O ‘draft’ de Nova Iorque poderá ser a porta de entrada de Portugal no mais espetacular campeonato do mundo, a Liga norte-americana de basquetebol (NBA), na qual nunca houve qualquer jogador nascido em solo luso.

Neemias Queta, um miúdo ‘made in’ Barreiro, pode, do alto dos seus 2,13 metros, mudar o destino luso numa modalidade que tem uma grande legião de fãs em Portugal, quase todos direcionados, precisamente, para a competição norte-americana.

Para a história do basquetebol português, seria um acontecimento, tão poucos são os pontos altos da modalidade a nível internacional, de clubes a seleções, passando pelos seus principais protagonistas, jogadores ou treinadores, deixando de ‘fora’ os árbitros, únicos que têm estado ao mais alto nível.

A primeira vez que Portugal apareceu ‘fora de portas’ foi a meio dos anos 90 do século passado, quando, comandado por Mário Palma, coadjuvado pelo atual selecionador luso Mário Gomes, o Benfica tinha uma grande equipa.

Liderada pelos ‘triplos’ de Carlos Lisboa, considerado o melhor jogador português de ‘todos os tempos’, e a elegância do angolano Jean Jacques, mais Pedro Miguel, José Carlos Guimarães, Mike Plowden e Carlos Seixas, a formação ‘encarnada’ conseguiu bater-se com as principais equipas do ‘velho continente’.

Os ‘encarnados’ qualificaram-se três vezes seguidas para a fase de grupos do então Campeonato da Europa de clubes – a Euroliga da atualidade, mas no seio FIBA -, entre 1993/94 e 95/96, e somou uma dezena de vitórias para a ‘lenda’.

O Buckler Bolonha (102-90), de Predrag Danilovic, autor de 33 pontos na Luz, o Cibona Zagreb (67-66), o Juventut Badalona (79-76 fora, após prolongamento), de Zeljko Obradovic, o Pau Orthez (80-72) e o Clear Cantú (83-74) foram batidos pelo Benfica na estreia, em 1993/94, sendo que os espanhóis acabaram campeões.

Depois, em 1994/95, entraram na lista o CSKA Moscovo (102-80) e o PAOK (77-75), e, em 1995/96, de novo, o Pau Orthez (99-90) e, a finalizar, o também campeão Panathinaikos (96-87), da ‘estrela’ norte-americana Dominique Wilkins.

Com um ‘5’ alto e forte e a manutenção dos jogos no ‘velhinho’ Pavilhão da Luz, do qual o Benfica saiu após a primeira época devido à falta de condições do recinto para um evento deste nível, os ‘encarnados’ poderiam ter conseguido ainda mais.

Depois do Benfica se mostrar à Europa, o basquetebol português brilhou no feminino, não coletivamente, mas pelas mãos e a ‘magia’ da base Patrícia ‘Ticha’ Penicheiro, que entrou pela porta grande do segundo lugar do ‘draft’ de 1998 na WNBA, a Liga norte-americana de basquetebol feminina.

Em 15 épocas na WNBA, de 1998 a 2021, a ‘menina’ da Figueira da Foz, que se sagrou campeã em 2005, tornou-se uma figura incontornável da história da competição, sendo eleita em 2016, nos 20 anos da prova, uma das 20 melhores de sempre – como havia sido em 2011 para o ‘top 15’.

Ticha acabou a carreira como a jogador com mais assistências (2.599), sendo – ultrapassada por Sue Bird – ainda segunda da tabela, registo que também ostenta nos roubos de bola (764), numa carreira em que foi eleita três vezes para o ‘cinco ideal’ e foi quatro vezes para o ‘All Star Game’.

A internacional lusa, em mais de 100 vezes, cumpriu 12 épocas nas Sacramento Monarchs (1998 a 2009), duas nas Los Angeles Sparks (2010 e 2011) e uma nas Chicago Sparks (2012), tendo-se despedido da WNBA em 22 de setembro de 2012.

Durante a ‘estadia’ de Ticha na WNBA, Portugal conseguiu um feito no masculino, ao qualificar-se pela primeira vez – tinha estado em 1951 por convite – para a fase final de um Europeu, em 2007, em Espanha, onde conseguiu um brilhante nono lugar.

Uma vitória na primeira fase, sobre a Letónia (77-67), e outra na segunda, frente a Israel (94-85), valeram ao ‘cinco’ do ucraniano Valentyn Melnychuk o ‘brilharete’, sendo que os ‘quartos’ estiveram a uma ‘impossível’ vitória sobre a Grécia.

João ‘Betinho’ Gomes, João Santos, Francisco Jordão, Filipe da Silva, Elvis Évora, Miguel Minhava, Paulo Cunha, Miguel Miranda e Jorge Coelho foram alguns dos protagonistas da formação das ‘quinas’, mais do que o ‘incontornável’ Sérgio Ramos, que acabou a carreira após o Eurobasket.

Portugal ainda esteve no Europeu de 2011, mas perdeu os cinco jogos disputados, e já há mais de uma década que não se qualifica para uma grande competição, nem tem estado perto, esperando-se que tudo possa melhorar com a ‘geração Queta’, já vencedora de Divisão B do Europeu de sub-20, em 2019.