Delio Fernández passou os melhores anos da sua carreira a coliderar equipas e, por isso, só aos 37 anos teve a oportunidade de vestir a amarela na Volta a Portugal, uma realidade que surpreendeu, inclusive, o ciclista galego.
“Já perdi o hábito. Fazia tempo que não tinha um êxito como este”, brincou quando foi ‘assaltado’ pelos jornalistas após vencer a quinta etapa, no alto da Torre, e assumir a liderança da geral.
Aos 37 anos, o menos conhecido do ‘clã’ galego que dominou a Volta a Portugal – composto ainda pelo recordista e pentacampeão David Blanco, pelo duas vezes vencedor Gustavo Veloso e por Alejandro Marque, campeão em 2013 – vestiu pela primeira vez a amarela na prova ‘rainha’ do calendário velocipédico nacional.
“Sempre estive na Volta coliderando as equipas nos meus melhores anos e agora que, se calhar, não tenho as melhores pernas como acontecia há uns anos… pois voltaram e aqui estou de amarelo. Fico um bocado surpreendido, mas sabia que se tivesse um bom dia podia estar entre os melhores. Ganhar era muito difícil”, confessou o terceiro classificado da edição de 2014 e quarto no ano seguinte.
O ciclista da AP Hotels&Resorts-Tavira-Farense nunca pensou sair da Torre de amarelo – “para ser sincero, não” -, uma vez que “há dois anos que há uma equipa [Glassdrive-Q8-Anicolor] que está a dominar”.
“Surpreendeu-me que não pusessem um ritmo realmente forte no início da subida. Quando começaram os ataques, tentei regular, para que não me acontecesse como no ano passado, em que saí e depois fiquei e passei mal”, recordou o sexto classificado da Volta2022.
Mas, como ia “bastante confortável”, tratou de procurar um grupo “antes do descanso, no qual estivesse um corredor de cada equipa, para que os outros pudessem fazer de ‘travão’ atrás”, e, nessa fase mais plana, ganhar a diferença que lhe permitiu chegar ao ponto mais alto de Portugal continental isolado, com seis segundos de vantagem sobre o suíço Colin Stüssi (Voralberg) e 19 sobre o espanhol Txomin Juaristi (Euskaltel-Euskadi).
“Primeiro, pensava mais na geral, para ganhar diferenças, mas, nos últimos quilómetros, percebi que tinha de ir buscar a etapa. E pensei ‘vou tentar descarregar os colegas e consigo um ‘crono’ até à meta. Lembrei-me da etapa de há dois anos do [Alejandro] Marque e assim foi”, descreveu.
Curiosamente, Fernández recebeu uma chamada daquele que venceu no alto da Torre há dois anos, mas não pediu conselhos ao seu amigo e ex-colega, reformado desde o final da temporada passada.
“A Torre já não tem segredos, após tantos anos, tantas edições. Conhecia perfeitamente cada metro desta subida especial, muito especial. Depois de ter ganhado em 2015, hoje foi de outra maneira. Foi uma subida muito mais estratégia. Em 2015, tinha um colega que era o máximo favorito para ganhar a Volta, que era o Gustavo Veloso. Muitas voltas fiz de seu soldado e muito aprendi dele”, declarou.
Para o galego, “todas essas experiências hoje também serviram para tomar as melhores opções”.
“Tenho 37 anos, tenho muitos anos de ciclismo profissional, e isso também me dá a experiência de ter a tranquilidade. Vamos dia a dia. A equipa vai estar 100%. Vão-me defender o máximo possível e estou consciente que as outras equipas vão atacar. Amanhã [terça-feira], temos uma etapa muito dura, muito exigente. Vão tentar vencer as etapas e tirar-me do lugar. Não vou ficar nervoso. O que for, será”, concluiu.
O ciclista espanhol lidera a geral com cinco segundos de vantagem sobre Colin Stüssi e 10 sobre Txomin Juaristi.
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