O presidente da Federação Portuguesa de Atletismo, Jorge Vieira, defendeu que o pós-carreira dos atletas deve começar a ser preparado ainda durante a carreira.
“O que defendemos é a prevenção, começando a trabalhar com os mais jovens de forma a entrarem numa plataforma de alto rendimento em que devem, desde o primeiro dia, começar a preocupar-se com o pós-carreira, por exemplo, através da atividade escolar, fazendo a sua formação académica e preparando-se para terem uma profissão no pós-desporto”, sublinhou Jorge Vieira em declarações à Lusa.
O dirigente esteve em Leiria para apresentar o livro “Talentos Desportivos - Da Identificação ao Pleno Desenvolvimento”, que teve lugar no auditório da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais de Leiria, e, à margem do evento, falou sobre o pós-carreira dos atletas, abordando o caso de Fernando Mamede, uma das glórias do atletismo português que luta contra uma depressão.
“Infelizmente, já está nesta situação há muitos anos. Não é de agora. É o estado de saúde dele, como infelizmente muita gente tem. É um estado já de alguma cronicidade que nos preocupa, pois fica muito tempo incontactável”, afirmou o líder da FPA, considerando que o referido caso está a ser tratado à ‘posteriori’.
Confirmando a informação que dá conta de que o ex-recordista mundial dos 10.000 atravessa um momento crítico de saúde mental, o presidente da FPA recordou que Fernando Mamede “já teve uma fase em que esteve bem”, voltando “outra vez ao estádio nacional, a fazer o seu exercício”.
Todavia, revelou também, “há relativamente pouco tempo, voltou a ter uma recaída”.
E é precisamente de forma a evitar casos idênticos que Jorge Vieira assume ser fundamental começar a planear esse momento desde cedo.
“Tudo isso tem de ser preparado à ‘priori’ e não à ‘posteriori’. O grande problema com esta geração de que estamos a falar é que já estamos a trabalhar à ‘posteriori’”, disse, evidenciando que a FPA foi “uma federação pioneira a apontar nessa direção”.
“Infelizmente, não há recursos financeiros para o fazer de forma mais regular”, ainda que os medalhados olímpicos sejam apoiados, reiterou, dando o exemplo do caso de um atleta medalhado olímpico que trabalha com a Federação Portuguesa de Atletismo.
Sobre possíveis iniciativas de apoio aos atletas que encerram as carreiras, o dirigente assume que “o objetivo passa por aumentar o número de atletas apoiados”, afirmando ser “inviável” a existência de reformas vitalícias para alguns desses atletas, ideia que, de resto, há quem defenda.
Relativamente ao caminho para a mitigação de situações em que os atletas não estão preparados para o pós-carreira, o líder da FPA enalteceu que “hoje existe um cuidado muito maior na formação académica”.
“Na geração dos atletas mais velhos, era muito raro haver um atleta estudante. Hoje em dia, é raríssimo ver um atleta que não é estudante”, exaltou, acrescentando que “dantes, havia um ou dois casos de atletas com formação superior”.
Além disso, reforçou também, há o papel desempenhado pelas Unidades de Apoio ao Alto Rendimento nas Escolas.
“Trata-se de um projeto que está a dar muitos bons resultados. Temos hoje atletas nas escolas que estão a ser excecionalmente acompanhados por equipas escolares, que acompanham a sua vida escolar para que melhor se adeque ao que fazem no desporto e para que não existam descontinuidades no processo de formação. Isso é o melhor que se pode fazer para o futuro destes atletas”, rematou.
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