O que se faz quando se é um entusiasta do windsurf num país onde o mar congela durante meses?

Para um grupo de finlandeses, a resposta é equipas as pranchas com esquis e leva-las para o gelo, atingindo velocidades até aos 100 km por hora, num desporto emergente que só pode ser praticado em alguns locais do mundo.

"Eu chamo-lhes máquinas de felicidade", disse Feodor Gurvits à Agence Frence-Presse (AFP), apontnando para a sua prancha que assenta em três laminas e têm uma vela de windsurf.

"Elas fazem as pessoas sorrirem, é uma alegria, movimento puro", acrescentou.

"Boa aderência" precisa-se

Gurvits e cerca de meia dúzia de outros surfistas do gelo cruzam a extensão de gelo no Mar Báltico, ao largo da costa de Hernesaari, em Helsínquia, equipados com capacetes e proteção corporal para o caso das laminas deslizarem numa curva apertada.

"Vai-te magoar as mãos e tens de ter uma boa aderência na lança, mas de resto é muito fácil no gelo, comparado com o verão", disse Esa Harjula à AFP.

Harjula ensina regularmente o desporto a grupos de principiantes, e afirma que o interesse tem aumentado nas últimas semanas.

"É muito bom ver as pessoas a aprender, a forma como compreendem em poucos minutos", disse.

Com 30 centimetros de espessura, o gelo é forte o suficiente para aguentar com uma "pequena carrinha", diz Gurvits,  ainda que o sol quente e as temperaturas de 5º signifiquem que o gelo está a começar a derretar ao longo da costa.

Surfistas do gelo aceleram no mar gelado da Finlândia
Surfistas do gelo aceleram no mar gelado da Finlândia Surfistas do gelo aceleram no mar gelado da Finlândia (Photo by Sam KINGSLEY / AFP) créditos: AFP or licensors

"Aproveitem a sensação"

O surfista de gelo Mete Ciragan atingiu o recorde de velocidade deste dia, com 71,6km/h, com ventos fracos de 8 metros por seguundo.

"É uma sensação fantástica, às vezes esqueces-te de respirar", disse à AFP. "Mas tens de te concentrar na superfície para não bater num solavanco e cair".

"Com um vento mais leve consegues ir muito mais rápido que na água, porque não existe tanta resistência", acrescente Marianne Rautelin, ex-campeã mundial de windsurfing que também começou a surfar no gelo em 2009, tendo conquistado desde então vitórias em campeonatos de inverno.

Rautelin, que surfa regularmente com o marido Ian e a filha Riina, afirma que não consegues escolher um favorito entre gelo e água.

"O interessante no verão é que as ondas o tornam mais desafiante, mas no inverno consegues começar logo a correr", disse.

Gurvits estima que cerca de mil pessoas pratiquem windsurf no gelo, 20 por cento dos quais num nível de topo, principalmente nos países nordicos, bálticos, na Polónia, e também no Estados Unidos, Canadá e Rússia.

Em 2017, cumpriu o seu sonho de vencer o Mundial de Vela no gelo, mas afirma que ainda não é tempo de arrumar a prancha.

"A minha ambição é continuar a velejar, aproveitar a sensação, tentar arranjar melhor equipamento, ser mais competitivo e tentar manter os outros felizes".

Surfistas do gelo aceleram no mar gelado da Finlândia
Surfistas do gelo aceleram no mar gelado da Finlândia (Photo by Sam KINGSLEY / AFP) créditos: AFP or licensors