Jonas Vingegaard ganhou hoje isolado a 16.ª etapa da Volta a Espanha em bicicleta em nome do “melhor amigo” Nathan van Hooydonck, numa iniciativa questionável, que pareceu um ‘assalto’ à liderança do seu companheiro Sepp Kuss.
O dinamarquês, que atacou a menos de quatro quilómetros do final, cortou a meta isolado, em 2:38.23 horas, e em lágrimas, uma vez que o seu colega e amigo Nathan van Hooydonck está em estado grave no hospital, depois de ter sofrido hoje um acidente de viação, causado pelo próprio ao sentir-se mal.
“Recebemos notícias terríveis esta manhã e queria ganhar hoje pelo meu melhor amigo. Felizmente, agora há boas notícias sobre a sua condição. É um grande alívio para mim e para a equipa. Espero que ele recupere em breve”, disse o atual bicampeão do Tour, que hoje deixou a 43 segundos o neozelandês Finn Fisher-Black (UAE Emirates), segundo, e a 49 o neerlandês Wout Poels (Bahrain-Victorious), terceiro.
Para honrar o seu companheiro belga, Vingegaard quase ‘condenava’ Sepp Kuss, com o norte-americano a sofrer para manter a liderança da geral, na qual o dinamarquês é agora segundo, a 29 segundos.
“Quero desfrutar deste momento e não quero pensar nisso”, disse o sempre contido e hermético novo vice-líder da Vuelta, ao ser questionado sobre um eventual ‘assalto’ à camisola vermelha na quarta-feira, dia da chegada ao mítico Angliru.
A ‘traição’ de Vingegaard aos seus companheiros da Jumbo-Visma levou também à despromoção a terceiro do esloveno Primoz Roglic, que ainda assim ganhou quatro segundos a Kuss, de quem dista agora 1.33 minutos. João Almeida (UAE Emirates) chegou a 1.09 do vencedor, na 11.ª posição, e manteve o 10.º posto da geral, a 8.43 do norte-americano da equipa neerlandesa.
Com o Angliru no horizonte, a 16.ª etapa não teve particular interesse até aos últimos metros, com as várias tentativas de fuga envolvendo nomes sonantes a serem permanentemente anuladas. Foi preciso esperar pelos derradeiros 60 dos 120,5 quilómetros entre a praia de Liencres e Bejes para que seis ciclistas se distanciassem, finalmente, do pelotão, que, controlado pela Jumbo-Visma, nunca permitiu que se distanciassem, iniciativa anulada a 10 quilómetros da meta.
As dificuldades esperadas para quarta-feira – os 124,5 quilómetros entre Ribadesella e o alto do Angliru incluem duas contagens de primeira categoria e uma de categoria especial, a coincidir com a meta instalada no mítico ‘puerto’ – parecem ter desincentivado os ataques dos outros candidatos.
O atual bicampeão do Tour atacou na subida a Bejes, a pouco mais de três quilómetros do alto, e ninguém o seguiu, com o dinamarquês rapidamente a ganhar um minuto de vantagem para o grupo de candidatos, no qual seguia o seu companheiro norte-americano.
Acabou por ser João Almeida a ‘incentivar’ a luta de egos na Jumbo-Visma: o português atacou e Roglic, sempre mais respeitador em relação ao camisola vermelha, teve um pretexto para saltar do grupo, com as movimentações dos seus colegas a quase ‘condenarem’ Kuss, visivelmente em dificuldades nas últimas rampas da subida de segunda categoria.
O líder da geral conseguiu recolar e salvar a liderança, mas a ‘traição’ do companheiro, que já não consegue esconder que ambiciona a ‘dobradinha’ nas grandes Voltas, poderá ter-lhe minado a confiança, sendo até expectável que perca a camisola vermelha no Angliru.
Os restantes candidatos foram chegando a conta-gotas à meta, sem que o top 10 tenha sofrido mais alterações, enquanto entre os portugueses Rui Costa (UAE Emirates) foi o segundo a cumprir a etapa, no 46.º lugar, a 5.27 de Vingegaard, que somou hoje a segunda vitória nesta edição.
Nelson Oliveira (Movistar) foi 112.º, a 9.59, e Rui Oliveira (UAE Emirates) e André Carvalho (Cofidis) chegaram num grupo a 13.36.
Na geral, Costa é 41.º, a 1:32.10 horas de Kuss, com Nelson Oliveira sete lugares mais abaixo, a 1:39.56. Carvalho está no 142.º posto, a mais de três horas do camisola vermelha, uma distância semelhante à de Rui Oliveira, que é 150.º e último.
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