A decisão da World Athletics de promover em Paris2024 uma estafeta mista de marcha que elimina a longa distância do programa foi “um balde de água fria”, disse hoje à Lusa João Vieira.

“Neste momento, o que se está a ver é que os marchadores não estão de acordo com o que a World Athletics quer fazer. Não fomos ouvidos e isto é, em princípio, o início do fim da marcha em termos de Jogos Olímpicos”, declara o marchador luso.

Vieira, de 47 anos, preparava-se para continuar a correr longa distância, ainda que já não os 50 quilómetros, já só disputados por homens em Tóquio2020, mas os 35 numa corrida coletiva mista – e não a solo como nos Mundiais.

Agora, face à inclusão no programa olímpico pela World Athletics (WA) de uma estafeta mista com a distância da maratona (42,195 quilómetros), sente-se ‘forçado’ a voltar aos 20 quilómetros, dos quais se tinha despedido nos Jogos Olímpicos Rio2016.

“Foi uma decisão da WA, vamos esperar pelos próximos episódios. Neste momento, esta competição não existe em lado nenhum. Dizem que isto é uma prova bastante popular em corrida, mas não é na marcha. É uma falta de respeito que têm para com os marchadores que tinham vindo a trabalhar para os 35 km neste ciclo olímpico”, critica.

O vice-campeão do mundo nos 50 quilómetros em Doha2019 e quinto em Tóquio2020 manifesta vontade de “esperar pelo que decidem” e quer que sejam definidos e anunciados “mais critérios para apuramento das equipas que vão” a Paris2024.

“No caso de um atleta como eu, que há muitos por este mundo fora, que nos últimos anos têm trabalhado as grandes distâncias, é um balde de água fria. Mas, no meu caso, não vou baixar os braços e vou continuar o meu sonho de voltar a representar o meu país nos Jogos Olímpicos, porque ainda há a distância dos 20 km e a estafeta”, afirma.

Depois de ter disputado cinco Jogos Olímpicos, as três últimas na distância mais longa, Vieira admite que esta decisão pode constituir um “passo bastante atrás” devido a esta “falta de respeito”.

O histórico atleta nacional, com sete presenças em Europeus e duas medalhas em Mundiais, prata em 50 km e bronze em 20 km em Moscovo2013, não se conforma com a adaptação a uma forma que, se é “uma promoção acarinhada na corrida, nunca o foi na marcha”, conseguindo com a mudança que se “tire a história da marcha nos Jogos Olímpicos”.

“Neste momento, o melhor que temos a fazer é juntar os marchadores e treinadores de marcha, fazer uma petição e entregar à WA a dizer que estamos em desacordo com esta fórmula que vão entregar ao Comité Olímpico Internacional (COI)”.

A decisão, anunciada na sexta-feira pela World Athletics, organismo que rege o atletismo mundial, e pelo COI, faz com que a distância mais longa da marcha desapareça das grandes competições, e se passe apostar num percurso de maratona (42,195 km), dividido por quatro atletas.

Serão 25 seleções em competição, cada uma composta por um atleta masculino e um feminino, que completarão a distância em quatro etapas de distância aproximadamente igual. Cada atleta completará duas etapas de pouco mais de 10 quilómetros cada, alternando masculino, feminino, masculino, feminino.

O evento será realizado no mesmo percurso que os eventos individuais de marcha atlética, de 20 quilómetros, junto à Torre Eiffel, no centro de Paris, e será concluído em cerca de três horas.

As regras de qualificação para o novo evento vão ser publicadas em breve.

A estafeta da marcha será disputada na quarta-feira 07 de agosto de 2024, às 07:30 locais (06:30 em Lisboa), seis dias depois das provas individuais de marcha atlética de 20 quilómetros, o que permitirá que os marchadores compitam nas duas provas.