'Padel': se não conhece o termo então pergunte a alguém aí em casa ou no trabalho se sabem do que se trata; certamente deverá ter alguém no seu círculo mais próximo que esteja familiarizado com o termo, e outros até que sejam praticantes desta modalidade.

Um desporto relativamente desconhecido há cerca de dez anos, o Padel tem vindo a ganhar popularidade, não só em Portugal como um pouco por todo o mundo, a um ritmo quase tão elevado como algumas das fantásticas jogadas que proporciona.

As origens: Do México para o mundo...depois de uma sesta

A história aponta a origem do Padel para os anos 70 do século passado. O mexicano Enrique Corcuera, dono de uma refinaria de açucar em Guadalajara, queria construir um court de ténis na sua casa em Las Brisas, Acapulco; todavia o espaço disponível não era suficiente, pelo que foi obrigado a construir um campo de dimensões menores. Para piorar a situação, muitas bolas acabavam por sair do court e perder-se no meio da vegetação que o cercava.

Primeiro court de Padel
Primeiro court de Padel Foto: portaldopadel.com

Henrique De La Torre, amigo próximo de Corcuera, afirma que a solução para este problema surgiu depois de Corcuera ter dormido a sesta.

"Aqui em Acapulco o sol é forte e faz muito calor à tarde. O Enrique, portanto, costumava tirar uma soneca das 15h às 17h. A sua filha Viviana divertia-se a chutar uma bola contra a parede por diversão, algo que o incomodava quando ele dormia. Foi assim que ele teve a ideia de adicionar paredes de cada lado e uma rede, e foi assim que o padel nasceu", afirma De La Torre.

Enrique Corcuera
Enrique Corcuera, criador do Padel Foto: padel-magazine.pt

"Lembro que um dia ele convidou-me para ir a sua casa e depois tive a oportunidade de jogar com ele muitas vezes naquele primeiro court, ainda me dá arrepios só de pensar nisso. A pista era de cimento e mal pintada, mas divertimo-nos muito. No começo usávamos raquetes de madeira, mas dissemos-lhe que já ninguém as usava", relembra.

Enrique Corcuera acabou por falecer em 1999, levando a família a vender a propriedade onde surgira o primeiro court de Padel. Os novos donos acabaram por demolir o campo e substitui-lo por uma piscina...

O court mais antigo ainda existente data de 1976 e situa-se em casa da família Arango, também em Acapulco. De acordo, com Viviana Corcuera, viúva de Enrique, muitas famílias seguiram o exemplo dos Arango e começaram eles também a construir os seus courts junto às suas casas. Viviana explica também como o 'Padel' foi sendo moldado até ao desporto que é hoje.

Court de Padel mais antigo da atualidade
Court situado em Acapulco, no México Foto: World Padel Tour

"O meu marido tinha uma refinaria de açúcar em Guadalajara e íamos lá muitas vezes. Lá havia um court de pelota basca, mas nós e os nossos amigos achávamos que era muito difícil jogar ali, não se faziam amigos a jogar pelota basca, era muito agressivo e difícil de jogar. Foi aí que o Enrique me perguntou: "O que achas de eu pedir ao pedreiro para por uma parede aqui (a cerca de vinte metros da parede de pelota)? Eles construíram uma parede de tijolo, juntaram uma rede de ténis e começámos a jogar aí, junto à refinaria.", relembra Viviana.

"Era muito divertido, perguntavam com que bola haveríamos de jogar. Bola de ténis, de squash, experimentámos todo o tipo de bolas e raquetes que havia. Nos anos 70 os argentinos começaram a visitar a nossa casa, viram o court, ficaram encantandos e começaram a experimentar raquetes que eles traziam de Buenos Aires e foram um sucesso, eram as melhores", afirma.

Porquê 'Padel'?

O termo atual não foi o inicialmente escolhido, tendo sofrido algumas alterações. Inácio Soto Borja, amigo de Enrique Corcuera e embaixador World Padel Tour para a América do Norte, explica qual a origem do nome.

"Manuel Arango que construiu o segundo court de padel em Acapulco ajudou-o a escrever um livro de regras. O Enrique não deu um nome a esta modalidade, então foi o amigo Manuel Arango que se comprometeu a encontrar um nome para este novo desporto", afirma Inácio Borja.

"No início ele escolheu o nome 'Rebotenis' (ténis de 'rebote' = salto)porque era um pequeno court de ténis, e como a bola podia ressaltar nas paredes, parecia lógico. Depois veio a discussão com os argentinos que apelidavam o desporto de 'Paddle' com o famoso duplo “d”. Em Espanha e no México queríamos que este desporto tivesse um nome universal para acabar com qualquer confusão. Daí nasceu a palavra 'PADEL'.
Infelizmente muitos anos depois, esta confusão continua a existir porque ainda ouvimos muitas pessoas dizerem Padel-Ténis", sublinhou.

O Padel em Portugal

O primeiro contacto de um europeu com o Padel deu-se quando o espanhol Alfonso de Hohenlohe, familiar distante dos Corcuera, viajou ao México em 1974 e ficou a conhecer o novo desporto inventado por Enrique Corcuera. O espanhol ficou de tal forma fascinado que, ao regressar a Espanha, construiu os dois primeiros courts de Padel no Marbella Club.

