A judoca Telma Monteiro definiu o próximo Mundial, na Hungria, como “um treino muito sério”, tendo em vista o seu principal objetivo, a participação nos Jogos Olímpicos Tóquio2020, onde ambiciona chegar às medalhas.

“Estamos a fazer uma preparação em que o foco são os Jogos Olímpicos, mas estando bem para fazer o Campeonato do Mundo, faz todo o sentido ir competir, tentar lutar com algumas adversárias que não tive oportunidade de lutar, porque não tem havido estágios internacionais e então a competição vai acabar por ser um treino muito sério”, disse hoje aos jornalistas Telma Monteiro.

Ainda que o objetivo sejam os Jogos Tóquio2020, adiados para este verão devido à pandemia de covid-19, a judoca, de 35 anos, seis vezes campeã europeia na categoria de -57 kg, a última das quais este ano, em Lisboa, e medalha de bronze nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, definiu o Mundial de Budapeste, na Hungria, entre 06 e 13 de junho, como “uma competição muito importante” – um título que lhe falta no palmarés, ela que foi quatro vezes vice-campeã mundial - cuja realização surgiu já depois do planeamento para os Jogos Olímpicos estar delineado.

“Obviamente que, estando no Campeonato do Mundo, o meu objetivo é sempre as medalhas. Mas o meu principal objetivo são os Jogos Olímpicos, já tive de esperar mais um ano por eles, tem sido um desafio muito grande e não vou abdicar disso, dessa concentração, dessa preparação, mas lutando num Campeonato do Mundo sei que tenho sempre possibilidade de subir ao pódio”, observou.

Questionada pela agência Lusa sobre se melhorar o ‘bronze’ alcançado no Rio de Janeiro, em 2016, também é um objetivo para Tóquio, Telma Monteiro considerou que essa é uma “perspetiva errada de ver as coisas”.

“Obviamente, se perguntarem a qualquer atleta, qualquer atleta quer ser campeão olímpico. Mas dizer isso como se um bronze não fosse suficiente, ou como se eu repetir um bronze não for suficiente, é errado. Se eu ganhar outra vez um bronze – obviamente se for campeã olímpica melhor ainda – significa que eu, cinco anos depois, ainda estou no topo do mundo das melhores. E, a preparação [para Tóquio2020] correndo bem até ao fim, o objetivo será sempre lutar outra vez pelas medalhas. Qualquer uma que venha me deixará feliz”, afirmou a atleta do Benfica.

O adiamento, por um ano, dos Jogos, se resultou em mais um ano para treinar, também foram “mais 365 dias de muita intensidade”.

“Mais um ano foi uma exigência muito grande, não só para mim, mas para todos os atletas, porque ficámos a saber [do adiamento] três meses antes e ninguém estava a desacelerar três meses antes. Toda a gente estava com o pé no acelerador na preparação e tivemos de continuar mais um ano assim, mais um ano muito exigente”, sustentou.

Essa exigência também existe, segundo Telma Monteiro, nos Jogos Olímpicos, onde estão “as melhores [judocas] do mundo”.

“E tudo pode acontecer, estão as 20 melhores dos últimos dois anos, qualquer uma que está lá não me surpreendia se estivesse no pódio no fim do dia”, sublinhou.

Se há um segredo para ganhar combates de judo nos Jogos Olímpicos ou em competições internacionais, “ganha quem acredita mais, quem se consegue concentrar melhor durante o dia”.

“Só há quatro medalhas, no judo são quatro, mas muito mais candidatas. E eu considero-me uma delas, é óbvio”, argumentou.

O que o título europeu conquistado em Lisboa, em abril, mostrou a Telma Monteiro foi ter melhorado a nível técnico-tático, um trabalho específico que faz para enfrentar determinadas atletas.

“O Europeu mostrou-me que melhorei nesse aspeto, consegui impor o meu judo mesmo com atletas que, fisicamente, às vezes têm vantagem sobre mim”, disse.

A atleta mais titulada do judo nacional inspira-se nela própria: “Inspiro-me em mim, no momento de ganhar, essa é a minha motivação extra. Obviamente que temos sempre um sistema de suporte, a família, os amigos, a nossa equipa, mas a minha motivação é muito interna, para me poder dedicar como me dedico diariamente, com a intensidade e profissionalismo com que me dedico, estou sempre a pensar no que posso fazer melhor, fazer mais”, enfatizou.

“Pensar naquele momento de vitória e o quanto eu sei que sabe bem ter esse momento no fim da competição é o que me faz querer sempre mais. Eu quero ganhar para ter a sensação de ganhar, porque é uma sensação muito boa poder experienciar ser a melhor ou uma das melhores”, acrescentou.

E se o ambiente na seleção feminina de judo é de apoio e força entre todas as judocas, também é de muito trabalho, confiança e determinação: “Toda a gente é muito confiante, determinada, muito trabalhadora, é um grande incentivo estar a trabalhar com pessoas que são competitivas. Olhamos para o lado e alguém está a dar 100%, não vamos dar 50%, não queremos ficar atrás. E somos amigas, divertimo-nos bastante, é um grupo com muito sentido de humor, muito engraçadas”, notou.

E para uma futura medalha olímpica, que lugar terá Telma Monteiro reservado em casa, questionaram os jornalistas: “Nem que a casa estivesse cheia, tirava o sofá para pôr a medalha”, brincou a judoca.