Começa este sábado mais uma edição da Volta a Itália. Será a 106.ª edição do Giro, que arranca com dois grandes favoritos a chegarem ao fim com a 'maglia rosa', mas com vários nomes apontados como possíveis candidatos, entre eles o português João Almeida, que tão boa conta deu de si em anteriores edições da prova.
Antes de os ciclistas começarem a pedalar, na 1ª etapa - um pequeno contra-relógio individual de 19,6 quilómetros na Costa dei Trabocchi, na região de Abruzzos - apresentamos-lhe o percurso, os principais candidatos à vitória e recordamos o historial daquela que é uma das três maiores provas por etapas do ciclismo mundial (e talvez a mais dura).
A primeira das 'três grandes'
A Volta à Itália, mais conhecida no mundo do ciclismo como Giro d’Itália, decorre este ano 6 e 28 de maio. Será a 106.ª edição da prova, cuja realização foi inspirada na Volta à França, tendo por base uma iniciativa do jornal Gazzetta dello Sport que, após o sucesso do Giro da Lombardia e da Milão - San Remo, decidiu avançar com o Giro de Itália. A primeira edição teve lugar em maio de 1909.
A dia 13 de maio de 1909, 127 ciclistas iniciaram então o primeiro Giro de Itália, com partida em Milão. A prova teve oito etapas e um total de 2.448 quilómetros. Apenas 49 ciclista a chegaram ao fim, com a vitória final a sorrir a Luigi Ganna. Desde então, apenas as duas grandes guerras interromperam a realização daquele que, ano após anos, se foi tornando num dos maiores acontecimentos do ciclismo mundial, sendo a par da Volta a França e da Volta a Espanha uma das três maiores provas por etapas da modalidade. E, desde que a Volta a Espanha passou a ser corrida no final do Verão, o Giro passou a ser também a primeira grande volta a ser disputada em cada ano.
Qual o percurso este ano? Que etapas prometem maior espetáculo?
Esta edição de 2023 tem como principal novidade a existência de três contrarrelógios individuais, num total de 70,6 km. Para além do da etapa inaugural, teremos outro, plano, de 35 quilómetros, na 9.ª etapa, entre Savignano sul Rubicone - Cesena e um terceiro quase a fechar, na penúltima etapa: uma cronoescalada de 18,6 km com chegada no Monte Lussari, que se poderá revelar decisiva para o desenlace da prova.
O Giro 2023 terá no total 3.448,6 km, com sete das etapas a ultrapassarem os 200 quilómetros de extensão. Oito etapas são apontadas como propícias para para sprinters: Etapa 2 (dia 7 de maio), Etapa 5 (dia 10), Etapa 6 (dia 11), Etapa 10 (dia 16), Etapa 11 (dia 17), Etapa 14 (dia 20), Etapa 17 (dia 24), Etapa 21 (dia 28).
Para além da cronoescalada da penúltima etapa (marcada para 27 de maio, penúltimo dia da prova), existirão outras cinco etapas de alta montanha - Etapa 7 (12 de maio), Etapa 13 (19 de maio), Etapa 15 (21 de maio), Etapa 16 (23 de maio), Etapa 19 (26 de maio) - e um total de seis chegadas em alto: Gran Sasso d´Italia, Crans Montana, Monte Bondone, Val di Zoldo, Tre Cime di Lavaredo e Monte Lussari), para além de quatro etapas de média montanha.
A Etapa 4, na terça-feira, 9 de maio, será a primeira etapa mais exigente, com uma série de subidas que somam no total 3.500 metros de desnível. A subida final, ao Lago Laceno, a cerca de 4,5 km da meta, tem 9,6 quilómetros de extensão e uma pendente média de 6,2%, com rampas que chegam aos 12%.
Porém, será a Etapa 7 (sexta-feira, dia 12) aquela que marcará as primeiras grandes diferenças entre os candidatos, sendo a primeira em que os ciclistas irão ultrapassar os 2.000 metros de altitude, sendo também, com com 218 km, a etapa mais longa do Giro de 2023.
A não perder será também a Etapa 13, com 208 km e três grandes subidas no perfil, junto aos Alpes. A subida final é até Crans Montana, que começa íngreme, com secções de 13%.
