Os jogadores de futsal do Sporting tiveram uma manhã de treinos diferente do habitual. Os comandados de Nuno Dias tiveram a companhia de oito alunos invisuais do Centro Hellen Keller e quatro atletas da Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência. Uma manhã diferente, entre muitos sorrisos, onde os miúdos puderam conviver com os seus ídolos, no Pavilhão Multiusos de Alvalade.
Deo: "Até o coração bateu mais rápido..."
João Benedito, um dos poucos a não jogar de olhos vendados (os guarda-redes de futebol para cegos são os únicos que veem), elogiou a iniciativa e ficou impressionado com a capacidade de quem tenta viver a vida sem um dos sentidos.
"Hoje crescemos bastante como homens porque tomamos contactos das dificuldades que as pessoas têm no desporto adaptado mas também no seu dia-a-dia. Ficamos com a noção do esforço que essas pessoas têm diariamente para viver. Estiveram aqui sempre de sorriso rasgado, mostrando que é possível praticar desporto perante as adversidades. Hoje quem ficou a ganhar fomos todos nós", sublinhou o guarda-redes e capitão da equipa de futsal do Sporting.
As especificidades e regras próprias do futebol para cegos deixou Deo impressionado. O avançado leonino sentiu o que é jogar sem ver a bola ou os adversários ou as limitações do campo.
"As dificuldades são a cem por cento: dificuldade em andar, correr, dominar a bola, ouvir, saber onde está a bola. É impressionante. Na primeira vez que corri com os olhos vendados até o coração bateu mais rápido, porque temos de assimilar muita coisa", confessou o jogador.
Falta praticantes de futebol para cegos
Quem marcou presença na iniciativa foi José Mimoso, invisual já com muitas andanças no desporto adaptado. Fisioterapeuta em Alcochete, José Mimoso ficou cego aos oito anos de idade. De lá para cá, nunca deixou de praticar desporto. Foi campeão português de Xadrez e integrou a seleção portuguesa de futebol para cegos. Hoje, lamenta que não haja muitos miúdos que queiram levar a modalidade adiante.
"Nós, os mais velhos, viemos aqui passar a mensagem aos mais novos que podem ser iguais ou melhores dos que nós em termos desportivos. Todos, em conjunto, colaboraram bastante, os jogadores do Sporting foram dinâmicos, foi muito divertido. Hoje vivemos com eles, sentimos o que vivem e que nós só sabemos pelos gritos na televisão", sublinhou Mimoso.
Para José Silva, esta foi uma grande iniciativa, que se enquadra também nas necessidades da Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência.
"A intenção foi trazer a modalidade, que já existia em Portugal com campeonatos, taças e Seleções nacionais. A modalidade perdeu força e acabou. Logo, tentamos trazer ex-jogadores de futsal e potenciais novos jogadores para a modalidade. Tivemos o apoio do Centro Hellen Keller, especialista em trabalhar com crianças com deficiência visual. Estamos a tentar reerguer a modalidade e lançar o desafio aos clubes para criarem departamentos de desporto adaptado, criar novas modalidades, como é o caso do futsal", sublinhou José Silva, técnico da FPDD.
O que é o futebol para cegos?
O futebol para cegos é jogado num campo igual ao do futsal mas com tabelas laterais, que impedem a saída da bola. O esférico tem guizos para que os jogadores a possam localizar. Cada equipa tem um treinador adjunto que fica por detrás da baliza adversária para orientar os jogadores sobre para que lado rematar e quando rematar.
O guarda-redes é o único jogador que vê e pode orientar a equipa, sobretudo na colocação da defesa mas tem movimentos limitados e não poderá sair da sua área.
O futebol para cedos integra o programa dos Jogos Paralímpicos desde Atenas 2004.
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