José Azevedo espera que a euforia em torno de João Almeida relance o ciclismo nacional, considerando que são os ídolos que movem multidões, mas que será necessário tentar não perder adeptos com a mesma rapidez com que foram conquistados.
“Gostava e espero que tenha um impacto positivo que relance a modalidade, que volte a trazer destaque na comunicação social. Ou seja, que o João traga esse impulso ao ciclismo, que nos últimos anos, por vários fatores, estava a passar uma fase que não era tão boa. No presente, aquilo que posso dizer é que se criou uma onda à volta do João, uma atenção de praticamente todas as pessoas – não são só os adeptos do ciclismo, que iriam seguir sempre o João, o ciclismo, o Giro, o Ruben [Guerreiro] e as corridas onde estão portugueses, mas de pessoas que não eram adeptas do ciclismo e passaram a gostar e a seguir”, destacou.
Depois de anos de complicados, reflexo da crise económica e do consequente desinvestimento de patrocinadores e autarquias, em que o ciclismo português “recuou e estagnou um pouco”, os feitos de João Almeida, quarto classificado no Giro e líder durante 15 dias, e Ruben Guerreiro, coroado ‘rei da montanha’, fizeram despertar não só o interesse da comunicação social, como o das pessoas que habitualmente não seguem a modalidade.
“Para o desporto evoluir, há uma série de fatores que são importantes, mas um deles é haver um ídolo. Um ídolo é que move os jovens, move multidões, move o povo e, por consequência, as marcas. Havendo multidões, uma massa, torna-se apetecível para elas”, notou em declarações à agência Lusa.
O atual diretor desportivo da equipa francesa Nippo Delko Provence, que, no domingo, viu João Almeida destroná-lo como melhor português de sempre na ‘corsa rosa’ (foi quinto classificado em 2001), espera que a atenção conquistada pelo ciclista da Deceuninck-QuickStep tenha vindo para ficar e apela à responsabilidade das pessoas ligadas à modalidade para que esta seja mantenha.
“Temos ali um jovem de 22 anos com muito potencial. Agora, também é preciso ser realista e falar verdade às pessoas: pelo que o João fez neste Giro, a conclusão que temos de tirar é que temos um jovem que demonstra que tem potencial para, nas provas de três semanas, lutar pelos primeiros lugares. Será um erro dizer que o João vai ganhar um Giro, uma Vuelta, um Tour, isso é algo que não se pode dizer. Há um caminho a percorrer, o João está numa fase de crescimento”, alertou.
Para o antigo ciclista, que tem três presenças no ‘top 10’ em grandes Voltas no currículo, Almeida ganhou muito na Volta a Itália que terminou no domingo.
“É importante pensarmos nisso para não passarmos de uma euforia a frustração. Como estes novos adeptos chegaram tão rápido e apaixonaram-se tão rápido, também não os podemos perder com a mesma rapidez. O que temos de ver é que se chegaram e foram atraídos é porque têm de gostar, caso contrário não conseguiriam estar 15 dias agarrados à televisão a ver diariamente o que acontecia nas etapas do Giro”, argumentou.
O importante, segundo Azevedo, é que “as pessoas compreendam que temos ali um ciclista jovem, que dignificou o desporto português, dignificou Portugal, e que tem todo o potencial para se bater pelos primeiros lugares nas grandes corridas”. “Não dizer que ele vai ganhar, porque depois lá vem outra vez a deceção. E não é só o João, porque há corredores com muito potencial em Portugal”, completou.
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