O português João Garcia, um dos 15 escaladores que subiram às 14 montanhas com mais de 8.000 metros, destacou hoje o feito de Nirmal Purja, que o conseguiu em seis meses, embora assinalando as diferenças entre as filosofias.
“Tenho de felicitá-lo, mas tenho de salientar que fez isto num âmbito de velocidade, utilizou oxigénio artificial na subida ao Evereste. Além disso, provavelmente, não fez o carregamento do material, teve xerpas que o auxiliaram”, começou por dizer à agência Lusa.
O nepalês Nirmal Purja reivindicou, na terça-feira, ter estabelecido um recorde histórico ao escalar, em seis meses e seis dias, os 14 cumes mais altos do mundo, com mais de 8.000 metros, após chegar ao topo da montanha Shishapangma, no Tibete.
João Garcia, que entre 1993 e 2010 conseguiu estas 14 ascensões e que faz parte de um restrito lote de 15 pessoas que o conseguiram sem auxílios externos, reforçou que o nepalês “deu prioridade ao tempo e que estava a vender um projeto e a imagem dos seus patrocinadores”.
“Tinha um projeto diferente do meu. São filosofias diferentes. É diferente de 15 pessoas que tentaram superar-se, sem auxílio de oxigénio artificial, e valorizaram outro tipo de projetos. Cada um é livre de fazer o que quiser, mas não quero ser confundido”, referiu, ainda que realçando: “Não deixa de ser um feito fantástico, não quero que me interpretem mal. Acho mesmo que, na próxima década, ninguém conseguirá alcançar o mesmo. Mas são filosofias diferentes.”
João Garcia disse mesmo que Nirmal Purja “só pode ser um atleta fantástico”, por ter conseguido este feito, e que, “provavelmente, nem precisaria do recurso ao oxigénio artificial” para alcançar as 14 subidas.
De resto, o montanhista português, de 52 anos, disse acreditar que é possível escalar os 14 cumes mais altos do mundo sem recurso a oxigénio artificial: “Eu fui o 10.º homem do mundo a consegui-lo [em 2010] e, depois de mim, vieram mais cinco pessoas. Portanto, é possível.”
Nirmal Purja e a equipa atingiram o pico do Shishapangma, de 8.027 metros, às 08:58 (00:58 em Lisboa), de acordo com a mesma publicação, na página do projeto que lançou em abril passado, denominado "Project Possible" ("Projeto Possível").
O projeto do ex-membro das Forças Especiais britânicas seguiu três fases de subida aos 14 ‘picos do mundo’, todos nos Himalaias. A primeira com as ascensões a Annapurna (8.091 metros, em 23 de abril), Dhaulagiri (8.167, em 12 de maio), Kanchenjunga (8.586, em 15 de maio), Everest (8.848, em 22 de maio), Lhotse (8.516, em 22 de maio) e Makalu (8.485, em 24 de maio), no Nepal.
Seguiu para os topos paquistaneses, casos de Nanga Parbat (8.126, em 03 de julho), Gasherbrum 1 (8.080, em 15 de julho), Gasherbrum 2 (8.035, em 18 de julho), K2 (8.611, em 24 de julho) e Broad Peak (8.051, em 26 de julho) e terminou, na China e no Nepal, com as conquistas de Cho Oyu (8.188m, em 23 de setembro), Manaslu (8.163m, em 27 de setembro) e Shishapangma (8.027, em 29 de outubro).
Esta 'maratona' supera largamente o recorde do polaco Jerzy Kukuczka, que necessitou de sete anos, 11 meses e 14 dias para alcançar os topos, com recurso a oxigénio artificial em pelo menos uma subida.
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