"O Primeiro desportista de Portugal – é Salazar. [...] O chefe de uma nação é geralmente um atleta – porque para resolver os problemas que se lhe deparam tem de o ser. A firmeza de espírito, a decisão, a ponderação, o cálculo, a visão, o aprumo, o espírito de luta, a simplicidade – todos os predicados que se reconhecem e se aplaudam em Salazar, são predicados de um atleta. Para conduzir a nau, que é um país, nos mares revoltos, sob os céus toldados de tempestades, é preciso ser forte e ser um atleta. Não só os músculos definem o atleta: também e talvez mais ainda, o espírito, o cérebro e o coração. Por isso se pode dizer – se deve dizer – que Salazar é o primeiro desportista de Portugal".
Esta articulada e quase épica associação de Oliveira Salazar ao ideal desportivo, enquanto poço de virtudes físicas e psicológicas, é da autoria de Alberto Freitas, jornalista do periódico 'Os Sports', publicada em 12 de junho de 1944, dois dias após a inauguração do Estádio Nacional, situado no Vale do Jamor.
Trata-se de uma citação que bem reflete a política propagandística do Estado Novo, e onde, neste caso, Salazar é retratado como um verdadeiro herói da nação, capaz de liderar o país por entre todas as dificuldades, muito graças aos seus aparentes dotes, não só mentais, como físicos. Mas a verdade é que, apesar de toda esta onírica descrição, onde é visto como o principal percursor do desporto nacional, a realidade era bem diferente, já que Salazar não tinha qualquer tipo de relação ou mínimo conhecimento do fenómeno desportivo, algo que o mesmo confessou num discurso em 1933.
"A mim próprio, pessoalmente estranho a todas as organizações do género [desportivo], mas forçado a seguir com atenção o que envolva interesse colectivo (...)", disse Salazar.
Contudo, este desapego não significa que o Estado Novo não procurasse envolver o desporto na sua estrutura e, idealmente, utilizá-lo para efeitos de propaganda ou divulgação da doutrina salazarista.
Cultura de consenso e controle
Estudiosos da matéria olham para o desporto no Estado Novo através de dois prismas distintos mas coexistentes: enquanto ferramenta de consenso, e como fator de distração da sociedade, afastando-as da esfera política.
De acordo com o brasileiro Maurício Drumond na sua obra "Ao bem do desporto e da Nação: relações entre esporte e política no Estado Novo português (1933-1945)", o desenvolvimento da chamada 'cultura de consenso', que tinha por objetivo aproximar a sociedade civil das instituições do regime, baseava-se, por um lado, no desporto como modo de desenvolver o padrão genético e cívico dos jovens portugueses, e por outro no controlo aos tempos livres dos trabalhadores.
" A prática desportiva era posta acima do espetáculo, o que condizia com o principal foco dos poderes públicos para com o mesmo. O desporto era assim visto e defendido como um meio de saúde e educação, ou seja, como uma prática essencialmente amadora, mais próxima à educação física do que ao espetáculo competitivo", pode ler-se na obra de Drumond.
"A ideia que o Estado Novo tinha do desporto em geral, era que deveria ser amador, ao serviço da nação, da educação física, para o cultivo do corpo. O desporto de espetáculo, de massas, era amplamente condenável", Ricardo Serrado
Neste âmbito, foram criados dois organismos para potenciar o desporto e tempos livres como fatores de distração e controlo da população: a Mocidade Portuguesa e a Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT).
A primeira, criada em 1936, foi um dos instrumentos de reforma da educação promovidos pelo Estado Novo, e que pretendia endoutrinar as crianças portuguesas dentro da lógica do regime vigente, através da atividade física, ao mesmo tempo que fomentava a disciplina e respeito às hierarquias.
O objetivo passava também por cultivar a ideia de um povo português de futuro forte e saudável, combatendo assim a imagem comum da época de um Portugal de gente fraca e decadente. Esta ideia de regeneração da chamada "raça portuguesa", era bem patente nas palavras dos dirigentes máximos da Mocidade Portuguesa.
