Numa altura em que muito se fala sobre a violência no desporto, o SAPO Desporto falou com o coordenador do Plano Nacional de Ética no Desporto, José Carlos Lima, sobre o fenómeno que tem manchado o futebol nacional e internacional.
"No desporto, como na sociedade em geral, a violência manifesta-se de formas muito diversificadas e por vezes difíceis de caracterizar e, por isso, de conhecer e monitorizar. No entanto, nos últimos anos, existe a perceção pública de que o contexto do desporto têm sido marcado por uma maior consciencialização da violência no desporto e pela intensificação da luta contra este fenómeno", começou por esclarecer José Carlos Lima.
Mas, o coordenador do Plano Nacional de Ética no Desporto garante que a situação tem sido seguida de perto. "Entre as diferentes formas de violência no desporto, quer as instituições europeias, quer em Portugal, através do IPDJ, nos últimos anos têm prestado particular atenção às diferentes formas de bullying no desporto, praticado em contexto escolar ou federado, à violência sexual, à violência que ocorre em treinos e competições e espetáculos desportivos, que resulta da ação de pais, treinadores, dirigentes e espectadores ou simpatizantes", referiu.
Estas declarações chegam numa altura em que o desporto nacional ainda digere as agressões no Pavilhão Dragão Caixa no fim-de-semana passado. No final da primeira parte do encontro entre FC Porto e Sporting, da 20.ª jornada do campeonato nacional de hóquei em patins, Miguel Albuquerque, diretor geral das modalidades dos 'leões' e a esposa foram agredidos "por uma pessoa com a camisola do FC Porto".
Através da sua página na rede social Facebook, o dirigente do Sporting identificou os principais responsáveis pelas cenas lamentáveis num recinto desportivo e esclareceu como tudo aconteceu.
"Durante toda a primeira parte adeptos do FC Porto colocados ao lado da zona reservada ao Sporting CP foram agredindo verbalmente todos os presentes. Sensivelmente a um minuto e meio do intervalo, e depois de uma confusão em ringue, levantei-me para ver a repetição do lance na TV colocada atrás dos lugares onde me encontrava. De imediato cinco ou seis energúmenos ali colocados estrategicamente levantaram-se ameaçando-me e gritando: "Julgas que estás no andebol? Julgas que estás no andebol?", originando uma confusão que nada fazia prever", começou por explicar.
Miguel Albuquerque acrescentou que "rapidamente essas pessoas chegaram junto a mim, tentando agredir-me, e em acto contínuo e cobarde, um adepto do FC Porto, devidamente identificado com a camisola do clube, desferiu um murro no olho da minha esposa, que tentava separar a confusão que de repente se instalou."
No seguimento das agressões, Frederico Varandas deu uma conferência de imprensa em que apontou os problemas do desporto nacional.
"Vamos pedir uma audiência com urgência ao Governo e solicitar reuniões a todas as federações e ligas em que participamos para que estes casos não se repitam e propomos a criação de um Conselho Estratégico para a Segurança no Desporto. Isto não é um problema do futebol, das modalidades, das claques ou das tribunas. É um problema do desporto nacional e de quem é responsável pelo desporto nacional", avisou o presidente dos 'leões'.
"Numa semana duas pessoas foram cobardemente agredidas, uma no Bessa e outra no Dragão Caixa. São episódios de violência física que repudiamos, combatemos e que queremos que nunca mais se repitam. No episódio do Bessa tivemos um elemento do Conselho Diretivo do Sporting que foi agredido por trás com murros na nuca, e há dias atrás tivemos uma agressão miserável de uma funcionária que foi esmurrada na face. E como cobardes que são é preciso ser uma matilha de cobardes. O que aconteceu não pode ser esquecido, e muito menos ignorado. Gente desta tem de ser banida dos recintos desportivos", sublinhou ainda.
Este é apenas um dos vários episódios que têm assolado o desporto nacional e que são um dos 'alvos' do Instituto Português do Desporto e da Juventude, embora agora de forma limitada.
"Face ao disposto no Decreto-Regulamentar n.º 10/2018, de 03 de outubro, a APCVD sucedeu ao IPDJ nas atribuições previstas na Lei n.º 39/2009, de 30 de Julho, alterada pela lei n.º 52/2013, de 25 de Julho, com efeitos reportados a 1 de novembro de 2018, de acordo com o disposto no artigo 13º do Decreto-Regulamentar n.º 10/2018, deixando de integrar o âmbito das competências deste Instituto a instrução e a aplicação das coimas relativas aos processos de contraordenações", explica.
"Importa, todavia, destacar que a intervenção do IPDJ estava subordinada - representa um pressuposto prévio à sua atuação – a factos praticados no decurso e no contexto de um espetáculo desportivo", recorda José Carlos Lima.
Sendo assim, o que tem de ser feito para controlar este fenómeno? "Contrariar a realidade a que se assiste ao nível da violência no desporto passa por duas vias em simultâneo a preventiva e aplicação da lei", diz o coordenador do Plano Nacional de Ética no Desporto, passando de seguida à explicação.
"Pela via preventiva referenciamos a atuação do PNED e o empenho por parte dos agentes desportivos em passar bons exemplos e um clima saudável. Por outro lado, os clubes terem regras claras que levem a comportamentos corretos e a sancionarem comportamentos incorretos dos seus sócios e atletas e agentes", justifica.
Na mesma linha de pensamento está Frederico Varandas, que acredita os exemplos vêm de cima e têm de ser dados pelos dirigentes desportivos.
"Não chega um telefonema pessoal quase envergonhado para o presidente do Sporting a pedir desculpas. Não chega um pedido de desculpa envergonhado, quase em off, ao presidente do Sporting. Nós ficámos à espera do que aconteceria depois dos incidentes no Bessa, mas nada aconteceu, mesmo com uma queixa crime. Recebi um telefonema do Dr. Pedro Proença a mostrar solidariedade, mas eu também disse que esperava uma reação da Liga. Não se vai lá com pedidos de desculpa envergonhados em off. E o exemplo vem sempre de cima, se eu não tenho educação numa tribuna, como posso exigir isso em todos os estádios, pavilhões e recintos desportivos? É preciso coragem e enfrentar de frente o problema", concluiu Frederico Varandas.
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