Quando se fala em atletas de alta competição, a imagem que temos é de alguém em grande forma física, tonificado, músculos salientes, abdominais definidos (melhor deixar de fora o lançamento do martelo ou do peso no atletismo ou alguns pesos-pesados do judo). Um atleta é alguém que trata muito bem do seu corpo, que tem cuidado com o que come e veste.
Mas esse estereótipo às vezes é colocada em causa nas grandes provas mundiais, que recebem atletas e equipas dos cinco continentes. Foi o que aconteceu no Mundial de Andebol que decorre no Egipto e que este ano foi alargado para 32 seleções pela primeira vez. Um alargamento que permitiu a África ter sete seleções na prova pela primeira vez, entre elas a de Cabo Verde e da República Democrática do Congo, seleções que se estrearam em mundiais.
E foi esta última que chamou a atenção da imprensa pela presença de um jogador com formas pouco… atléticas. Trata-se de Gauthier Mvumbi Thierry, um pivot de 1,92m e 110 kg (alguns órgãos de informação dizem que pesa 137 kg). Não que não seja normal estas medidas num atleta de andebol (o pivot Alexis Borges, de Portugal, tem 1,96 m e 105 kg, Vitor Uturriza, também de Portugal tem 1,93m e 120 kg) mas Mvumvbi chama a atenção pela forma física invulgar nesta modalidade.
A marca que veste a seleção da República Democrática do Congo também não ajudou já que não fez camisolas à medida de Mvumbi. E se calhar não foi alertada sobre os tamanhos deste pivot de 26 anos. É que nos dados fornecidos pela Federação de Andebol da RD Congo e que constam no site do Mundial de Andebol, o jogador aparece como medindo 1,76m e pesando 89 kg. Algo que está longe de ser verdade, como se pode ver nas imagens do atleta.
Por isso, os calções e a camisola mal servem neste gigante congolês.
Gauthier Mvumbi Thierry nasceu em França, onde joga no Dreux AC, da Nationale 2, (4ª divisão do andebol francês) mas é filho de congoleses. Foi o seu treinador no emblema francês, Audray Tuzolana, também ele congolês e selecionador da RD Congo, quem o convidou para representar a seleção daquele país africano.
"Nunca imaginei que iria viver algo assim, pelo que tenho de aproveitar cada minuto. O meu objetivo é divertir-me e dar o melhor de mim", declarou o gigante congolês logo após a primeira ronda, quando chamou a atenção dos jornalistas.
E logo na primeira jornada, Mvumbi desfez as dúvidas sobre a sua qualidade para quem só olhava para a sua forma física. Frente a Argentina, apesar da derrota por 28-22, o pivot congolês marcou quatro golos em quatro remates nos 11 minutos e 17 segundos que esteve em campo. Na segunda ronda, frente a poderosa Dinamarca, marcou quatro golos em cinco remates, apesar da pesada derrota por 39-19.
E na derradeira jornada, a jogar para vencer e apurar-se, a República Democrática do Congo deu muita luta mas acabou derrotada pelo Bahrein por 34-27. Gauthier Mvumbi Thierry foi o MVP da partida, com cinco golos em cinco remates, pelo que termina esta fase da prova com 13 golos marcados em 14 disparos. Eficácia tremenda para um pivot.
"Preferia ter ganho o jogo [do que ser eleito Melhor em Campo] mas mostramos o nosso valor e lutamos. Estamos orgulhosos da nossa participação mas tristes com esta eliminação. Gostaria de ter ganho o jogo em vez deste prémio mas a vida é assim", disse, triste, no final do jogo com o Bahrein, na hora de receber o prémio de Melhor em Campo.
Os adversários pouco podiam fazer para para-lo. Assim que recebia a bola, era esperar que o guarda-redes fosse capaz de defender os seus remates o que o gigante congolês não acertasse com a baliza. Depois de marcar, Mvumbi saía disparado (na medida do possível, com o seu peso) para o seu meio-campo para a troca ataque-defesa. Quando via que não ia chegar a tempo, fazia falta atacante de forma a dar a equipa a possibilidade de se reorganizar e não sofrer golos em contra-ataque.
A sua figura faz recordar Shaquille O'Neall, uma das lendas do basquetebol norte-americano que também davas nas vistas pelo seu poderio físico. Já é apelidado de 'o Shaq do andebol'.
A destreza de Mvumbi com a bola na zona dos seis metros mostra que o desporto de alta competição não está limitado ao ideal de atleta perfeito.
A RD Congo vai agora disputar a Taça Presidente com os eliminados Tunísia, Angola, Marrocos, Chile, Coreia do Sul e Áustria.
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