Magnus Cort confirmou hoje estar numa 'história de amor' com a Volta a França em bicicleta, ao vencer a 10.ª etapa, numa jornada em que a debilitada UAE Emirates quase ‘entregou’ a amarela a Lennard Kämna.
O dinamarquês da EF Education-Easy Post uniu-se a uma ‘multidão’ de fugitivos, sobreviveu ao calor, ao desgaste e aos 19,2 quilómetros de subida da contagem de montanha de segunda categoria que antecederam a chegada à meta em Mègeve para, num impulso final, bater sobre o risco o australiano Nick Schultz (BikeExchange-Jayco) e festejar uma nova vitória na ‘Grande Boucle’, após a conquistada na sua estreia na prova, em 2018.
“É inacreditável. Não consigo acreditar no que acabou de acontecer. Estive no limite durante tanto tempo nesta subida […]. Perdi o contacto com o grupo algumas vezes nos últimos quilómetros. De repente, estávamos todos juntos novamente e eu pude conquistá-la no ‘sprint’”, resumiu o ciclista de 29 anos, já depois de reconhecer, ao jornalista que o entrevistava, que “sim”, está a viver uma história de amor com o Tour.
Magnus Cort nem precisava de ter vencido hoje para ser indiscutivelmente um dos protagonistas da 109.ª edição – afinal, tornou-se no primeiro corredor de sempre a vencer as 11 primeiras contagens de montanha da prova -, mas o triunfo tem um significado especial para o antigo líder da montanha, que também se destacou nas jornadas iniciais por ser o primeiro a integrar quatro fugas consecutivas desde Thomas de Gendt em 2017.
“É gigantesco. Para mim, durante a minha carreira, não haverá nada maior do que isto. Isto é o que eu consigo fazer, ‘caçar’ etapas e a Volta a França é a maior corrida”, confessou.
O dinamarquês foi quem mais beneficiou da complacência da UAE Emirates, que, reduzida a seis ciclistas, incluindo Tadej Pogacar, ‘desistiu’ de perseguir a fuga de 25 unidades e chegou à meta quase nove minutos depois, salvando, numa aceleração final e por apenas 11 segundos, a amarela do esloveno, virtualmente entregue ao ‘fugitivo’ Lennard Kämna (BORA-hansgrohe).
Depois das notícias ‘reconfortantes’ do dia de descanso, a covid-19 voltou para abalar o pelotão, nomeadamente a equipa do líder e bicampeão em título, que perdeu o neozelandês George Bennett e tem Rafal Majka positivo, mas em prova, com “um risco muito baixo de infetividade”.
No regresso à estrada, após a merecida pausa, os ciclistas tinham pela frente acidentados 148,1 quilómetros entre Morzine e Megève, numa aproximação aos Alpes convidativa a uma fuga, que chegou por iniciativa dos veteranos Philippe Gilbert (Lotto Soudal), Pierre Rolland (B&B Hotels-KTM) e Luis León Sánchez (Bahrain-Victorious) e do combativo Dylan van Baarle (INEOS), o vencedor da Paris-Roubaix.
O quarteto, que se destacou ao quilómetro 54, prontamente recebeu a companhia de uma ‘multidão', entre a qual se encontravam figuras como Cort e o seu companheiro Alberto Bettiol, Kämna, Filippo Ganna (INEOS), Christophe Laporte (Jumbo-Visma), Mads Pedersen (Trek-Segafredo), ou Edvald Boasson Hagen (TotalEnergies), além de Schultz.
Os 25 fugitivos asseguraram, desde logo, o sucesso da iniciativa, construindo uma vantagem que superou os nove minutos, muito por culpa da passividade da debilitada UAE Emirates na frente do pelotão.
Bettiol foi o primeiro a quebrar a harmonia na fuga, com um ataque a 42 quilómetros de Megève, e seguia isolado, com 25 segundos de diferença para os perseguidores, quando foi mandado parar devido a um protesto: manifestantes pró-clima bloquearam a estrada e a organização do Tour neutralizou a tirada.
A corrida retomou progressivamente, cerca de 10 minutos depois, com as diferenças registadas no momento da neutralização a serem respeitadas pela organização: Bettiol continuou na frente e o pelotão só regressou à estrada oito minutos depois, ainda mais lentamente do que até aí.
Mas o sonho do italiano da EF Education-EasyPost haveria de acabar a 12 quilómetros da meta e a decisão da etapa seria adiada para os derradeiros metros da tirada, com Cort a levar a melhor sobre Schultz, num renhido ‘sprint’ que exigiu ‘photo finish’.
Sete segundos depois do duo, que cumpriu a etapa em 3:18.50 horas, chegou León Sánchez, ‘promovido’ ao último lugar do ‘top 10’ do Tour, com Kämna a ser 10.º, a 22 segundos, e ter de aguardar mais de oito minutos para saber se a amarela era sua.
Pogacar, no entanto, não só não entregou a liderança ao alemão, como ainda ‘sprintou’ para ser o primeiro do pelotão, à frente de Jonas Vingegaard (INEOS), agora terceiro, por troca com o ciclista da BORA-hansgrohe, e de todos aqueles que o sucedem na geral, que cortaram a meta a 8.54 minutos do vencedor – Nelson Oliveira (Movistar) perdeu mais de 21 minutos e desceu a 77.º, a 53.07.
Com apenas 39 segundos de vantagem sobre um Vingegaard em excelente força e bem respaldado pela Jumbo-Visma, o jovem esloveno, de 23 anos, enfrentará na quarta-feira um decisivo teste à sua liderança, nos 151,7 quilómetros entre Albertville e o Col du Granon, um ‘gigante’ de 2.413 metros de categoria especial, que coincide com a meta.
A ‘monstruosa’ 11.ª etapa inclui ainda os incontornáveis Col du Télégraphe, de primeira categoria, e Galibier, o ponto mais alto desta edição (2.642 metros), alcançado depois de 17,7 quilómetros de escalada, com uma pendente média de 6,9%.
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