Apenas nos anos 90 é que a modalidade chegou a Portugal. Depois da implementação do primeiro court no Lisboa Racket Centre, obra realizada pela empresa espanhola All Padel, surgiram mais cinco recintos: três no Clube de Ténis da Quinta da Marinha e dois no Clube de Ténis de Vila Real de Santo António.

Apesar disto, a verdade é que o Padel não singrou nos primeiros anos em Portugal, sendo jogado apenas pela comunidade espanhola residente no país.

Depois de alguns anos de alguma estagnação, o Padel consegue finalmente começar a dar nas vistas em 2008 através da construção de três campos no Clube de Ténis do Estoril e a realização de uma edição do Campeonato da Europa.

Desde então o número de praticantes e courts tem crescido exponencialmente nos últimos dez anos. Com efeito, num curto espaço de tempo o Padel passou de uma modalidade praticada apenas pela comunidade espanhola, para um desporto que conta já com dezenas de milhares de praticantes e mais de cinco mil atletas federados.

O primeiro contacto com o Padel

Para melhor percebermos a realidade do Padel em Portugal, falámos com algumas figuras ligadas diretamente ao desporto como atletas profissionais, amantes da modalidade e empreendedores que resolveram apostar nesta modalidade. Começaram por recordar o momento em que estabeleceram o primeiro contacto com este fenómeno desportivo.

O 'boom' do Padel em Portugal

A subida meteórica de popularidade do Padel em Portugal é algo a que já ninguém consegue ficar indiferente. Por detrás deste fenómeno estará, não só o jogo propriamente dito, como também uma vertente social muito vincada, especialmente após os jogadores saírem do court; algo pouco visto noutros desportos.

Formação no Padel

O crescimento do Padel em Portugal não se tem apenas remetido ao mero praticante ocasional. Com efeito, os últimos anos têm trazido um alargamento significativo da base de atletas profissionais, quer a nível masculino, quer a nível feminino.

Para tal em muito tem contribuído o trabalho realizado ao nível da formação de jovens atletas, principalmente nos clubes. Nesse âmbito o Indoor Padel Center é um dos clubes de referência no que à aposta na academia e formação de talentos diz respeito.

Dário Santos é diretor técnico deste clube desde 2016 e admite que este ano trouxe um crescimento em termos de número de jovens jogadores; contudo, o dirigente e treinador acredita que ainda há muita margem de crescimento.

"Este ano acredito ter sido um ano de viragem, mesmo que não esteja como gostamos, mas houve um aumento de jovens a competir. Houve boas iniciativas por parte da federação, em tornar as provas mais importantes numa festa com alguns detalhes interessantes que aproximam os jovens do circuito.
O sucesso nas competições internacionais das seleções jovens acredito que irão promover também uma maior adesão ao circuito de jovens da Federação Portuguesa de Padel", disse Dário Santos.

Dário Santos
Diretor técnico do Indoor Padel Center Foto: Instagram @dario_santos_pm360

Muitos dos jogadores profissionais de hoje tiveram passagem pelo ténis. Todavia, Dário Santos defende que hoje já é possível formar jogadores de Padel sem que estes passem inicialmente pelo ténis, apesar de ainda haver uma pequena percentagem de atletas que fazem esse caminho.

"Neste momento existe a capacidade das escolas terem um modelo de formação. Existe muitos jovens nos clubes e tenho sentido um interesse por parte dos treinadores no que diz respeito a esta área.
A maioria dos jovens no Padel já estão a vir diretamente para o Padel sem passar pelo ténis; há quem venha do ténis mas não como era há 6/7 anos. Nos seniores ainda existe muito essa passagem do ténis para o Padel, mas já temos jogadores de Padel jovens nos seniores com base total na modalidade.

O diretor técnico do Indoor Padel Center, e criador do método de ensino Padel Method360, acredita que, mesmo com o enorme crescimento que se tem estado a sentir neste desporto, o Padel em Portugal deverá ter ainda os seus melhores dias pela frente, isto se de facto continuar investir na formação.

Dário Santos
Dário Santos (ao centro) criador do método Padel Method360 Foto: Instagram @dario_santos_pm360

"O Padel atingiu um pico na sua qualidade graças ao esforço de muito trabalho de todos aqueles jogadores de topo portugueses. Pode eventualmente descer um pouco o nível qualitativo mas é normal, são ciclos. Mas ao nível federativo deve haver uma reflexão sobre onde queremos estar a longo prazo. Qualitativamente e quantitativamente esta modalidade vai crescer. Mas na formação, que será aquele segmento que assegurará o futuro, devem ser criadas bases mais solidas. Tanto nas escolas como nos treinadores. Mas antecipo uma modalidade a crescer em toda a linha", concluiu.

Apesar de estar ainda em fase embrionária no nosso país, pode-se concluir que o Padel há muito que ultrapassou a barreira da mera moda passageira ou de ser apenas aquela modalidade praticada por quem já não tem capacidade para jogar ténis.

O Padel já cortou o cordão umbilical que o teimava em manter diretamente associado a esse desporto. Longe vão os tempos em que era apenas caracterizado como 'primo' ou 'irmão mais novo' do ténis.

Hoje o Padel é independente, maior de idade, e não para de crescer.

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