Joshua Tarling pôs hoje um ponto final na invencibilidade de Jonas Vingegaard n’O Gran Camiño, vencendo o contrarrelógio da primeira etapa, em que os tempos dos ciclistas, por decisão das equipas, não contaram para a geral.
A ameaça de anulação da primeira tirada pairou toda a manhã na Corunha, mas as formações presentes acabaram por decidir enfrentar o vento forte, as rajadas impossíveis e os 14,8 quilómetros de exercício individual com a condição de que as diferenças de tempo hoje registadas não contassem para a classificação geral.
O campeão europeu da especialidade ganhou, deixando o segundo classificado, o irlandês Darren Rafferty (EF Education-EasyPost), a 42 segundos, e o terceiro, o espanhol Pablo Castrillo (Kern Pharma) a 48, vestiu a camisola amarela, mas na sexta-feira vai partir para a segunda etapa, uma ligação de 151,1 quilómetros entre Taboada e Chantada, empatado em tempo com todos os outros 117 ciclistas presentes na prova galega.
O campeão em título, Jonas Vingegaard (Visma-Lease a Bike), preferiu não correr riscos, e foi apenas 45.º, a 02.26 minutos do britânico de 20 anos, perdendo a invencibilidade n’O Gran Camiño – no ano passado, na estreia na prova, ganhou as três etapas disputadas (uma foi anulada devido à queda de neve).
O alerta laranja por “temporal costeiro” acionado pelo governo regional na véspera para o litoral galego era um mau prenúncio e o agravamento do mesmo para vermelho durante a manhã, em resposta aos ventos ciclónicos (os semáforos curvavam-se e era impossível andar na rua) e à chuva intensa e persistente, indiciavam que o cancelamento da etapa era uma inevitabilidade.
Mas, à medida que a saída do primeiro ciclista, o português Duarte Domingues (Sabgal-Anicolor), se aproximava, o vento ‘acalmou’, o sol apareceu entre as nuvens, e a ameaça que pairava sobre a corrida não passou disso mesmo, embora com uma grande ressalva: por votação das equipas, já depois de os ciclistas terem saído para fazer o reconhecimento do percurso, os tempos do ‘crono’ de hoje não seriam contabilizados para a geral – e só poderiam ser usadas bicicletas ‘normais’ em vez das tradicionais ‘cabras’.
Apesar de drástica, a decisão acautelava as pretensões dos candidatos à vitória final, como Vingegaard, que já não teriam de arriscar tanto, evitando azares como o do francês David Gaudu (Groupama-FDJ), o quarto classificado do Tour2022, que caiu quando foi conhecer os 14,8 quilómetros com início e final na Torre de Hércules, o farol mais antigo do mundo ainda em funcionamento e Património da Humanidade.
Depois de uma parte a rolar entre prédios, os ciclistas entravam finalmente num troço de paralelo, com o mar ao lado esquerdo, num postal calculado com tanto de bonito como de perigoso. Aos dois quilómetros de empedrado seguia-se uma descida acentuada, que desembocava ao lado do Estádio Riazor, antes de entrar novamente na avenida principal, palco das primeiras pedaladas e onde o vento só soprava menos forte do que na subida para o ponto mais emblemático da Corunha.
Os primeiros tempos ‘de registo’ foram marcados por especialistas como o norte-americano Neilson Powless (EF Education-EasyPost), Ethan Hayter (INEOS), o vice-campeão da Volta ao Algarve de 2021 e duas vezes campeão britânico da especialidade, ou Wilco Kelderman, o neerlandês que parou o cronómetro nos 19.23 minutos.
Enquanto o corredor da Visma-Lease a Bike ia enviando beijos para a câmara, vários ciclistas ameaçavam o seu tempo nos pontos intermédios, mas só o espanhol Xabier Azparren (Q36.5 Pro Cycling) o conseguiu bater (19.19). Mas o vice-campeão da Volta ao Alentejo em 2022 saboreou o feito apenas por minutos, porque Joshua Tarling pulverizou completamente o melhor registo, com 18.21.
Apesar do vento, o jovem britânico, que no ano passado bateu o campeão mundial Remco Evenepoel no Chrono des Nations e conquistou o bronze no Campeonato do Mundo, pedalou a uma média de 48,719 km/h para ser o primeiro líder da terceira edição d’O Gran Camiño.
Entre os portugueses, Ruben Guerreiro (Movistar), terceiro classificado da prova galega em 2023, foi o melhor, na 20.ª posição, com Rafael Reis (Sabgal-Anicolor) a ficar seis lugares mais abaixo e a ser o melhor representante das equipas nacionais no ‘crono’ de hoje.
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