A decisão da Federação Portuguesa de atletismo (FPA) em não testar para a covid-19 todos os participantes nos nacionais de pista coberta motivou a desistência do Benfica, disse hoje a diretora do projeto olímpico do clube.
Em entrevista à BTV, Ana Oliveira criticou a FPA e acusou o organismo de não responder aos pedidos de esclarecimento do clube da Luz, alegado que este tem tido sempre “uma grande preocupação para que todos os participantes realizassem testes”, o que não teve correspondência na organização da prova.
“Nunca tivemos resposta por escrito e, oficiosamente, chegaram a dizer-nos que a Federação não ia testar, à semelhança das outras federações e daquilo que se fez, como referência, neste Campeonato da Europa, porque era muito caro”, revelou a responsável máxima do projeto Benfica Olímpico.
A dirigente sublinhou sempre que a testagem de todos os participantes era “uma grande preocupação” dos 'encarnados' e lembrou que a verdade desportiva podia mesmo “estar em causa”, até porque o Benfica iria testar todos os seus atletas antes dos campeonatos.
“Se o Benfica fizer isto e as outras equipas não fizerem, arriscamos a que haja uma certa falta de verdade desportiva. Mas, mais importante, era sentirmos da parte da organização a necessidade de utilizar boas práticas”, frisou Ana Oliveira.
A responsável do clube ‘encarnado’ assumiu que o Benfica teria “a responsabilidade e o favoritismo” para defender o seu título de tricampeão, que esta “não foi uma decisão tomada de ânimo leve” e assinalou “quatro pontos” que motivaram a desistência.
“Respostas inconclusivas e ausência de respostas [da FPA], falta de comunicação com os clubes, que são os agentes que trabalham diretamente com os atletas, incoerência e falta de profissionalismo da FPA [na marcação dos campeonatos] e falta de sensibilidade para aprenderem com o que de melhor se faz nos clubes e nas outras federações. A palavra de ordem em Portugal e no mundo é a testagem. Testem”, exigiu Ana Oliveira.
Além disso, Ana Oliveira referiu que causaram surpresa algumas decisões da FPA, nomeadamente, “em ano pandémico, duplicar o campeonato da I Divisão de oito para 16 equipas masculinas e femininas”, numa modalidade que, lembrou, é de pavilhão e, por isso, não faz parte do grupo de modalidades de baixo risco como o atletismo ao ar livre.
“Estamos a falar de mais de 800 pessoas. Criou-se um problema tão grande, a ponto de a FPA ter sido alertada pela Câmara Municipal de Pombal, que decidiu não permitir que a competição se realizasse naquela cidade e naqueles moldes. É irresponsável pensar que os campeonatos se vão realizar com mais de 800 pessoas e só os 55 elementos do Benfica é que serão testados”, criticou.
O momento da realização dos campeonatos também foi alvo de críticas do Benfica, que, “desde janeiro”, contactou as equipas médicas “da FPA e do IPDJ [Instituto Português do Desporto e da Juventude]” com pareceres e a fazer força para que o campeonato “fosse realizado, sim, antes do Campeonato da Europa”, que terminou no domingo.
A logística da FPA nos Europeus, nos quais Portugal fez história com três medalhas de ouro conquistadas, também já tinha sido alvo de críticas por parte da dirigente, que destacou o “aspeto cansado” dos atletas da comitiva nacional à chegada a Lisboa, após uma viagem desde a Polónia que “durou mais de 24 horas”.
“Já fui várias vezes à Polónia e sei que não é um país assim tão longínquo. É evidente que os atletas estão preparados para ser resilientes e guerreiros, mas podiam haver coisas minimizadas, como o desgaste extra e o fator de risco à integridade física para os atletas”, comentou Ana Oliveira.
*Artigo corrigido e atualizado
Comentários