Mas a etapa que todos classificam como 'Etapa Rainha' é a Etapa 19 (a antepenúltima, a 26 de maio, sexta-feira), que combina uma subida múltipla pelas Dolomitas com um final íngreme, junto aos picos de Tre Cime di Lavaredo. Nas rampas mais íngremes desta etapa teremos inclinações de 18%.
E, claro, para o dia seguinte, o penúltimo (27 de maio, sábado) teremos a tal cronoescalada. Os primeiros 10 quilómetros serão numa ciclovia ligeiramente descendente e muito rápida, mas os oito quilómetros seguintes, rumo ao topo do Monte Lussari, contam com uma inclinação média de 12,1% em piso difícil. A rampa final, até o santuário, tem 22% de inclinação.
Ao todo, os ciclistas irão enfrentar um desnível positivo de 51.300 metros. Ao contrário das edições mais recentes, em que o Giro terminou com um contra-relógio individual, desta feita a derradeira etapa será em linha, de consagração, na capital, Roma. Pelo meio, dois (certamente bem-vindos) dias de descanso (a 15 e 22 de maio)
Etapas do Giro d’Italia 2023
1ª etapa – sábado – 6 de maio – Fossacesia Marina – Ortona 19,6 km (Contrarrelógio)
2ª etapa – domingo – 7 de maio – Teramo – San Salvo 201 km
3ª etapa – segunda-feira – 8 de maio – Vasto – Melfi 216 km
4ª etapa – terça-feira – 9 de maio – Venosa – Lago Laceno 175 km
5ª etapa - quarta-feira - 10 de maio - Atripalda - Salerno 171 Km
6ª etapa – quinta-feira – 11 de maio – Nápoles – Nápoles 162 km
7ª etapa – sexta-feira – 12 de maio – Capua – Gran Sasso d’Italia (Campo Imperatore) 218 km
8ª etapa – sábado – 13 de maio – Terni – Fossombrone 207 km
9ª etapa – domingo – 14 de maio – Savignano sul Rubicone – Cesena 35 km (Contrarrelógio)
Descanso – Segunda-feira – 15 de maio
10ª etapa – terça-feira – 16 de maio – Scandiano – Viareggio 196 km
11ª etapa – quarta-feira – 17 de maio – Camaiore – Tortona 219 km
12ª etapa – quinta-feira – 18 de maio – Bra – Rivoli 179 km
13ª etapa – sexta-feira – 19 de maio – Borgofranco d’Ivrea – Crans Montana 207 km
14ª etapa – sábado – 20 de maio – Sierre – Cassano Magnago 193 km
15ª etapa – domingo – 21 de maio – Seregno – Bergamo 195 km
Descanso – Segunda-feira – 22 de maio
16ª etapa – terça-feira – 23 de maio – Sabbio Chiese – Monte Bondone 203 km
17ª etapa – quarta-feira – 24 de maio – Pergine Valsugana – Caorle 195 km
18ª etapa – quinta-feira – 25 de maio – Oderzo – Val di Zoldo 161 km
19ª etapa – sexta-feira – 26 de maio – Longarone – Tre Cime di Lavaredo 183 km
20ª etapa – sábado – 27 de maio – Tarvisio – Monte Lussari 18,6 km (Contrarrelógio)
21ª etapa – domingo – 28 de maio – Roma – Roma 135 km
Quem são os principais candidatos à vitória?
O belga Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step) e o esloveno Primoz Roglic (Jumbo-Visma) são apontados como os grandes favoritos à conquista desta Volta a Itália, à frente de um lote alargado de candidatos que também têm legítimas aspirações à vitória final.
Vencedor da Volta a Espanha em 2022, quando já começavam a soar as dúvidas sobre se teria capacidade de vencer uma corrida de três semanas, Evenepoel, de apenas 23 anos, chegará ao Giro - prova em que falhou em 2021, abandonando após ter-se ‘afundado’ na geral -, como renovado favorito, ainda para mais com as cores do arco-íris no corpo, símbolo de campeão do mundo.
