Sandro Araújo candidatou-se à presidência da Federação Portuguesa de Ciclismo num momento “extremamente crítico”, mas que oferece “um manancial de oportunidades para explorar”, defendendo que a modalidade precisa “de um plano estratégico”.
Depois de 12 anos como vice-presidente de Delmino Pereira, Sandro Araújo decidiu avançar com uma candidatura “na ausência de uma perspetiva de consolidação e ambição para o ciclismo nacional”, num momento que define como “extremamente crítico, muito desafiante, mas também com um manancial de oportunidades para explorar”.
“Estamos a falar de um período em que, se por um lado, temos um perfil mediático de visibilidade do ciclismo associado às recentes vitórias, a nível olímpico, mas também ao enorme mediatismo dos nossos corredores que estão no WorldTour, [por outro] o ciclismo, a estrutura federada, os clubes estão a enfrentar enormes dificuldades, que têm a ver com alterações estruturais mas também com uma incapacidade que ao longo dos últimos anos o sistema demonstrou em lidar com novos desafios”, elucidou.
Em entrevista à agência Lusa, o também vice-presidente do Comité Paralímpico de Portugal defendeu que “o ciclismo precisa de uma estratégia e de um plano estratégico, com uma equipa forte”.
“É fundamental autonomizar a gestão do ciclismo profissional para dar a devida resposta às necessidades das equipas e também àquilo que é a aspiração da face mais visível do nosso ciclismo. E, em segundo lugar, trabalhar muito o ciclismo, trazendo-o de volta às cidades. Temos de crescer. E, no fundo, o fazer crescer a base de praticantes implica trazer o ciclismo para as cidades, implica alargar a prática a muito mais mulheres e raparigas, e ter um perfil de visibilidade e de marketing que até agora não tem sido possível de fazer”, enumerou.
Araújo pretende ainda “reformular todo o sistema de gestão e planeamento que acaba por ter um impacto significativo naquilo que é a atividade dos clubes e dos agentes desportivos que compõem o sistema federado”.
O candidato às eleições de sábado nota que ainda “há muito trabalho por fazer” no desenvolvimento das várias vertentes do ciclismo, concedendo que “os recursos são finitos”, mas alertando que “a falta de planeamento custa muito dinheiro”.
“Não há aqui varinhas mágicas, por isso as soluções têm de ser múltiplas e vão passar, por um lado, por um processo que vai tornar mais eficiente todo o trabalho da federação e o sistema federado […] do ponto de vista da utilização dos recursos. Nós estimamos que poderão ser melhorados em 20, 25%”, avançou.
O vice-presidente da FPC insistiu na necessidade de “trabalhar como nunca” a componente do marketing e da comunicação da federação e do ciclismo, valorizando “os aspetos mais inovadores e pioneiros” da modalidade.
“Não pretendemos estar a fazer um desinvestimento nas áreas que existem, entendemos que é necessário tornar mais eficiente o sistema e encontrar mais receitas, mais recursos para trabalhar”, completou.
Com a pista em alta, após o ouro olímpico no madison de Rui Oliveira e Iúri Leitão, que também foi ‘vice’ no omnium, Araújo assegurou que a sua equipa não se oporá “se um município tiver disponibilidade para fazer um investimento num novo velódromo”, mas acredita que faria “muito mais sentido” investir na manutenção e até na construção de pistas ao ar livre, “que são muito mais baratas e permitem a prática do ciclismo onde há mais pessoas”.
“Outra medida é criar uma carta desportiva nacional de infraestruturas cicláveis, que garanta e legitime infraestruturas como pistas de BTT, que existem nos centros urbanos, pistas de BMX. Há vertentes que não têm sido tão bem acauteladas, porque os recursos são finitos, mas temos uma visão muito concreta do que é possível fazer”, afirmou.
O candidato quer posicionar a modalidade de “uma forma mais fresca e de cara lavada”, afastando “a nuvem tóxica da dopagem, que é um tema que condiciona muito até a angariação de parceiros e patrocinadores”.
“O protocolo com a ADoP representa um passo importante que deve ser, na nossa perspetiva, ainda mais reforçado e intensificado nos anos vindouros. A dopagem é […] o único [tema] em que esta candidatura entende que deve ser absolutamente intransigente”, declarou, advogando que é preciso mudar a mentalidade do pelotão nacional.
“A alteração da cultura passa por fazer crescer o número de entidades, atletas e agentes desportivos envolvidos. Temos de arejar o ciclismo, trazer pessoas e clubes diferentes, pessoas novas, com outro tipo de mentalidades, e ao mesmo tempo trabalhar muito nas questões da formação”, exemplificou.
Já quanto à concessão da Volta a Portugal “o evento-âncora de todo o ciclismo nacional”, o vice-presidente da FPC “não assume à partida se um contrato tem de ser renovado”.
“O que posso dizer é que a federação não deverá organizar provas, exceto se forem cumpridas duas condições: em primeiro lugar, ser um evento estratégico para o desenvolvimento desportivo da modalidade, e a Volta a Portugal obviamente que o é. […] Em segundo lugar, a federação terá de assumir caso não seja possível concessionar o evento, cumprindo com aquilo que sejam os níveis de contrapartida financeiros, mas também desportivo e mediático que entendemos ser necessários”, detalhou.
Questionado sobre se pondera colaborar com o vencedor em caso de derrota, Araújo reiterou que “o objetivo é vencer as eleições e apresentar uma proposta de mudança que envolva todas as partes”.
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