Miguel Ángel López (Astana) tomou hoje de 'assalto' o Col de la Loze e o pódio da Volta a França em bicicleta, cimentando-se como grande candidato a acompanhar os eslovenos Primoz Roglic e Tadej Pogacar em Paris.

Discreto até hoje nas etapas montanhosas do Tour, o 'explosivo' trepador colombiano demonstrou estar mais ‘fresco’ do que a concorrência, aproveitando o dia não de Rigoberto Úran (Education First) para subir ao terceiro lugar da geral e as primeiras debilidades evidenciadas pelo camisola amarela e pelo seu jovem compatriota para vencer em solitário a 17.ª etapa.

“Estou mesmo feliz, estou muito emocionado, trabalhei muito duro para isto. É um dia realmente especial. […] Estava confiante, porque sabia que este terreno me era favorável. Sabia que estaríamos acima dos 2.000 metros de altitude, era como estar em casa, e poderia ser a minha oportunidade. Tenho sonhado com isto, acreditei que era possível”, disse o corredor, que nasceu em Pesca, na província andina de Boyacá, há 26 anos.

Terceiro classificado no Giro e na Vuelta há dois anos, o vencedor no alto do Malhão na última edição da Volta ao Algarve (e também terceiro da geral final) beneficiou da incursão no seu ‘habitat’ natural (o Col de Loze é o ponto mais alto desta edição, a 2.304 metros de altitude) para já hoje, dia de aniversário de Alexandre Vinokourov, o ‘patrão’ da Astana, dar um passo firme rumo à presença no pódio final, nos Campos Elísios.

A frescura de ‘Superman’ López, que cortou a meta com o tempo de 04:49.10 horas, contrastou com a fragilidade de Tadej Pogacar (UAE Emirates), que não conseguiu acompanhar o camisola amarela Primoz Roglic (Jumbo-Visma), também ele sem pernas para o colombiano da Astana (foi segundo na etapa, a 15 segundos), e cedeu terreno na geral, estando agora a 57 segundos do seu compatriota, e tendo o novo terceiro classificado a 29.

Embora o Col de la Loze tenha sido a contagem de categoria especial eleita para testemunhar a revolução das contas da geral, o grande protagonista da jornada foi outro: o Col de la Madeleine. Instalada ao quilómetro 107,5 dos 170 percorridos desde Grenoble, a emblemática e dura subida, escalada hoje pela 27.ª vez na história do Tour, ‘convidava’ à iniciativa dos mais aventureiros e 21 ciclistas tentaram adiantar-se para ultrapassá-la antes do pelotão.

No entanto, diante de 17,1 quilómetros de subida, com uma pendente média de inclinação de 8,4%, só os mais fortes sobreviveram. Foram eles Julian Alaphilippe (Deceuninck-QuickStep), o primeiro a coroar o Col de la Madeleine há dois anos, quando aquela montanha figurou pela última vez no traçado do Tour, Richard Carapaz (INEOS) e Gorka Izagirre (Astana).

No sopé do ‘colosso’ alpino, a Bahrain-McLaren, do espanhol Mikel Landa, assumiu o comando da perseguição, impondo um ritmo alto que eliminou definitivamente Nairo Quintana e ‘desafiou’ a omnipresente Jumbo-Visma.

O conjunto do Bahrein não mais largou o comando do grupo de favoritos, enquanto, na frente, Carapaz, Izagirre e Alaphilippe iniciavam os 21,5 quilómetros da contagem de categoria especial do Col de la Loze com dois minutos de vantagem, uma margem insuficiente para discutirem a etapa entre si.

Por ter sido aquele que mais deu à fuga, o francês da Deceuninck-QuickStep foi o primeiro a ser alcançado pelo ‘comboio’ dos candidatos, seguindo-se o espanhol da Astana, com Carapaz, que tinha sido segundo na tirada anterior, a ser o último a ceder, a apenas três quilómetros da meta – e ainda não foi hoje que a INEOS, que ‘despertou’ com a notícia do abandono do campeão em título, Egan Bernal, teve uma alegria neste Tour.

Ironicamente, o trabalho da Bahrain-McLaren foi em vão, já que Landa ficou pregado ao chão (foi sétimo na etapa, a mesma posição que ocupa na geral), tal como Úran, quando Pogacar acelerou o ritmo no grupo de candidatos, reduzindo-o a cinco unidades.

Foi aí que atacou López, tendo Roglic feito um compasso de espera antes de deixar para trás o seu mais direto perseguidor na geral, que ainda esteve perto de se unir ao camisola amarela, mas acabou por ser apenas terceiro, a 30 segundos do vencedor.

O pódio do Tour, salvo algum ‘naufrágio’ inesperado na etapa de quinta-feira, uma ligação de 175 quilómetros entre Méribel e La Roche-sur-Foron com duas contagens de primeira categoria e uma de categoria especial, ou no contrarrelógio de sábado, parece entregue, já que o veterano Richie Porte (Trek-Segafredo), que é quarto, está já a 03.05 minutos.

Nelson Oliveira (Movistar), que iniciou a subida ao Col de la Loze no grupo do camisola amarela, é 56.º na geral, a 02:40.22 horas de Roglic.