Mark Cavendish rejeitou ser comparado a Eddy Merckx, “o melhor ciclista de estrada de sempre”, lembrando que o belga, cujas 34 vitórias na Volta a França hoje igualou, viveu numa época diferente.

“Penso que nunca poderei ser comparado ao grande Eddy Merckx, o melhor ciclista masculino de estrada de sempre. Ele será sempre o melhor. Mas penso que igualar o recorde de vitórias em etapas… é algo que pode servir de referência para aqueles que não seguem habitualmente o ciclismo. Espero poder inspirá-los a subir a uma bicicleta”, defendeu o corredor de 36 anos.

O britânico da Deceuninck-QuickStep juntou-se hoje ao ‘Canibal’, cinco vezes vencedor da ‘Grande Boucle’ e recordista de dias de amarelo (96), como ciclista mais vitorioso em etapas na Volta a França, ao conquistar ao ‘sprint’ o 34.º triunfo na prova, o quarto nesta edição.

“A maior parte dos ‘sprints’ que ganhei, foram ‘sprints’ massivos. Era diferente na época de Merckx. O problema é que amanhã [sábado] prevê-se uma etapa difícil, nós [na equipa] não teremos tempo para assimilar aquilo que fizemos, mas teremos bastante tempo para fazê-lo quando terminarmos as nossas carreiras”, declarou.

O experiente ‘sprinter’ britânico somou a sua 34.ª vitória em etapas na prova francesa 13 anos depois da primeira, um número que o ciclista belga alcançou em apenas seis edições, ganhando ao ‘sprint’, nas montanhas e nos contrarrelógios.

Assumindo que sofreu muito na 13.ª etapa, por não lidar bem com o calor, ‘Cav’ classificou a vitória de hoje como “um sucesso memorável e um dos mais difíceis”.

O corredor da ilha de Man impôs-se hoje diante do seu lançador, Michael Morkov, a quem agradeceu, e mostrou-se satisfeito por ter podido finalizar com sucesso o trabalho irrepreensível dos seus companheiros.

“Ser um líder é assumir uma responsabilidade. Não se trata apenas de ter pernas, também cabeça para saber gerir a pressão. É irónico mais numa equipa, normalmente é o ‘sprinter’ aquele que menos trabalha e que é mais bem pago. Mesmo que a equipa não trabalhe, esperam que ganhes. Neste caso, todos os dias os meus companheiros desempenham o seu papel, o que me coloca sob pressão. Mas quando acabas em primeiro e o último homem do ‘comboio’ é segundo, isso é espetacular”, descreveu.

Cavendish admitiu até poder lançar Morkov numa outra etapa, mas advertiu quanto ao risco dessa estratégia.

“Não há nenhum motivo para não o fazer. O problema é que no Tour é difícil jogar esse jogo. No Giro, lancei o [Mark] Renshaw, o [André] Greipel, mas esta é a Volta a França. Nesta corrida, não hesitamos. Se hesitarmos, não ganhamos”, justificou.

Apesar de ter sido segundo na tirada, Morkov estava radiante, descrevendo o seu companheiro com a palavra “lenda”.

“É algo indescritível, a emoção que sentimos todos aqueles que trabalhámos toda a jornada para isto”, reconheceu o italiano Davide Ballerini, outro dos incansáveis ‘escudeiros’ de Cavendish.

Também o campeão do Mundo, o francês Julian Alaphillipe, estava felicíssimo com a vitória do seu companheiro: “Não podíamos sonhar mais alto, é verdadeiramente super. É um prazer trabalhar para um colega e amigo, ainda mais é para o Mark. É especial e torna a vitória ainda mais bela”.

“Não é apenas um grande corredor, é um excelente tipo. Entendi-me sempre bem com ele, por isso fico feliz por poder deixar tudo na estrada por ele. Quando olhamos para a sua carreira, vemos que conseguiu sempre dar a volta por cima aos momentos de dúvida e fracasso”, salientou, garantindo que o britânico só pensará verdadeiramente no recorde quando o tiver batido.