"(...) em relação aos portugueses, temos ainda que fazer urgentemente uma revalorização da raça pelo combate sem tréguas a todas as causas da nossa decadência física, desde a hereditariedade teratológica até ao baixíssimo nível de vida dos portugueses. Racismo? Não. Simplesmente aperfeiçoamento de uma raça que, pelos seus abusos e desregramentos, esqueceu quanto devia em homenagem e perfeição ao seu Criador", disse Durão Ferreira, Secretário-Inspetor da Mocidade Portuguesa, em 1937.
Apesar de haver uma política de prática desportiva na educação do país implementada desde a Primeira República, esta, de acordo com Maurício Drumond, "pecava pela falta de formação" dos seus profissionais, situação que foi alterada a partir dos anos 40, como comprovam as palavras de Álvaro Frade, dirigente da Mocidade Portuguesa, em 1942.
"O ensino infantil, apenas particular, e o primário não dispõem de professores habilitados para dirigir os jogos e exercícios próprios do primeiro período de atividade física. Ao primeiro contacto da Mocidade Portuguesa com a escola primária provou-se exuberantemente aquela deficiência. Os pequenos, um grande número dos quais exibia mazelas físicas exteriores, eram presos, desatentos, hesitantes, tristes.(...)No último escalão escolar, o universitário, a educação física não tem qualquer consideração oficial. (...) O nosso desporto universitário vive sem amparo moral suficiente, sem instalações, sem recursos. O pouco que consegue fazer é produto de muita energia despendida por alguns estudantes mais dedicados que não hesitam em esmolar colaborações".
Contudo, o foco do desenvolvimento da atividade física na Mocidade Portuguesa não se restringia aos homens. Com efeito, o desporto terá também o seu peso na Mocidade Portuguesa Feminina (MPF), se bem que neste caso, o objetivo estaria mais direcionado para a visão do regime salazarista no que ao papel da mulher na sociedade diz respeito, como comprova um folheto da organização publicado pelo Secretariado de Propaganda Nacional.
"Educação Física, na M.P.F., tem dois fins: – concorrer para a saúde das filiadas e até – porque não? – para as tornar mais belas, daquela beleza sem artifícios que possui um corpo em que as atitudes e movimentos são corretos; – desenvolver certas qualidades de carácter que os jogos e desportos dão ocasião de praticar. A Mocidade Portuguesa Feminina só condena na educação física os exageros prejudiciais. Não quer as suas filiadas tão desportivas que percam a sua graça feminina; nem cuidando tanto do corpo que se esqueçam que têm uma alma"
"Mais gente nos campos e menos nas bancadas” (Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho)
Já a Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho (FNAT), criada em 1935, apregoava o desenvolvimento físico dos trabalhadores, através do desporto e da ginástica, por forma a aumentar os seus índices anímicos e de produtividade. Para além disso, as atividades promovidas pela FNAT apontavam também ao "aliviar de tensões" no trabalho, funcionando assim como uma ferramenta de evasão no que toca a eventuais conflitos laborais. Assim, o regime conseguiria um maior controlo sobre os trabalhadores, mesmo durante o seu tempo livre.
O futebol no Estado Novo
Deste modo é possível notar que, contrariamente a algumas noções difundidas, o Estado Novo procurava, tal como em todas as vertentes da sociedade, atrasar (e até travar) o desenvolvimento do desporto enquanto atividade profissional e competitiva, utilizando-o primordialmente como sedativo da população e ferramenta de controle através do consenso.
Uma ideia partilhada pelo historiador Ricardo Serrado que, em entrevista ao jornal 'Público' a 25 de abril de 2013, sublinha os principais objetivos do regime salazarista no que ao desporto diz respeito.
"O Estado Novo definiu uma política desportiva concreta, que era consonante com o resto da sua política. Sendo um regime autoritário à imagem do seu líder (reservado, que não ia em convulsões), e não tanto regime de massas como o fascismo italiano e o nazismo, o Estado Novo adapta o modelo fascista à realidade portuguesa e às ideias do seu líder. E no desporto segue essa linha. O desporto devia servir para educar, civilizar, desenvolver os valores defendidos pelo Estado Novo, que era completamente contra as massas e a profissionalização de qualquer modalidade", pode ler-se.
