A basquetebolista internacional portuguesa Sara Djassi vai pedir auxílio psicológico, após ter denunciado na segunda-feira abusos verbais e assédio físico imposto pelo treinador da equipa espanhola Ciudad de La Laguna Tenerife, em 2015/16.
“Pensei que este tinha sido um mero episódio da minha vida, que simplesmente tinha ficado para trás e seguia em frente. Na altura, não procurei um psicólogo, mas agora preciso claramente e estou disposta a isso, tal como me têm aconselhado os amigos mais próximos”, partilhou à agência Lusa a extremo das inglesas Manchester Mystics.
Sara Djassi, de 30 anos, escreveu uma carta aberta no jornal espanhol Columna Cero a narrar a “pior experiência da sua vida”, vivida no emblema das Ilhas Canárias, do segundo escalão do país vizinho, devido ao comportamento do técnico Claudio García, que teceu comentários “inapropriados” numa relação que “nunca foi saudável desde o princípio”.
“’Tu, portuguesa, tens um bom rabo’. Foi a partir daí que o meu comportamento mudou completamente. Evitava o mínimo contacto possível com o treinador e também acabei por sentir complexos em usar a roupa do clube, pois os calções eram justos. Sentia-me dominada psicologicamente até ao dia em que decidi abandonar o clube”, apontou.
Os episódios agravaram-se até às férias de natal, quando a jogadora lisboeta “pensou em sair” e contactou o agente para apresentar a desvinculação unilateral, desfecho que ficou pendente em virtude de uma reunião mantida com Claudio García, que prometeu “mudar de atitude”, mas sem “melhorias à vista”, despertando a rescisão em janeiro de 2016.
“Num treino de lançamentos, ele pediu-me para acelerar, mas, ao ver que não conseguia devido à minha lesão, gritou que não seria mais paga e que mandava em mim. Impus-me e decidi sair do treino, mas ele dirigiu-se para a porta do pavilhão e tentou evitar a saída, empurrando-me três vezes com o corpo. Passei a custo por debaixo das pernas dele, corri para o meu prédio e tive pensamentos negativos sobre a minha existência”, contou.
Afetada pela ideia repentina de “querer desaparecer”, Sara Djassi tinha acabado de regressar da esquadra de La Laguna, onde a “falta de provas” inviabilizou uma queixa-crime, argumento que também motivou uma “reposta negativa” da Federação Espanhola de Basquetebol em relação ao auxílio pedido pelo irmão para “lidar com abusos”.
“Sair em dezembro tinha sido o melhor para o meu bem-estar, mas havia o medo de não encontrar trabalho. A minha mãe estava desempregada e foi a razão número um para eu ter ficado. Sofri por ela, mas pensava que era um mal necessário. Havia muitas coisas que não contava porque não queria preocupá-la”, reconheceu.
A “raiva” de Sara Djassi subia com as tentativas frustradas de diálogo junto do presidente do clube, Claudio García Castillo, cuja conivência face à conduta do filho originou uma série de rescisões noutras épocas, incluindo as saídas da espanhola Laura Chahrour e da norte-americana Kayla Woodward, ambas colegas da internacional lusa, em 2015/16.
O técnico servia-se dos procedimentos disciplinares inscritos num regulamento geral, que todo o plantel teve de subscrever no início da temporada, através do qual impôs “o corte total do salário de janeiro” e acusou a atleta de “ter estragado a casa, não ter entregue a chave e estar obrigada a pagar 200 euros por sessões de fisioterapia à revelia do clube”.
“Gostava de ter tido mais proteção do meu agente face à conduta abusiva do Claudio García. Nunca quis assinar o regulamento interno do clube, mas ele disse que não fazia mal e eu confiei nele. No entanto, isso deixou-me ainda mais sem direitos como jogadora. Tive a oportunidade de ir para o Adareva Tenerife e nem pensei duas vezes”, frisou.
A extremo recusava “aceitar uma coisa anormal e que ninguém contestava”, à exceção de Kayla Woodward, “o porto seguro entre setembro e dezembro”, com quem encontrou forças para “produzir sempre que ia à guerra”, como atestam as estatísticas de 7 pontos, 3,9 ressaltos e 1,7 assistências numa média de 24.49 minutos por encontro.
O Ciudad de La Laguna Tenerife desmentiu as acusações de Sara Djassi e disse estar a preparar uma denúncia junto das autoridades, enquanto o município local garantiu que “o caso será estudado e, se necessário, serão analisadas as medidas a serem adotadas”, dada a “postura de tolerância zero face aos comportamentos machistas em causa”.
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