José Maria Banzo, de 92 anos, Ingrid Schafer (83), ou Miguel Nascimento (52), são apenas três dos cerca de 2.400 atletas que, até domingo, competem no Campeonato da Europa em pista coberta de veteranos, em Braga.
“O que faço aqui? Estou a tentar divertir-me e ser feliz com todos os atletas de todo o mundo”, responde, à agência Lusa, um sorridente José Maria Banzo, em plena pista do Altice Forum, instantes depois de se sagrar campeão europeu de veteranos, mais de 75 anos, no lançamento do peso, com 5,56 metros.
O atleta espanhol, nascido em 1929, justifica ter feito menos um metro do que o habitualmente, porque, ao chegar ao hotel, em Braga, bateu com a cabeça e teve que fazer um exame no hospital.
“Sempre pratiquei desporto, desde jovem, fiz atletismo dos 17 aos 21 anos, depois andebol, futebol, ténis. Aos 79 anos, voltei a fazer atletismo veterano. Parei a prática desportiva de competição dos 24 aos 79 anos, por causa da família e do trabalho”, explica o antigo químico-farmacêutico, que treina duas a três vezes por semana na cidade natal, Barcelona.
Viúvo há cinco anos, diz que os quatro filhos e os nove netos ficam “contentes” com a sua atividade física.
Mais do que ganhar, na sua idade, “a ideia é participar”. “Se depois tenho a sorte de ganhar uma medalha, formidável!”, atira.
José Maria Banzo, que até confessa beber uma “coca-cola de vez em quando”, diz-se preocupado com o fenómeno da obesidade infantil, mas também nota uma crescente preocupação dos mais jovens pela nutrição e com a prática desportiva – “os ginásios estão cheios”.
“O que hoje se vê na Europa é similar ao que existe nos Estados Unidos, onde eu vi barbaridades [de casos de obesidade]”, acrescenta.
Pouco antes, logo pelas 09:00, no exterior do grande multiúsos bracarense, Ingrid Schafer, 83 anos, atirava o disco o mais que podia.
“Faço isto porque gosto de desporto. Faz-me sentir bem. É bom para a minha saúde. Pratico umas três vezes por semana”, conta à Lusa.
A alemã, que vive perto de Frankfurt, diz praticar desporto desde a adolescência.
“Há coisa de 15 anos, costumava caminhar e correr, mas, porque tenho alguns problemas nos pés, deixou de ser possível. Comecei com o arremesso [de disco] quando tinha 72 anos”, revela.
Ingrid admite que, “às vezes, é duro” treinar, sobretudo quando “chove ou está frio”. “Aí prefiro ficar em casa a ver televisão, mas quando o sol brilha e o tempo está bom, não há problema e tenho que sair”, diz.
Miguel Nascimento prepara a prova de 60 metros na zona de aquecimento. Aos 52 anos, o professor de Educação Física de Vila Nova de Gaia valoriza cada vez mais a prática desportiva e menos os resultados alcançados.
“A competição é importante, gosto de ganhar se puder, mas se estou nos Europeus e nos Mundiais não é para ganhar, de certeza, porque eu sei que vou lá participar, não vou ganhar”, reconhece.
Atleta até entrar na faculdade, voltou há uns 12 anos para o atletismo veterano trazido por um colega. Treina quatro a cinco vezes por semana, na pista e no ginásio, porque é preciso fazer reforço muscular.
“Também me move o resultado, mas, acima de tudo, o prazer pela atividade física, gosto de me sentir bem, de me sentir em forma e gosto do treino por si só. Tive uma lesão gravíssima há um ano e meio, rompi o tendão de Aquiles, estive parado nove meses e foi duro retomar. Estou praticamente ao mesmo nível de antes da lesão, mas é algo que faz parte da minha vida, a atividade física, o treino e a competição, gosto muito. Enquanto o corpo me deixar, vou estar presente”, diz.
Miguel Nascimento lamenta a pouca publicidade e visibilidade mediática destes campeonatos.
“Seria um excelente exemplo para pessoas já de alguma idade e para os jovens verem que é possível que pessoas das idades dos avós estão a competir no salto com vara, a saltar em comprimento, a correr, a lançar, é um excelente exemplo de promoção da atividade física”, aponta.
Já Sameiro Araújo, vereadora do Desporto da Câmara Municipal de Braga e presidente do Comité Organizador local, faz um balanço “extremamente positivo” até ao momento do Europeu de veteranos, que junta 2400 atletas de 43 países, 360 dos quais portugueses, além de desportistas de alguns países como Estados Unidos e Austrália, que participam extracompetição.
Com uma vida ligada ao atletismo, como treinadora no Sporting de Braga, Sameiro Araújo considera que “é importante mostrar aos portugueses e aos bracarenses que a atividade física é extremamente importante na vida das pessoas, na sua qualidade de vida, e a longevidade depende muitas vezes disso”.
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