Tadej Pogacar (UAE Emirates) estreou-se hoje a vencer de amarelo na Volta a França em bicicleta, no alto do Col du Portet, a contagem de categoria especial que pode ter definido o pódio final da 108.ª edição.

‘Pogi’ tentou, tentou e tentou ‘libertar-se’ de Jonas Vingegaard (Jumbo-Visma) e Richard Carapaz (INEOS), agora segundo e terceiro da geral, na longuíssima ascensão em direção à meta, mas só lá no alto, com o risco à vista, arranjou forças para ‘sprintar’ e ganhar a 17.ª tirada, diante dos seus diretos rivais.

“É um dia fantástico. Vencer de amarelo é algo impossível de descrever”, assumiu o esloveno, que, aos 22 anos e 296 dias, se tornou no mais jovem corredor a ganhar uma etapa enquanto liderava o Tour desde Didi Thurau em 1977.

A fotografia a celebrar um triunfo de amarelo – puxou a camisola, para que todos pudessem ver a sua cor, mas também o nome da ‘sua’ UAE Emirates – era das poucas que faltava no álbum de memórias de Pogacar na ‘Grande Boucle’ e, hoje, juntou-se às imagens das suas quatro vitórias anteriores (além do ‘crono’ da quinta etapa desta edição, ganhou outras três no ano passado).

Os 178,4 quilómetros entre Muret e Col du Portet até começaram enfadonhos, com uma fuga de ‘terceiras linhas’ do pelotão, integrada por Lukas Pöstlberger (Bora-hansgrohe), Anthony Perez (Cofidis), Dorian Godon (AG2R-Citroën), Anthony Turgis (TotalEnergies), Danny Van Poppel (Intermarché-Wanty Gobert) e Maxime Chevalier (B&B Hotels), que estabilizou nos oito minutos, antes da chegada da ‘tríade’ de (altas) montanhas pirenaicas.

Assim que a estrada começou a inclinar, rumo ao Col de Peyresourde, um dos topos incontornáveis da Volta a França, a fuga desmantelou-se, as diferenças caíram a pique e, no pelotão, Nairo Quintana (Arkéa-Samsic) e o camisola da montanha, Wout Poels (Bahrain-Victorious), reavivaram o seu duelo por aquela classificação, adiantando-se na companhia de Élie Gesbert (Arkéa-Samsic) e Pierre Latour (TotalEnergies).

A Israel Start-Up Nation, que trabalhou estranhamente na frente do grupo durante dezenas de quilómetros, ‘falhou’ o alvo, deixando escapar os dois grandes rivais de Michael Woods na luta pela camisola às bolas vermelhas, e entregando então a perseguição à equipa do camisola amarela.

Em jornada de festa nacional em França, Anthony Perez, um ‘habitué’ das fugas, tentou dar uma alegria aos seus compatriotas no Dia da Bastilha, isolando-se rumo ao Col de Val Louron-Azet, a segunda contagem de primeira categoria do dia, antes de iniciar a descida que antecedeu a ascensão do Portet.

Classificada como de categoria especial, a subida ao ponto mais alto da estância de Saint-Lary-Soulan, com uma extensão de 16 quilómetros e uma pendente média de inclinação de 8,7 %, apareceu, ameaçadora, no horizonte de Perez, que iniciou a subida quase quatro minutos antes do pelotão, momentaneamente na companhia de Godon, mas foi rapidamente apanhado pelos favoritos, entretidos na luta pela geral.

O dia “mais duro” da 108.ª edição do Tour, nas palavras de Pogacar, fez várias vítimas, desde Enric Mas (Movistar) e Guillaume Martin (Cofidis), os primeiros a descolar - e também Ruben Guerreiro (EF Education-Nippo), que terminou na 15.ª posição, a 3.55 minutos do vencedor -, a Alexey Lutsenko (Astana), com Ben O'Connor (AG2R Citroën) a ser aquele que mais minimizou as perdas.

Foi o próprio camisola amarela a atacar, a oito quilómetros do alto, e a deixar em dificuldades o então vice-líder da geral Rigoberto Úran (EF Education-Nippo). Com o segundo lugar do colombiano como atrativo, Vingegaard colaborou para distanciar Úran, enquanto o equatoriano esteve sempre na defensiva, num ‘bluff’ que o levou ao pódio da geral, mas ter-lhe-á valido dois inimigos.

‘Pogi’ ainda acelerou novamente a dois quilómetros do final, mas não conseguiu ‘livrar-se’ dos dois grandes candidatos a acompanhá-lo no pódio em Paris, cabendo a Carapaz, com um ataque em força já dentro dos derradeiros 1.000 metros, a ‘honra’ de separar o trio.

Mas o dinamarquês da Jumbo-Visma cerrou os dentes, regressou ao grupo e ainda conseguiu ‘vingar’ a traição do vencedor do Giro2019: na luta pelo segundo lugar, foi mais rápido e cortou a meta a três segundos do camisola amarela, que concluiu a tirada em 5:03.31 horas, e um segundo diante do líder da INEOS.

Agora, o promissor Vingegaard ocupa a vice-liderança da geral, a 5.39 minutos da amarela, e Carapaz é terceiro a 5.43, com o colombiano da EF Education-Nippo aparentemente já demasiado distante do pódio, na quarta posição a 7.17.

A má jornada do seu líder não ofusca a prestação de Guerreiro, que subiu a 18.º da geral, a 49.01 minutos de Pogacar, enquanto Rui Costa, que hoje até teve de trocar de bicicleta e chegou a 28.59 do seu companheiro de equipa, é 73.º, a 2:32.44 horas.

Os Pirenéus despedem-se da 108.ª Volta a França na quinta-feira, uma jornada curta, mas intensa, de 129,7 quilómetros desde Pau, com passagem no emblemático Tourmalet, antes da chegada ao alto de Luz Ardiden.