O presidente da Federação Portuguesa de Judo (FPJ) afirmou hoje que a selecionadora Ana Hormigo não foi despedida, mas sim afastada das seleções, explicando em declarações à Lusa que o caso está entregue aos advogados do organismo.
“Após o comunicado que a Ana Hormigo fez, achámos todos nós que ela se deveria ter demitido antes. Estava a trabalhar comigo há quase seis anos e, com aquele comunicado e as atitudes que tem tido ultimamente, não nos dá confiança. Demonstrou que não tem condições para trabalhar a este nível e com estes atletas”, disse Jorge Fernandes.
Telma Monteiro, medalha de bronze no Rio2016, revelou hoje que a FPJ despediu Ana Hormigo, que é também treinadora da modalidade no Benfica, a um dia de a equipa viajar para competir no Grand Slam de Abu Dhabi, de apuramento para os Jogos Olímpicos Paris2024.
Jorge Fernandes esclareceu que a até agora selecionadora nacional foi informada que deveria entrar em contacto com os advogados da FPJ, sem que tenha sido despedida.
“Na minha opinião, e penso que ela deve pensar o mesmo, não há condições para ela continuar. A treinadora não fala comigo, não fala com os dirigentes e isto é intolerável. Estamos a dois anos dos Jogos e queremos arrumar a casa, mudar o que está mal e melhorar o que está bem, para podermos fazer o período de qualificação e chegar aos Jogos nas melhores condições. Não foi despedida, foi afastada para já das seleções e vamos ver como o caso se vai resolver”, referiu.
Em agosto, uma carta aberta assinada por sete dos 10 atletas do projeto olímpico da modalidade criticava Jorge Fernandes, acusando-o de discriminação e ameaças, no que dizem ser um "clima insustentável e tóxico".
“Quando me perguntam como vão as coisas com a federação... vão assim: Amanhã [terça-feira] vou viajar para a competição, a minha primeira depois da cirurgia ao joelho. Hoje, a federação despediu a treinadora Ana Hormigo, por email, no dia antes de a equipa viajar! Sem a equipa ou a própria saber de forma antecipada. Em semana de competição de apuramento olímpico”, escreveu a judoca.
O presidente da FPJ explicou que o seu trabalho é o de gerir os destinos do organismo e destacou o resultado da Assembleia Geral realizada no domingo, quando o orçamento e o plano de atividades para 2023 foram aprovados por maioria e a sua liderança reforçada, referindo que Telma Monteiro se deve “focar” no desempenho desportivo.
“Fui eleito para gerir a FPJ e vou continuar. Em relação à atleta Telma Monteiro, a atleta devia estar mais focada na prova que vai ter no fim de semana e em outras do que andar nas redes sociais contra quem foi eleito para criar as melhores condições para que ela possa ter melhores prestações do que tem tido ultimamente”, apontou.
No texto partilhado hoje nas suas redes sociais, Telma Monteiro, a judoca portuguesa mais medalhada de sempre, voltou a deixar fortes críticas à FPJ e à gestão de Jorge Fernandes, informando que o dirigente terá dito que ou os atletas se retratam esta semana da carta aberta ou serão levados a tribunal.
No verão, Telma Monteiro, Catarina Costa, Patrícia Sampaio, Rochele Nunes, Bárbara Timo, Anri Egutidze e Rodrigo Lopes escreveram uma carta, na qual acusavam o dirigente de opressão, discriminação e ameaças, lamentando o “clima insustentável e tóxico”.
Poucos dias depois, Hormigo solidarizou-se com os judocas, afirmando que os mesmos “estão exaustos” e que “não querem estar sujeitos a um sistema que nem se digna a ouvi-los”.
“[No] Sábado, na reunião de planeamento, os treinadores foram informados de que eu, como outros atletas, já não temos verba do projeto olímpico - gerido pela federação - para realizar o planeamento que tínhamos feito”, prosseguiu Telma Monteiro.
Jorge Fernandes explicou que os atletas têm direitos e deveres e não podem “denegrir a imagem das pessoas”, recusando novamente as acusações que lhe foram feitas na carta aberta.
“Os atletas não têm o direito de denegrir a imagem das pessoas, nem dizerem o que querem. Têm direitos e deveres que têm que cumprir, tal como eu. Acusarem-me de racista ou xenófobo vão ter de provar isso, e sobre os pedidos de reunião que dizem que fizeram vão ter de provar”, afirmou.
Já em relação às verbas do projeto olímpico, o presidente da FPJ explicou que “não existe dinheiro para tudo” e que existem mais atletas para além de Telma Monteiro.
“O plano da Telma era impensável, uma coisa de loucos. A Telma pedia para ir para Abu Dhabi, seguir para a Austrália para fazer um estágio e no fim de semana a seguir competir em Baku. Isto, desportivamente, era um desastre”, disse.
Jorge Fernandes aludia ao desgaste provocado pelo ‘jet lag’, além do valor financeiro em viagens e estadias.
“A Telma foi das melhores atletas do mundo, mas temos mais atletas, como Jorge Fonseca, Catarina Costa, Barbara Timo e mais uma série de atletas. O dinheiro não é elástico, não dá para tudo. Temos andado sempre a pedir adiantamento das verbas, mas não temos o dinheiro que a Telma gostava”, concluiu o presidente da FPJ.
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