Marcel Kittel (Quick Step-Floors) aumentou hoje a sua lenda na Volta a França, ao tornar-se, em Pau, no primeiro ciclista em 108 anos a ganhar cinco das primeiras 11 etapas da prova.
Um dia depois de se converter no alemão mais vitorioso da história do Tour, Marcel Kittel voltou a erguer os braços para consagrar-se como o primeiro ciclista a conquistar cinco das 11 primeiras etapas da prova francesa desde François Faber, em 1909.
“É incrível. Às vezes, penso que, quando estás ao teu melhor nível, o ‘sprint’ é como jogar Tetris. Parece que nos últimos jogos consigo encontrar sempre os espaços certos. Nunca cometo um erro e as linhas são perfeitas”, descreveu metaforicamente o 'gigante' da Quick Step-Floors, que não se esqueceu de elogiar o trabalho dos seus companheiros: “São todos campeões.”
Vencedor de cinco das seis chegadas ao ‘sprint’ da 104.ª edição – só a quarta etapa lhe escapou para o campeão francês Arnaud Démare (FDJ) – e de 14 etapas desde 2013, Kittel viu hoje perigar o triunfo, por obra do polaco Maciej Bodnar (Bora-hansgrohe), que andou mais de 200 quilómetros em fuga e só foi apanhado a 300 metros da meta, mas deu mais um passo na direção do recorde absoluto.
Kittel, que já superou o seu melhor registo na Volta a França (somou quatro triunfos em 2013 e 2014), está a três etapas de igualar o francês Charles Pélissier (1930) e os belgas Eddy Merckx (1970, 1974) e Freddy Maertens (1976), que somaram oito numa única edição.
Mas, para que o ‘sprint’ fosse possível, os inesgotáveis Tiago Machado (Katusha Alpecin), Julian Vermote (Quick Step-Floors) e Lars Bak (Lotto Soudal), que hoje substituiu o ‘habitué’ Thomas de Gendt, voltaram-se a unir na frente do pelotão e por lá ficaram, durante grande parte dos 203,5 quilómetros da tirada, no encalço de Bodnar, Frederik Backaert (Wanty-Groupe Gobert) e Marco Marcato (UAE Team Emirates), que saltaram para a frente assim que foi dada a partida real, em Eymet.
O jogo do gato e do rato, diariamente calculado ao milímetro pelo pelotão, que hoje concedeu uma margem máxima de cinco minutos, para prontamente a reduzir para dois, acabou por sair frustrado, porque os comboios dos homens velozes não contaram com a tenacidade de Bodnar.
O polaco, de 32 anos, despediu-se dos seus companheiros de jornada a 28 quilómetros de Pau e não só não perdeu tempo para os perseguidores, como ganhou, obrigando à intervenção urgente de portentos como Tony Martin (Katusha Alpecin) e Tim Wellens (Lotto Soudal) – a dez quilómetros da meta, ainda tinha 40 segundos de vantagem.
A 2.000 metros da meta, houve um momento de angústia na frente do pelotão, com as equipas a esbracejarem umas com as outras, até recuperarem a lucidez e reduzirem drasticamente a diferença para o ciclista da Bora-hansgrohe, que, num exercício da bravura, se manteve na frente até aos derradeiros 300 metros.
Ao deixar de pedalar, Bodnar ‘obrigou’ Kittel a desviar a sua trajetória para ultrapassá-lo. Mas, neste estado de forma, nada perturba o colosso alemão, que recuperou do espaço para os adversários e ainda foi a tempo de derrotá-los, batendo o holandês Dylan Groenewegen (LottoNL-Jumbo), que descarregou toda a sua frustração no guiador, e o norueguês Edvald Boasson Hagen (Dimension Data), respetivamente segundo e terceiro.
Com as mesmas 4:34.27 horas do vencedor, chegou Chris Froome (Sky), que escapou aos azares que apanharam Romain Bardet (AG2R La Mondiale), vítima de duas quedas, Jakob Fuglsang (Astana) e Alberto Contador (Trek-Segafredo).
Apesar dos percalços, a classificação geral, na qual Machado é 56.º a 47.32 minutos, continua imutável na véspera da incursão dos Pirenéus: o britânico vai partir para os duríssimos 214,5 quilómetros entre Pau e o alto de Peyragudes com 18 segundos de vantagem sobre o italiano Fabio Aru (Astana) e 51 sobre Bardet.
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