A montanha não ‘esvaziou’ Mark Cavendish, que hoje, na 10.ª etapa, conquistou o terceiro triunfo nesta Volta a França em bicicleta, com um ‘sprint’ de “manual”, que o deixa só a uma vitória do recorde de Eddy Merckx.
Apenas dois dias após ter sido ‘salvo’ da eliminação da 108.ª ‘Grande Boucle’ pelos seus companheiros da Deceuninck-QuickStep, que o ‘rebocaram’ até ao alto de Tignes e garantiram que cruzava a meta, em lágrimas, três minutos antes do fecho do controlo, e de assumir estar “fisicamente desfeito”, ‘Cav’ voltou a renascer para festejar o seu terceiro triunfo nesta edição e o 33.º na sua carreira no Tour.
“Na verdade, não fiz nada, só 150 metros. É à equipa que tenho de agradecer”, disse o britânico, de 36 anos, antes de despedir-se com um “obrigado” do jornalista que o entrevistava e que não fez ‘a pergunta’ pela qual todos esperavam.
Embora Cavendish não tenha abordado o tema que hoje ganhou ainda mais força, o belga Wout van Aert (Jumbo-Visma), o homem que teve de contentar-se com o segundo lugar na tirada, à frente do seu compatriota Jasper Philipsen (Alpecin-Fenix), fê-lo: “Tentarei ganhar especialmente para o Eddy… e um bocadinho por mim também”.
Van Aert foi mesmo o ciclista que mais perto esteve de negar o triunfo ao homem da ilha de Man, mas o recorde de 34 etapas de Merckx parece estar cada vez mais próximo de ser igualado e, quem sabe, batido – para isso, e até para vencer a camisola verde, que os seus adversários tanto tentam ‘roubar’, desperdiçando, na opinião de ‘Cav’, energia preciosa para as chegadas ao ‘sprint’, basta-lhe ultrapassar dentro do controlo as montanhas e chegar a Paris.
Depois de nove etapas de emoções fortes, drama - houve quedas, desistências de peso e eliminações -, lágrimas e momentos históricos, o pelotão voltou hoje à estrada para uma jornada tranquila, de 190,7 quilómetros, entre Albertville e Valence, que funcionou quase como um prolongamento do (merecido) primeiro dia de descanso.
Tosh van der Sande (Lotto-Soudal) e Hugo Houle (Astana) nem dois quilómetros esperaram para formar a fuga do dia, aquela que maior vantagem conseguiu numa tirada em plano nesta edição – quase seis minutos –, sempre controlada à distância por Deceuninck-QuickStep e DSM.
Nem a ameaça de vento forte importunou o pelotão, que, comandado por uma BikeExchange apostada em deixar Cavendish em apuros, anulou a fuga a 35 quilómetros da meta, já depois de Richie Porte (INEOS), o terceiro classificado da passada edição, ir ao chão, a 67 quilómetros do final, e de Hugo Houle ter ficado sozinho na frente, por ‘falta de pernas’ de Van der Sande.
Com o campeão mundial Julian Alaphilippe a cerrar os dentes para tentar provocar cortes no pelotão – e Sonny Colbrelli (Bahrain Victorious), outro dos candidatos à camisola verde, a furar no pior momento -, a corrida seguiu lançada até à meta, após várias tentativas frustradas para causar ‘abanicos’ e apanhar desprevenidos ‘sprinters’ ou candidatos.
E, nos derradeiros metros, o que se viu, nas palavras do vencedor, foi “um ‘clássico’ lançamento, como descrito nas revistas de ciclismo, um lançamento de manual”, protagonizado, uma vez mais, por uma Deceuninck-QuickStep irrepreensível e um superlativo Michael Morkov, que ainda conseguiu ser sexto, à frente de dois dos grandes nomes do ‘sprint’ dos últimos anos, o alemão André Greipel (Israel Start-up Nation) e o eslovaco Peter Sagan (Bora-hansgrohe).
“Uma vez mais, sinto-me agradecido. Tens [a trabalhar] o vencedor da Volta a Flandres [Kasper Asgreen], o campeão do Mundo, que também vestiu a amarela aqui. Tens o Michael Morkov, que vai aos Olímpicos para tentar ganhar no Madison. Tens o vencedor da Omloop Het Nieuwsblad [Davide Ballerini], todos a deixar tudo por ti na estrada. Eu tenho de finalizar o trabalho deles”, declarou o britânico, já depois de ter, naquilo que já se tornou um ritual, abraçado todos os seus companheiros e erguido Alaphilippe no ar.
Antes da dupla escalada ao Mont Ventoux, na 11.ª etapa que vai ligar Sorgues a Malaucène na distância de 198,9 quilómetros, agendada para quarta-feira, Tadej Pogacar (UAE Emirates) viveu uma jornada sem grandes sobressaltos – apenas uma ameaça de ‘abanico’ deixou o camisola amarela em alerta – e chegou no pelotão, com as mesmas 04:14.07 horas do vencedor, tal como aconteceu com os homens que o sucedem na geral e o português Ruben Guerreiro (EF Education-Nippo).
“No final, nos últimos 10 quilómetros, houve muito vento de frente, foi bastante stressante. Mas desenrascámo-nos bem, é menos um dia com que temos de nos preocupar”, resumiu.
Assim, o esloveno de 22 anos continua a ter o australiano Ben O’Connor (AG2R Citröen) na segunda posição a 02.01 minutos, e o colombiano Rigoberto Urán (EF Education-Nippo) na terceira, a 05.18, com Guerreiro, que hoje cumpre 27 anos, a subir a 23.º, a 36.57.
Já Rui Costa (UAE Emirates) é 86.º, a 01:20.13 horas, depois de hoje ter chegado a 04.38 minutos, num grupo no qual seguiam os antigos vencedores Chris Froome (Israel Start-Up Nation), Geraint Thomas (INEOS) e Vincenzo Nibali (Trek-Segafredo).
Comentários