Fernanda Ribeiro conquistou o segundo ouro olímpico no feminino para Portugal, mas não só. Foi o terceira atleta português a obter esse feito, depois de Carlos Lopes e Rosa Mota. Já nos Jogos Olímpicos de Sidnei conseguiu o bronze também na prova dos 10 mil metros.
A estreia em JO aconteceu aos 19 anos nos Jogos em Seul, em 1988. O certame acabou por ser memorável para Rosa Mota que arrebatou o ouro, mas nem tanto para Fernanda Ribeiro, estreante e ainda júnior. Apesar da tenra idade, já havia alguma pressão em cima dos ombros da atleta, depois da nortenha se ter sagrado vice-campeã mundial de juniores nos 3000 metros. Contudo, na Coreia do Sul não conseguiu mais do que o 13.º lugar na meia-final. Em Barcelona, quatro anos volvidos, voltou a não conseguir alcançar os seus objetivos, ao ser eliminada nas meias-finais (com o 9.º melhor tempo). Com 23 anos, e após ter sido alvo de várias críticas, colocou mesmo a possibilidade de abandonar o atletismo.
Em 2019, numa entrevista ao Porto Canal, a atleta revelou que participar nos Jogos em Seul foi já em si uma vitória: "As pessoas pensavam que estar num Jogos Olímpicos era candidata a estar numa final ou a ganhar uma medalha. Mas isso não é verdade. Júnior é júnior, sénior é sénior. Para mim estar nos Jogos já era uma medalha. (...) Foram os jogos que eu gostei mais. Antes de ir para Seul, não sabia o que era uma aldeia olímpica", recordou.
Porém, a mudança de treinador acabou por ser decisiva culminando numa viragem na carreira da atleta. João Campos começou a orientar Fernanda Ribeiro, e esse novo rumo começou a dar frutos. Vieram os títulos de campeã da Europa nos 10 mil metros, de campeã mundial nos 10 mil metros e de vice-campeã mundial nos 5000 metros.
Curiosidade: Em 1995, na prova dos 10 mil metros, Fernando Ribeiro arrebatou um Mercedes quando ainda não tinha carta de condução.
Nos Jogos de Atalanta em 1996, a fundista chegava à competição naturalmente com outro estatuto, e com aspirações a conquistar uma medalha olímpica. A herança era pesada: Campeã mundial em título e bi-campeã europeia. No entanto, a ambição trouxe-lhe a glória só ao alcance de alguns predestinados. A 2 de agosto de 1996, Portugal inteiro assistiu a uma das provas mais brilhantes de um atleta luso em Jogos Olímpicos. - O evento já tinha começado da melhor maneira, com Fernando a ter tido a honra de ser porta-estandarte na cerimónia de abertura dos Jogos com as cores portuguesas. Na final dos 10 mil metros, na última volta, a chinesa Wang Junxia parecia a maior candidata ao ouro, contudo a atleta portuguesa com uma recuperação fantástica, reduziu as diferenças e com um final absolutamente arrebatador arrecadou a medalha de ouro.
"Eu sabia que estava muito rápida. Claro que para mim um segundo lugar era excelente, era uma medalha. Só que durante a prova (...) eu controlava muito a corrida pelo ecrã e quando eu olho, eu pensei: 'Não tenho nada perder e vou tentar chegar o mais à frente possível'. Pelo ecrã eu percebi que a atleta chinesa ia a sofrer. Vi um 'buraquinho' e passei. Ela estava muito desgastada e não contava que passasse", contou. Depois de uma prova tão dura, e face ao problema no tendão, os festejos acabaram por ser de pouco dura na aldeia olímpica em Atalanta. "Já não consegui chegar pelos meus próprios pés à aldeia olímpica. Quando chego lá, festejo com os meus amigos e a seguir vou-me deitar, já não conseguia andar", relembra.
Fernanda Ribeiro estabeleceu novo recorde olímpico em 1996, com 31.01,63.
Em declarações ao Porto Canal, recordou ainda os momentos que antecederam os Jogos que acabaram por saber a ouro para as cores nacionais. Apesar do problema num tendão, Fernando Ribeiro sabia que podia fazer 'estragos' nos 10 mil metros e relembra uma história curiosa nos treinos com outros atletas portugueses. "O único medo que eu tinha era que o tendão falhasse, mas eu quando cheguei a Atlanta estava em grande forma. Eu treinei com o António Pinto, Domingos Castro, Paulo Guerra e nos treinos com eles tentavam sempre que eu não aguentasse, mas eu aguentei sempre. Sabia que estava muito bem", afirmou.
Veja o vídeo da extraordinária vitória de Fernanda Ribeiro nos Jogos Olímpicos em Atalanta
Nova medalha olímpica em Sidnei
Apesar do título de campeã olímpica na bagagem, as expetativas não eram as mesmas para os jogos realizados na Austrália. Na final dos 10 mil metros, a inglesa Paula Radcliffe liderou a prova quase do principio ao fim, sendo batida na ponta final por Derartu Tulu, antiga campeã olímpica, com Gete Wami a ficar com a prata. Fernanda Ribeiro almejou o bronze, na volta final, na última medalha da atleta portuguesa em grandes competições.
Em 2004, despediu-se nos Jogos de Atenas dos grandes palcos, com a quinta participação em Jogos Olímpicos. Repetir uma medalha era já um sonho distante e acabou mesmo por claudicar, depois de se ver afastada dos lugares da frente.
No seu currículo, Fernanda Ribeiro soma um total de 12 medalhas em grandes competições, numa carreira brilhante iniciada aos 10 anos de idade.
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