Luís Macedo é um dos dois esgrimistas, para além de Marta Caride , que vai integrar a missão portuguesa nos Jogos Mundiais Universitários. Começou na modalidade por influência do irmão, aos seis anos, e está naturalmente entusiasmado por participar pela primeira vez nos Jogos Mundiais Universitários; uma competição diferente, apesar de tudo, para quem já soma experiência em Campeonatos Europeus e do Mundo.
Estudante de Criminologia e Justiça Criminal na Universidade de Hertfordshire em Inglaterra, o jovem estudante universitário abordou as dificuldades que sentiu em conciliar a vida desportiva com a Académica, uma vida que exige sacrifícios e que obriga a prescindir de várias coisas.
Uma dos temas que tem centrado a atenção dos atletas é o problema da saúde mental. Luís Macedo apela a todos os atletas para pedirem ajuda caso tenham algum problema. A atenções viram-se agora para os Jogos Mundiais Universitários que se disputam entre os dias 28 de julho e 8 de agosto, onde o esgrimista tem naturalmente aspirações.
SAPO Desporto: Como é que começou esse teu gosto pela esgrima?
Luís Macedo: Comecei cedo a ganhar interesse pela modalidade, por influência do meu irmão. Comecei muito pequeno, praticava outros desportos. Passado alguns anos comecei a querer fazer competição e a querer mais da esgrima.
SD: Estuda criminologia em Inglaterra, na University of Hertfordshire e esgrima. O que é que te levou a enveredar por esse caminho?
L.M: Inglaterra, felizmente, tem uma cultura desportiva mais abrangente. Compreendem muito mais facilmente, caso eu tenha que faltar ou adiar algum exame ou trabalho em virtude das competições e também tenho melhores condições de treino, e sabendo disso foi uma decisão fácil de tomar.
SD: O que é que achas que seria diferente se estivesses Portugal?
L.M: Naturalmente falo com os meus colegas de seleção que estudam em Portugal, e nas faculdades portuguesas é mais complicado falhar um exame, ou faltar para fazer um estágio. Tudo isso é uma condicionante, não sendo impossível, é sempre mais complicado.
SD: Marcaste recentemente presença nos Jogos Europeus, como é que correu essa experiência?
L.M: Já tinha estado presentes nos Jogos Mediterrâneos, mas foi uma ótima experiência, infelizmente os resultados desportivos não foram os que mais desejava [Caiu na ronda de 64 de florete]. Conheci atletas de várias modalidades, muitos atletas olímpicos. Foi um ambiente no qual eu aprendi muito, e é sempre importante participar em eventos desta magnitude.
SD: O Miguel Frazão conquistou uma medalha de prata, em Espada, nos Jogos Europeus. Acaba por ser uma inspiração?
L.M: Eu sou muito amigo dele e a forma como ele trabalha é um exemplo, ele vê o desporto de uma forma saudável. Quer melhorar, sem passar por cima de ninguém. Em termos de horas de treino acabamos por fazer mais ou menos a mesma coisa, mas em termos de qualidade e de talento ele é fora da série.
SD: A parte mental é cada vez importante para todos os atletas, o acompanhamento é essencial para se poder lidar com todas as exigências?
L.M: Eu durante os primeiros três anos de faculdade fui acompanhado por uma psicóloga do Comité Olímpico e ajudou-me imenso naqueles primeiros anos, em que tinha que conciliar os trabalhos na faculdade, os exames com a vida competitiva e toda essa adaptação. Ter sido acompanhado foi muito importante porque estava a lidar com problemas com que nunca tinha lidado antes. Acho que não há vergonha nenhuma e qualquer atleta que sinta essa necessidade deve pedir ajuda e falar com alguém, acho que os problemas mentais são cada vez mais comuns e há que lutar contra eles.
SD: Chegaste a pensar em desistir, ou pensaste sempre que seria possível conciliar os estudos com a vida Académica?
L.M Desistir não. Há momentos mais difíceis, em que os resultados não aparecem e são momentos que temos que pensar: Posso trabalhar hoje e não conseguir alcançar o que pretendo, mas se não trabalhar posso ter a certeza de que nunca vou conseguir. O irmão do Miguel Frazão tem uma frase escrita na sola do sapato, no ano em que que ele foi campeão nacional: 'Com trabalho nada é garantido, sem trabalho nada é alcançado.' É uma boa motivação para nunca desistirmos e a partir desse momento as coisas vêm com maior naturalidade.
SD: Com foi a adaptação a Inglaterra, sentiste um grande choque com essa transição para a Universidade?
L.M: Quando fui para fora acabei por ter que ir viver sozinho, e tive que fazer coisas que nunca tinha feito na vida: Como tratar da roupa e todas as lides domésticas. A nível de horários, em Inglaterra, eles são sempre muito compreensivos com os meus horários de treino e isso tudo foi uma grande ajuda para manter as mesmas rotinas.
SD: Como é um teu dia a dia habitualmente, certamente não será fácil fazeres a gestão de todas essas obrigações?
L.M: Em Inglaterra cheguei a ter que acordar às cinco da manhã para estar no treino às sete, era uma viagem de metro bastante grande. Tinha o treinos até ao 12h00, ia para as aulas à tarde e três dias por semana acumulava com um treino à tarde e chegava a casa muito cansado. À sexta-feira, o meu colega de casa queria muitas vezes combinar um jantar e eu muitas vezes recusava. Não era tantos os treinos [que me cansavam], mas sim as constantes deslocações. Mas divido o ano também em Portugal porque o meu treinador também está cá e vou fazendo estágios fora, e com as aulas online também não perco nada. Nos estágios tenho treinos de manhã e à tarde, a meio do dia tenho que me organizar para conseguir fazer o máximo possível a nível escolar.
SD: E quais são os teus objetivos para Jogos Mundiais Universitários?
L.M: Um objetivo realista é estar entre os 16 primeiros e a partir desse momento tudo é possível.
SD: Já pensas no futuro depois da esgrima?
L.M: Ainda não penso muito nisso, mas o curso é algo que eu tenho que concluir, a vida desportiva não é para sempre.
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