O presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP) disse hoje à Lusa esperar que a decisão da Agência Mundial Antidopagem, que suspendeu a Rússia durante quatro anos, seja “exemplar” e tenha efeitos dissuasores para casos futuros.
“Creio que é [uma decisão] exemplar, e gostaria de pensar que teria efeitos dissuasores sobre todos aqueles que continuam a não cumprir as regras nesta matéria. Oxalá o consiga”, realça José Manuel Constantino, questionado sobre a suspensão sobre a Rússia.
A Rússia foi excluída dos Jogos Olímpicos de 2020 e da fase final do Mundial de futebol do Qatar, em 2022, devido ao uso recorrente de substâncias dopantes por parte dos seus atletas, com o apoio estatal, num processo revelado há cerca de seis anos.
Ainda assim, aponta o dirigente, esta penalização desencadeia em si “sentimentos contraditórios”: por um lado, a tristeza de “um grande país desportivo ser abalado por uma decisão desta natureza” e, por outro, o facto de estar “satisfeito, porque é sinal de que as autoridades mundiais antidopagem funcionam e penalizam quem se coloca fora dos carris”.
Apesar de esta ser uma decisão já “previsível”, pelo que foi sendo tornado público desde a primeira denúncia, Constantino afirmou esperar ainda “a resposta do Comité Olímpico Internacional e também o provável recurso” da Rússia, para o Tribunal Arbitral do Desporto.
O dirigente desportivo alerta que “decisões destas não mancham apenas o país envolvido, contaminam todo o desporto”, e recorda como este caso veio ‘de dentro’, ou seja, a partir de uma denúncia “de dentro do sistema”, no caso do anterior chefe do laboratório antidopagem de Moscovo, Grigory Rodchenkov.
“Isto evidencia que os mecanismos de controlo e monitorização destes processos por si só não são suficientes para detetar as violações no domínio da dopagem. É admissível que outras situações da mesma natureza possam ocorrer noutros sistemas e noutros países e não se conheça, até à data, a sua verdadeira dimensão”, completou, lembrando o caso do antigo ciclista norte-americano Lance Armstrong, que perdeu ‘a posteriori’ as sete vitórias consecutivas na Volta a França.
Para o presidente do COP, há hoje no desporto mundial “um problema mais vasto” com o doping, até porque “os próprios sistemas de análise nem sempre são viáveis ou revelam o que existe”.
“A extensão deste problema está muito para além do que conhecemos dele, é muito mais profundo e está mais disseminado no mundo. [...] Esta situação abala-nos e incomoda-nos, mas estou convencido de que em outras situações há comportamentos similares”, afiançou.
Constantino pede melhorias no sistema de prevenção e educação junto de jovens atletas, bem como o conhecimento científico para avaliação e análise e um código penalizante “que permita castigar os prevaricadores, sendo certo que não é possível colocar um controlador atrás de cada atleta”, antes utilizar um sistema de seleção de fatores de risco “mais elevados”.
O dirigente lamenta ainda o “turbilhão e a tristeza de ter um país e conjunto de atletas” arredados da competição, mesmo que os atletas que comprovem não ter testado positivo possam participar sob a bandeira olímpica.
De acordo com um porta-voz da AMA, a decisão “tomada por unanimidade” determina a exclusão da Rússia dos Jogos Olímpicos Tóquio2020, de Inverno Pequim2022 e de todos os campeonatos do Mundo, e prevê a possibilidade de os atletas competirem sob bandeira neutra.
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