de 54 anos, teve um grave acidente de moto, partiu a bacia, sofreu lesões na medula, esteve em coma três meses e acabou internado sete meses no centro de reabilitação da Tocha. Depois da recuperação e da alta clínica, caminha apoiado por duas muletas e teve indicação para praticar algum desporto, surgindo-lhe hoje a canoagem como hipótese, após uma autorização do seu fisiatra.

“E até agora está a correr bem, estou cá para experimentar”, disse Luís Lopes à agência Lusa, assim que saiu de um equipamento que permite replicar a prática da canoagem fora de água, fazendo primordialmente uso dos braços.

Observando que pretende iniciar-se na prática da canoagem paralímpica no Centro Náutico de Montemor-o-Velho, a duas dezenas de quilómetros de Coimbra, onde reside, reconhecendo que, para praticar um novo desporto, “é preciso tempo e vontade”.

“E o que de mais importante nos dizem aqui [no hospital], adapta-te. Eu jogava futebol e corria, agora não posso, mas tenho os braços ainda para fazer força”, vincou Luís Lopes.

No outro extremo do pavilhão estava montada uma pequena carreira de tiro, onde, Abílio Esteves, antigo caçador que tem problemas ao nível dos membros superiores, quis experimentar, para perceber, com o nível de deficiência que tem, o que consegue fazer ao nível do desporto paralímpico.

“Antes tinha uma arma de caça e [o tiro paralímpico] é uma das coisas que me atraiu. Mas, com a minha deficiência nos membros superiores [concretamente nas mãos], vejo que não é a minha especialidade [desportiva]”, sorriu.

Depois de ter sido acolhido no Rovisco Pais, na sequência de um tumor cervical sofrido em 2016, cumpre agora o terceiro reinternamento de seis a oito semanas na unidade de saúde, o que sucede de dois em dois anos, agradeceu a experiência: “Mas houve sempre aquela sensação de voltar ao que estávamos antes das lesões, é sempre uma sensação agradável”.

Além do tiro, experimentou a canoagem e adorou e gostaria de a experimentar na água, embora, aqui, a limitação para o poder fazer regularmente derive da distância a cumprir, mais de 170 quilómetros entre o Centro Náutico de Montemor-o-Velho e Castelo Branco, onde reside.

Do lado dos profissionais de saúde, o fisioterapeuta João Soares ia ajudando utentes a praticarem ténis de mesa e destacou a importância da realização do Dia Paralímpico no Rovisco Pais, por o desporto ser “um grande complemento à reabilitação dos utentes, não só na componente física, mas também na componente emocional e motivacional”.

Uma ideia partilhada por João Ricardo Pereira, diretor do centro de reabilitação, que afirmou que na instituição os utentes fazem desporto no âmbito do seu plano terapêutico de reabilitação, mas o Rovisco Pais possui também uma equipa de andebol adaptado, sendo o único hospital do país a nível nacional a ter uma equipa federada a disputar o campeonato.

“Esta iniciativa é muito boa a vários níveis, porque podem praticar outros desportos e, além de quem pratica, também é muito importante para quem vê praticar. Quem sofre eventos traumáticos vê a sua vida mudar para sempre e o desporto dá-lhes força para a sua reabilitação ser mais efetiva”, argumentou João Ricardo Pereira.

Do lado da Unidade Local de Saúde (ULS) de Coimbra, onde o Rovisco Pais está integrado, Alexandre Lourenço, presidente do conselho de administração, destacou a alegria e o combate à desmotivação que o Dia Paralímpico representou.

“É uma enorme delícia e satisfação ver os utentes e atletas a praticar desporto e a ultrapassarem momentos difíceis. As pessoas ficam mais saudáveis, mais felizes, aqui no centro e é uma alegria contagiante, que se estende dos utentes aos próprios profissionais de saúde”, notou.