Ricardo Serrado desconstrói também a noção de que o futebol na altura funcionava como veículo do regime, afirmando que o panorama apontava precisamente para o oposto.
"Em 1942, o Estado Novo criou a Direção-Geral de Educação Física, Desportos e Saúde Escolar (DGEFDSE), que é o organismo que vai tutelar todo o desporto nacional e o futebol ficou ali condensado e preso. E em 1943, lança as leis bases do desporto e diz que o profissionalismo é proibido. Foi preciso esperar até 1960 para alguma equipa portuguesa fazer algo relevante no panorama internacional. Isso se deve em grande medida ao travão imposto pelo Estado Novo, ao aprisionamento do futebol, que já movia largas somas de dinheiro. O Estado Novo nunca quis potenciar o futebol", afirma.
Todavia, o facto do regime salazarista não apregoar a profissionalização e competição dentro do desporto, não quer dizer que não se aproveitasse de todo e qualquer feito desportivo que um indivíduo ou equipa portuguesa alcançasse.
Apesar desse aproveitamento, o investigador afirma que os feitos não eram valorizados em demasia por parte do regime. A conquista do terceiro lugar no Campeonato do Mundo de 1966 em Inglaterra é um bom exemplo disso.
"Quando o Eusébio tem o seu grande Mundial e a consagração internacional, o Diário da Manhã, que era o órgão oficial do Estado Novo, escreveu nas páginas centrais que o melhor jogador do mundo não era o Eusébio mas sim o Pelé", sublinha o historiador.
"Quando o Benfica foi campeão europeu e a seleção ficou em terceiro lugar em 1966, a ideia era que não era o Benfica ou a seleção, mas sim o país", Ricardo Serrado
Ricardo Serrado reforçou ainda a ideia de que Salazar era um homem com pouca ligação ao desporto e que, por isso, não tinha afinidade por um clube específico. Todavia, segundo o historiador, tal não seria o caso de outras figuras centrais do regime.
"O facto de Salazar não gostar de futebol não impedia que outros gostassem, como era o caso de Américo Tomás, Craveiro Lopes, Henrique Tenreiro, Cancella Abreu. Claro que havia agentes do Estado Novo que gostavam de futebol, mas sobre Salazar não há indícios de que tivesse clube. Aliás, poucas vezes se manifesta sobre desporto. Fá-lo para anunciar o Estádio Nacional, quando o Benfica foi campeão europeu em 1961 e no Mundial de 1966, mas é um homem à parte do fenómeno desportivo. Aliás, quando ele recebe o Benfica em 1961, vê-se que é um homem que não está muito à vontade com a gíria do futebol e nem sequer seguiu a carreira da equipa. Disse qualquer coisa como: ‘então foi muito difícil resolver o vosso problema de futebol?’", destaca Serrado.
Inauguração do Estádio Nacional
Apesar de Salazar não ver o desporto como fator de relevo político, algumas figuras do universo desportivo tinham uma visão diferente, vendo na relação com o Estado Novo uma oportunidade de aumentar o financiamento e promoção desta indústria.
Para tal, realizou-se em 1933 o primeiro Congresso de Clubes Desportivos, organizado por Raul de Oliveira, editor da publicação desportiva bissemanal 'Os Sports', onde, como se percebe pelo discurso inaugural feito pelo próprio, enfatiza-se a importância fulcral do desporto para a ditadura.
"O sr. Ministro da Instrução tem que velar pela educação do povo. Para isso, precisa de escolas, mas precisa, também, de estádios, piscinas, e ginásios. O sr. Ministro da Guerra, a quem está confiada a missão sacrossanta de defender a Pátria, precisa de homens fortes, sãos, destros, acostumados à luta, apetrechados da coragem que só a consciência na própria força pode dar. Esses homens encontrá-los-á nas fileiras desportivas. Ao sr. Presidente da República, Chefe de Estado, supremo magistrado da Nação, interessa que o Povo seja forte, para que continue a cumprir a sua missão civilizadora e a afirmar a vitalidade duma raça que soube dar leis ao Mundo e que terá de marear sempre o seu lugar no concerto das nações", afirmou o jornalista.
