Falar de João Netto é falar de impossíveis que se tornam reais. É falar de um homem movido a adversidades. De alguém que gosta de desafiar os limites do corpo.
À beira de completar 56 anos, João Netto prepara-se para participar numa das mais desafiantes provas do atletismo mundial: a Tenzing Hillary Everest Marathon, a maratona mais alta do mundo. Será o único português nesta prova extrema, realizada a mais de cinco mil metros de altitude.
Entre o trabalho, o treino e a família, o português de 55 anos tirou um pouco do seu tempo para partilhar com os leitores do SAPO Desporto algumas das suas experiências e peripécias em provas à volta do Mundo, em mais um episódio do podcast 'Slow Talk'.
Oiça o podcast 'Slow Talk', com João Netto
João Netto é um desses corredores acidentais. Destes que, de repente, descobrem o gosto pela corrida. Começou já depois dos 42 anos, por umas voltas nos quarteirões à beira do Estádio da Luz, em Lisboa, onde ia levar o filho aos treinos. A cada quilómetro, crescia o amor pela corrida. Dos 400 metros aos dois quilómetros, das mini às meias maratonas, dos 42 quilómetros até chegar as provas extremas.
Depois de se cansar das maratonas citadinas, este empresário na área das telecomunicações decidiu que era hora de colocar o corpo à prova. De se desafiar em provas extremas.
Após completar a World Major Marathon em 2018 - maratonas de Chicago, Londres, Boston, Nova York, Berlim e Tóquio -, João Neto decidiu aventurar-se na World Marathon Challenge em 2019. Uma prova extrema que consiste em fazer sete maratonas em sete dias em sete continentes.
Foram 295 km a correr em apenas 168 horas, com início em Novolazarevskaya na Antártica, passando por Cape Town na Africa do Sul, Perth na Austrália, Dubai na Asia, Europa em Madrid, Santiago do Chile na América do Sul e terminando em Miami na América do Norte.
Correr nos locais mais extremos do Mundo exige preparação… extrema. Para a maratona no gelo da Antártica, na World Marathon Challenge, João Netto preparou-se nas câmaras frigoríficas de uma grande superfície comercial, na Ericeira.
É a adversidade que puxa por João Netto, um homem que já correu com uma diverticulite e que trouxe consigo uma febre alta. Um atleta que fez uma maratona com uma hérnia. Ou que correu a maratona de Atenas com uma inflamação extrema numa perna. Levou uma injeção de penicilina para aguentar as dores e mesmo assim fez uma grande prova.
Em 2017 cortou as metas das maratonas do polo Norte e do polo Sul em abril e em novembro, nuns dos locais mais inóspitos do planeta. A presença de ursos polares na área levou a organização a mudar o traçado, evitando assim que os maratonistas dessem de caras com estes animais que pesam entre os 350 e os 700 kg.
Quase a completar 56 anos, João Netto sabe que o corpo poderá não dar a mesma resposta perante as adversidades que se lhe colocam no futuro. Depois da maratona dos Himalaias, o empresário das telecomunicações vai avaliar se conseguirá continuar nas provas extremas. Terminará quando a mente concordar com o corpo. Até lá, vai continuar a provar que nada é impossível, quando feito com método, preparação e coragem.
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