O futebol português perdeu um guarda-redes “não muito alto” quando a carreira de Bruno Coelho fracassou entre os postes do Real Massamá, mas com isso ganhou o futsal um herói improvável, principal responsável pela conquista do Euro2018.
Autor de dois golos que contribuíram decisivamente para derrotar por 3-2 a poderosa Espanha na final do Campeonato da Europa, na verdade, o que Bruno Coelho mais queria quando “todos os dias jogava à bola na rua com os amigos” era seguir os passos dos futebolistas seus ídolos.
“Queria jogar futebol de 11 também e experimentei no Real Massamá. A guarda-redes, curiosamente, e podem ver que não sou muito alto”, recordou à Lusa o jogador do Benfica, hoje com 30 anos, que iniciou a carreira como jogador de futsal, precisamente, na baliza dos juvenis da JOMA, equipa do concelho de Sintra.
Foi dessa forma, “num clube de bairro”, que “começou a paixão pelo futsal”, que o levaria a deixar a sua marca na conquista mais importante da modalidade, numa altura em que a seleção portuguesa tinha perdido por lesão Ricardinho, designado melhor jogador do torneio.
“Muitas pessoas disseram-me: o prémio tinha de ser para ti. Mas o Ricardinho é o Ricardinho. É cinco vezes o melhor do mundo e tinha que ser para ele. Também fez um Europeu de topo, foi o melhor marcador e foi muito bem entregue”, sustentou.
Tal como Ricardinho, também Bruno Coelho também se lesionou, mas com menos gravidade, e quando o selecionador Jorge Braz lhe perguntou se poderia jogar não hesitou: “Naquele momento não se sente dor, não se sente nada. Queremos é ajudar e correu bem”.
Foram inevitáveis as comparações com a final do Europeu de futebol de 2016, em que Portugal perdeu muito cedo Cristiano Ronaldo por lesão e Éder, habitual suplente, se converteu em herói nacional, ao marcar o golo da vitória por 1-0 sobre a França, também no prolongamento.
“Coincidência ou não, foi parecido. Só não havia borboletas porque era dentro do pavilhão. Acho que todos nós fomos heróis por tudo o que se passou no jogo e tudo o que fizemos no Europeu”, assinalou o ala benfiquista.
Da JOMA, Bruno Coelho saiu para o Vila Verde e foi nessa altura que a baliza se tornou demasiado grande para os seus 170 centímetros. “Tinha 18 anos. Subi aos seniores e o treinador na altura era o Fernando Paiva, o ‘Náná’, que foi um dos meus pais no futsal”, confidenciou.
Transferiu-se em 2009 para o Vitória Olivais, ao lado de ‘Náná’, mas ficou por lá pouco tempo. Um ano mais tarde foi contratado pelo Belenenses, tendo conquistado também a primeira das 92 internacionalizações (28 golos), antes de dar o ‘salto’ para o Benfica, que representa desde 2011.
Se não o tivesse feito, Bruno Coelho reconhece que dificilmente poderia viver exclusivamente dos rendimentos do futsal: “Teria que trabalhar e treinar à noite e tudo seria mais difícil [...] Infelizmente, só há duas equipas em Portugal que conseguem fazer isso, que são o Benfica e o Sporting”.
“Em Portugal, não só no futsal, mas no desporto em geral, é difícil ter modalidades em que todas as equipas possam ser profissionais. Felizmente, o nosso futsal tem crescido. Com a conquista deste Europeu pode evoluir mais um bocadinho”, assinalou.
Ainda assim, Bruno Coelho sabe que dificilmente poderá ‘viver dos rendimentos’ depois de terminar a carreira, mas disse que não tem “medo de trabalhar” e que gostaria de continuar ligado à modalidade, apesar de acreditar que ainda consegue “jogar mais cinco, seis, sete, 10 anos”.
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