"No dia em que Portugal tivesse uma população média de sábios e uma minoria de homens válidos para a luta em campo raso, a Pátria estaria irremissivelmente perdida" (Raul de Oliveira)
Concluído o congresso, e após o habitual desfile, Salazar recebeu uma comissão deste evento, que lhe apresentou a proposta da construção de um Estádio Nacional, justificando tal pedido com a importância política do mesmo
"Sob o ponto de vista das relações internacionais, pelo que o desporto contribui para a aproximação entre os povos e como fator importantíssimo da propaganda de uma nação, citando-se, a exemplo o que tem feito na Checoslováquia, com a obra do «Sokols», na Suécia, na Holanda, na Bélgica, no Uruguai, na Itália, etc", pode ler-se na notícia publicada pelo Diário de Notícias sobre o evento.
Perante esta iniciativa, Salazar terminou o seu discurso na Praça do Comércio anunciando a construção do estádio.
"Eis porque muito bem compreendo o vosso sentir, as vossas aspirações, e porque creio, tanto como no ressurgimento da nossa Pátria pelas virtudes da vossa mocidade, na realização, metódica mas certa, das que me são agora presentes. E porque a primeira de todas é a construção do Estádio Nacional, regozijemo-nos, porque teremos em breve o Estádio Nacional!"
Onze anos depois, o projeto do arquiteto Miguel Simões Jacobetty Rosa estava concluído, sendo simbolicamente inaugurado no dia 10 de junho. Em plena Segunda Guerra Mundial, e perante os racionamentos e dificuldades sociais e económicas que derivados do conflito, o regime resolveu promover esta inauguração com toda a pompa e circunstância, contando para tal com a imprensa da altura.
"Como sempre, a promessa cumpriu-se. E a maravilhosa criação, dirigida pelo saudoso ministro Duarte Pacheco, dá-nos motivo de legítimo orgulho porque, uma vez completadas as obras do plano geral – o nosso Estádio será o mais completo da Europa. É sóbrio e grandioso – é, sobretudo uma realização portuguesa, com materiais portugueses, sem copiar em nada o que existe no estrangeiro", escrevia o Diário de Notícias na véspera da inauguração.
A cerimónia, que tinha como ponto alto um jogo entre Benfica e Sporting, contou com os desfiles de atletas das mais variadas modalidades, exercícios de ginástica por parte da Mocidade Portuguesa, seguido de provas de 100 e 800 metros. Após os desfiles, um atleta foi responsável por ler os agradecimentos, dirigindo-se em primeiro lugar a Óscar Carmona, presidente da república.
"Senhor Presidente da República: São para Vossa Excelência, símbolo da Pátria ressurgida, modelo de todos os homens bons de Portugal, as nossas primeiras saudações. Sem vós, sem a continuidade da Revolução, não teria sido possível o nosso ressurgimento, não teria sido possível, portanto, a construção do Estádio Nacional!", pode ler-se na notícia publicada pelo Diário de Notícias no dia 11 de junho de 1944.
Contudo, a emoção e 'pathos' subiu dramaticamente de tom, quando os agradecimentos se dirigiram ao presidente do conselho.
"Salazar! Devemos-te a esperança! Devemos-te a paz! Devemos-te o presente! Mas a partir de hoje a nossa dívida tornou-se ainda maior: Devemos-te a certeza! Devemos-te a alegria! Devemos-te o futuro! Em nome de todos nós! Em nome de todos aqueles que hão de vir depois de nós, mais fortes e mais saudáveis! Bem hajas, Salazar, por teres cumprido a tua promessa! Obrigado pelos séculos fora! Obrigado para sempre", lê-se na mesma notícia.