A desafiá-lo estará Roglic, mais experiente e mais habituado a vencer em série, tendo conquistado a Volta a Espanha três vezes seguidas (2019-2021), no meio de 72 vitórias como profissional, mas que, no Giro, foi ‘apenas’ terceiro em 2019.
No regresso à competição, após ter estado parado desde inícios de setembro e ter sido operado ao ombro direito, o esloveno de 33 anos mostrou uma forma imbatível até aqui, tendo vencido as duas corridas em que participou em 2023: o Tirreno-Adriático, à frente do português João Almeida (UAE Emirates), e a Volta à Catalunha, onde ele e Evenepoel, segundo, deram espetáculo e demonstraram estar uns ‘degraus’ acima de todos os outros.
Entre os outros nomes que tentarão contrariar o favoritismo destes dois estarão Remco Evenepoel, Aleksandr Vlasov, Geraint Thomas, Lennard Kamna, Tao Geoghegan Hart, Hugh Carthy, Thymen Arensman, Rigoberto Uran, Jay Vine, Gino Mader, Damiano Caruso, Jack Haig, Thibaut Pinot e, claro, João Almeida.
Entre os sprinters, destaque para a presença do britânico Mark Cavendish, agora ciclista da Astana.
E o João Almeida, tem hipóteses?
João Almeida regressa, uma vez mais, à Volta a Itália, prova na qual, em 2020, acabou no quarto lugar e vestiu a camisola de líder durante 15 dias. Depois, em 2021, terminou na sexta posição e, em 2022, já na sua atual equipa, a UAE Emirates, acabou por ser forçado a desistir na derradeira semana, com COVID-19.
Agora, em 2023, vai uma vez mais ser o chefe-de-fila da Emirates e apresenta legitimas aspirações de chegar, pelo menos, ao pódio e, quem sabe, de se intrometer mesmo na luta pela camisola rosa, símbolo de líder.
Aos 24 anos, o português vai então disputar o Giro pela quarta vez, numa temporada em que já foi 3.º na Volta à Catalunha (atrás de Roglic e Evenepoel), 2.º no Tirreno-Adriatico (atrás de Roglic) e 6.º na Volta ao Algarve.
A seu lado, na Emirates, para o ajudar terá o sprinter alemão Pascal Ackerman, os italianos Alessandro Covi, Davide Formolo e Diego Ulissi, o sul-africano Ryan Gibbons, o norte-americano Brandon McNulty e o australiano Jay Vine.
"Depois de forma desapontante como acabei a corrida no ano passado estou claramente com fome para mais e para lutar por um grande resultado nesta edição. A preparação correu muito bem, fizemos um grande bloco de treinos em altitude na Serra Nevada e este ano tenho tido resultados consistentes. Como grupo também estamos muito consistentes", disse o ciclista portuguès ao site da equipa.
“Naturalmente, o meu objetivo é conseguir uma boa classificação geral, mas também temos o Pascal para os sprints e outros que já ganharam etapas no Giro. Eu penso que estamos preparados para uma grande corrida", acrescentou João Almeida.
Quem é que ganhou mais vezes a Volta a Itália?
Vencedor em 2022, o australiano Jai Hindley não vai estar este ano na prova para defender o título. O vencedor da edição de 2021, o colombiano Egan Bernal, também não vai participar. Mas em prova estará o vencedore de 2020, o britânico Tao Geoghegan Hart. Também de fora fica o de 2019, colombiano Richard Carapaz.
Da lista de antigos vencedores da prova, num passado mais recente, encontramos nomes como van Basso, Alberto Contador ou Vincenzo Nibali. Os três triunfaram por duas vezes na prova, mas ficaram ainda assim longe do recorde de cinco triunfos de detido por Alfredo Binda (na década de 1920) e pelos lendários Fausto Coppi (na década de 1940 e 1950) e Eddy Merckx (na década de 1960 e 1970).
Outras lendas do ciclismo mundial, como Bernard Hinault (3 vitórias) ou Miguel Indurain (2 vitórias), também lograram vencer a competição em mais do que uma edição. Grandes nomes, como Marco Pantani ou Chris Froome também escreveram o seu nome no rol de vencedores, mas apenas por uma ocasião cada.
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