Mathieu van der Poel tem uma nova camisola para vestir, depois de hoje ter vencido uma das melhores provas de fundo da história dos Mundiais de ciclismo, com Wout van Aert a ser segundo e Tadej Pogacar terceiro.
Este era o pódio de sonho dos fãs da modalidade e os três não desiludiram, com o neerlandês a ser um justíssimo vencedor, depois de atacar a mais de 20 quilómetros da meta, cair e, ainda assim, ganhar tempo ao grupo de perseguidores, cortando a meta isolado, após 6:07.27 horas na estrada.
Seis meses depois de ter sido segundo atrás do seu eterno ‘inimigo’ nos Mundiais de ciclocrosse, Wout van Aert voltou a ocupar a mesma posição, agora na estrada, gastando mais 1.37 minutos do que Van der Poel. O esloveno Tadej Pogacar, que nem tinha os Campeonatos do Mundo de Glasgow nos seus planos, foi terceiro, a 1.45.
“[O título mundial] Significa tudo. Era um dos grandes objetivos que ainda me faltava. Ganhar hoje é fantástico. Quase completa a minha carreira, na minha opinião. Para mim, talvez seja a [minha] maior vitória na estrada. Nem consigo imaginar como será vestir arco-íris o ano todo”, disse o talentoso neerlandês, ‘dono’ de um palmarés invejável, que inclui, entre outras, vitórias na Paris-Roubaix (2023), Milão-Sanremo (2023), Volta a Flandres (2020 e 2022), Amstel Gold Race (2019), Strade Bianche (2021) e numa etapa do Tour, com direito a amarela.
O muito criticado percurso da prova de fundo revelou-se absolutamente espetacular – e implacável, já que só 51 ciclistas chegaram ao final, entre os quais o português Nelson Oliveira - e Van der Poel pôde redimir-se do ano passado, quando foi detido na Austrália por uma altercação no hotel no dia anterior à corrida de fundo, no decurso da qual acabou por desistir. “Foi um pouco como vingança em relação ao ano passado”, declarou, emocionado, o agora vigente campeão mundial de estrada e ciclocrosse.
Ainda a partida real para os 271,1 quilómetros da prova de fundo dos Mundiais de Glasgow não tinha sido dada e já João Almeida tinha caído, numa zona de 'pavé' na cidade de Edimburgo, permanecendo longos quilómetros atrás do pelotão e recebendo assistência médica aos visíveis cortes no pulso esquerdo.
O líder da seleção portuguesa reentrou no grupo numa altura em que o austríaco Patrick Gamper, o irlandês Rory Townsend, o britânico Owain Doull, o australiano Matthew Dinham, o colombiano Harold Tejada, o norte-americano Kevin Vermaerke, o neozelandês Ryan Christensen, o checo Petr Kelemen e o letão Krists Neilands, um dos corredores ‘sensação’ do último Tour, andavam em fuga.
A cerca de 191 quilómetros da meta, os comissários travaram os homens da frente, que chegaram a dispor de uma vantagem de nove minutos, devido a um protesto na estrada, no qual os manifestantes se colaram à estrada com cimento.
Os grupos foram sendo sucessivamente parados e, depois de praticamente uma hora de espera, os ciclistas retomaram o caminho, com os comissários a darem ‘ordem de largada’ consoante as diferenças registadas quando a prova foi interrompida.
À entrada do muito criticado circuito urbano de Glasgow, considerado demasiado técnico e perigoso pelos ciclistas, a vantagem dos homens da frente já estava reduzida a quatro minutos e a ‘chuva’ de quedas acentuou-se.
Ainda faltavam 134 quilómetros para a meta quando Julian Alaphilippe atacou: o francês, antigo bicampeão mundial (2020 e 2021), foi a primeira das ‘estrelas’ a mexer na corrida, seguindo-se Alberto Bettiol, com o ataque do italiano a expor as debilidades do então campeão mundial em título, o belga Remco Evenepoel.
Numa verdadeira corrida de eliminação, as desistências foram-se acumulando e os ciclistas em dificuldade também, com a Dinamarca a acelerar o ritmo impiedosamente, numa altura em que o teórico líder da França, Christophe Laporte, furou e perdeu as esperanças de ser campeão do mundo, acabando por desistir, tal como Alaphilippe.
Evenepoel esteve no ‘elástico’ durante muito tempo – não estava na frente quando Kevin Vermaerke, o último dos resistentes da fuga, foi apanhado já dentro dos derradeiros 73 quilómetros -, mas foi-se mantendo entre os corredores que iriam discutir as medalhas, num grupo em que Bettiol foi um dos mais ativos, atacando a 50 quilómetros da meta.
O jovem belga, o grande derrotado do dia, pagou cara a sua arrogância – continua a dar mostras de imaturidade e de soberba, ao atacar tantas vezes depois de passar dificuldades – e ficou definitivamente afastado da revalidação do título quando não conseguiu seguir o compatriota, mas adversário, Van Aert, ‘MVDP’, Pogacar e Mads Pedersen, o quarteto que perseguia o italiano.
A ‘aventura’ de Bettiol acabou assim que Van der Poel atacou, relegando os outros três ‘grandes’ ao estatuto de perseguidores. Quando parecia lançado para o triunfo, o neerlandês caiu, a pouco mais de 16 quilómetros da meta, mas nem assim perdeu ‘embalo’, chegando até a ganhar tempo ao ‘trio’.
Com o equipamento rasgado e com sangue e um dos sapatos desapertados, o neerlandês de 28 anos pedalou para o há muito desejado arco-íris, enquanto Van Aert atacava no grupo perseguidor e se isolava rumo à prata. Pogacar e Pedersen chegaram à meta juntos e o esloveno, recém-sagrado ‘vice’ do Tour (pelo segundo ano consecutivo), surpreendeu ao bater ao sprint o mais rápido dinamarquês.
Nelson Oliveira honrou novamente a seleção nacional, sendo 46.º classificado, a 14.13 minutos do vencedor. Foi o único dos portugueses a concluir a prova, já que Almeida, Ruben Guerreiro e André Carvalho desistiram.
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