O ciclista neerlandês Dylan van Baarle viu hoje finalmente premiado o seu espírito combativo com um merecido triunfo na Paris-Roubaix, conquistando o primeiro ‘Monumento’ da carreira num dia perfeito para a INEOS.
Ao entrar isolado no Velódromo de Roubaix, com os perseguidores a uma distância de ‘segurança’ – cortaram a meta 01.47 minutos depois, com o ‘recuperado’ Wout van Aert (Jumbo-Visma) a ser novamente segundo -, Van Baarle pôde saborear um raro momento de glória numa carreira dedicada a trabalhar para outros, consumando uma ‘miragem’ que parecia cada vez mais próxima, após a extraordinária exibição na Volta à Flandres, há duas semanas, e a vitória na Através da Flandres, no ano passado.
“É inacreditável. Ainda não acreditava quando entrei no Velódromo. Olhei para o outro lado para ver se vinha alguém, mas estava completamente sozinho. […] Foi de loucos. Claro que queria ganhar um ‘Monumento’. Ser segundo na Flandres, ganhar em Roubaix… não tenho palavras”, declarou o vencedor da edição mais rápida da história da ‘clássica das clássicas’, que cumpriu os 257,2 quilómetros entre Compiègne e Roubaix em 05.37.00 horas, relegando Van Aert e Stefan Küng (Groupama-FDJ) para a segunda e terceira posições, respetivamente.
A INEOS, reconvertida em especialista em clássicas, ‘dinamitou’ a corrida a mais de 207 quilómetros da meta: com o vento a soprar forte, o conjunto britânico fez um verdadeiro contrarrelógio por equipas para ‘partir’ o pelotão, apanhando desprevenidos os outros grandes favoritos ao triunfo no dia de hoje.
A ‘bordure’ provocada pela confiante INEOS deixou cortados o regressado Van Aert, recuperado da covid-19, o novo ‘classicómano’ Küng, o vencedor da Volta a Flandres, Mathieu van der Poel (Alpecin-Fenix), Kasper Asgreen (Quick-Step Alpha Vinyl), o antecessor do holandês no palmarés daquela clássica, e Mads Pedersen (Trek-Segafredo), com estes dois últimos a ficarem ainda envolvidos numa queda 50 quilómetros mais adiante.
Todos pagaram cara a distração – ou má colocação – nos quilómetros iniciais e entraram no primeiro dos 30 setores de empedrado com quase dois minutos de desvantagem para o primeiro grupo, sendo obrigados a um esforço suplementar para ‘apanhar’ os homens da dianteira, o que aconteceu mais de 100 quilómetros depois – talvez, esse desgaste tenha sido decisivo no desfecho.
Quando foi feita a junção, já depois de Filippo Ganna ter furado duas vezes, obrigando os seus companheiros da INEOS a ‘abrandar’ para esperar pelo bicampeão mundial de contrarrelógio, cinco corredores seguiam isolados na frente: Matej Mohoric (Bahrain-Victorious), Tom Devriendt (Intermarché-Wanty-Gobert), Laurent Pichon (Arkéa-Samsic), Davide Ballerini (Quick-Step Alpha Vinyl) e Casper Pedersen (DSM).
O vencedor da Milão-Sanremo, à procura de tornar-se no terceiro ciclista da história a fazer a ‘dobradinha’ nas duas clássicas na mesma temporada, ficou na frente apenas na companhia de Devriendt e Pichon, o primeiro a descolar.
Mas os grandes candidatos não defraudaram e, a 40 quilómetros da meta, após uma série de ataques e contra-ataques, já Van Baarle, Van Aert, Küng e ‘MVDP’ (foi ‘mero’ nono classificado, a mais de 2.30 minutos do vencedor) encabeçavam um grupo onde se encontravam outros ‘incontornáveis’ das clássicas, como Yves Lampaert (Quick-Step Alpha Vinyl) ou Jasper Stuyven (Trek-Segafredo).
Um furo do campeão belga da Jumbo-Visma, que rapidamente reentrou no grupo perseguidor, e uma ‘avaria’ de Mohoric ‘relançaram’ a corrida: o esloveno da Bahrain-Victorious foi ‘absorvido’, mas, pouco depois, saía na roda de Lampaert, para se unir a Devriendt novamente na frente, com o trio a ser alcançado por Van Baarle e a construir uma diferença que, a 20 quilómetros de meta, rondava os 40 segundos.
Descontente, quer por ter perdido as suas ‘queridas’ clássicas devido à covid-19, quer com a situação de corrida, Van Aert aliou-se ao suíço da Groupama-FDJ para perseguir o quarteto, desfeito por ação do neerlandês da INEOS, à procura do seu primeiro ‘Monumento’ após ser segundo na Volta a Flandres.
O vice-campeão mundial, de 29 anos, atacou a 18,6 quilómetros da meta e, indiferente às ‘escaramuças’ atrás de si – ou à queda de Lampaert, quando estava bem colocado para terminar nos três primeiros, já dentro dos derradeiros 7.000 metros -, nunca mais parou para dar à sua equipa, fundada em 2010, a primeira vitória no ‘Inferno do Norte’.
Van Baarle é apenas o sétimo ciclista dos Países Baixos a vencer a Paris-Roubaix, sendo o primeiro a fazê-lo desde Niki Terpstra, em 2014.
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