Crise estudantil e a final da Taça de Portugal
Se a ditadura fascista do Estado Novo apontava para o desporto e a atividade física como modo de controlo da população e, em casos pontuais, como ferramenta de propaganda, já os movimentos contestatários ao regime conseguiram-no utilizar como arma política.
A 17 de abril de 1969, o presidente da república Américo Tomás, o ministro da educação, José Hermano Saraiva, assim como outros membros do regime, estiveram presentes na inauguração do edifício das matemáticas na Universidade de Coimbra.
Após cumprido o protocolo, o presidente da Associação de Estudantes, Alberto Martins, pediu a palavra para poder expor as suas preocupações com a situação do ensino universitário. Tal pedido é imediatamente negado, dando assim início ao movimento que ficou conhecido como a "Crise académica de 69".
Seguiram-se perseguições, a detenção de Alberto Martins, e a suspensão da direção geral da associação de estudantes; em resposta, foi decretado luto académico e greve às aulas por parte dos estudantes. Com Coimbra em estado de ebulição, a causa estudantil resolveu aproveitar a presença da Académica de Coimbra na final da Taça de Portugal como forma de protesto contra a situação, aproveitando o mediatismo do momento para expor ao país o que estava a acontecer.
"Na final do Jamor, combinámos entrar a passo, de capa académica aberta e caída, que era um sinal de luto. Antes, em outras partidas, tínhamos protestado de outras formas, como entrar em campo com um inédito equipamento branco, com uma braçadeira negra, ou com adesivos no emblema, mas estas atitudes foram proibidas", disse Manuel António, na altura jogador da 'Briosa' na tertúlia “Final da Taça de Portugal de Futebol em 1969”, que contou com outros protagonistas do jogo.
Perante tudo o que acontecera nas semanas antecedentes em Coimbra, o regime estaria pronto para que o jogo no Estádio Nacional fosse utilizado pelos estudantes como forma de protesto, algo que José Veloso, fotógrafo da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra, teve oportunidade de comprovar.
"Havia a censura mais feroz naquela altura. Lembro-me [no estádio] de ter dado uma volta e ver jipes de choque, com metralhadoras por cima. Tive o maior medo da minha vida. O que é que estes tipos pensam que vai acontecer aqui?", disse o fotógrafo.
Após uma primeira parte relativamente tranquila, o verdadeiro ponto alto da manifestação dos estudantes surgiu durante o intervalo, com a exibição de várias tarjas de protesto contra a ditadura salazarista.
"No intervalo é que surgiram os cartazes, com as palavras de ordem. É impressionante, porque eles vão percorrer todo o estádio, passando pelas mãos dos adeptos do Benfica, que se associaram espontaneamente ao protesto. Foi o jogo mais emocionante da minha vida", afirmou Alberto Martins.
"O futebol, nesse dia, foi a visibilidade. O desporto é uma grande arma política", Mário Campos, jogador da Académica
No jogo propriamente dito, a vitória acabou por sorrir ao Benfica por 2-1, numa partida que apenas ficou resolvida no prolongamento por um golo de Eusébio. Apesar da derrota, houve uma dose de alívio por parte dos jogadores e estudantes, que o desfecho fosse aquele.
"Tenho pena de não termos ganho, mas, por outro lado, as consequências podiam ser complicadas. Se a Académica ganhasse ia festejar pelo estádio e quando chegasse à bancada onde estava Alberto Martins iria pedir-se para haver uma invasão de campo. Seria muito perigoso, devido à presença de muita polícia no estádio, tínhamos medo que houvesse uma tragédia", sublinhou Mário Campos.
Para António Simões, ex-jogador do Benfica, o mais importante ocorreu fora das quatro linhas. Segundo a antiga glória encarnada, os momentos vividos nas bancadas do Estádio do Jamor constituíram o início da revolução.
"Parece que aquele jogo foi o primeiro passo para perceber que o regime estava a ficar podre. Foi um privilégio, através do futebol, uma coisa que nós amamos, ter a oportunidade de contribuir para que dali nascesse algo importante que foi o 25 de Abril. Para além do plano desportivo, algo de grande estava a acontecer", afirmou o internacional português.
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