A prestação em Londres2012 do antigo piloto Alessandro Zanardi, que perdeu as duas pernas num acidente, chamou-lhe a atenção e um ano depois, Luís Costa estava a competir contra o italiano e agora prepara-se para a estreia em Jogos Paralímpicos.

“Só chego ao ciclismo em 2013 passados 10 anos do meu acidente. Tudo começou por altura dos Jogos Paralímpicos Londres2012, devido à atenção dada ao Alessandro Zanardi, ele é campeão paralímpico e mundial”, conta Luís Costa à agência Lusa.

Ficou sem a parte inferior da perna direita devido a um acidente sofrido no dia em que completou 30 anos. Desde então e logo que pode começou a fazer trabalho de ginásio, mas hoje, com 43 anos, a bicicleta ganhou definitivamente às máquinas estáticas.

“Na altura, depois do acidente, só fazia ginásio. Vi no paraciclismo uma oportunidade de fazer algo diferente. Fiz as minhas pesquisas e quando dei por isso estava a competir contra ele, o Zanardi, em junho de 2013 na Taça do Mundo. Antes, em março, comecei a competir em Portugal”, explica.

Agora, para o inspetor da Polícia Judiciária que vive em Portimão, “já é recorrente” medir forças com o italiano que perdeu as duas pernas em 2001 num acidente de Cart - um campeonato norte-americano de velocidade - e acabou por se transformar numa estrela paralímpica, que conquistou duas medalhas de ouro e uma de prata em Londres.

Luís Costa compete numa ‘handbike’, na qual pedala com os braços, que custa “qualquer coisa como 20.000 euros” se forem contabilizados os acessórios como “as rodas para contrarrelógio, para estrada e para treinos”.

“Felizmente, está paga. Paga por muita gente, por centenas de pessoas e empresas que me tem ajudado ao longo dos anos”, conta, admitindo que “alguns acessórios já foram comprados através do projeto paralímpico, e das verbas canalizadas através da Federação Portuguesa de Ciclismo”.

Luís Costa chega ao Rio de Janeiro, onde vai competir nas provas de contrarrelógio e de fundo, na condição de líder da classificação mundial de H5, mas está consciente das dificuldades.

“Neste momento, sou o número um do ‘ranking’ mundial da classe, mas isso vale o que vale porque há indivíduos que este ano decidiram fazer poucas provas e pontuaram pouco, eu decidi fazer mais provas internacionais”, explica.

Mesmo assim, assume ter grandes aspirações para as duas provas que vão disputar-se no Pontal: “tenho grandes expetativas, mas tenho de ter em conta que estão cinco indivíduos aos quais nunca ganhei”.

“Espero fazer uma surpresa. Este ano já fiz quatro segundos lugares na Taça do Mundo, e por um segundo perdi a Taça do Mundo” lembra, assumindo logo de seguida: “Acredito que posso ganhar alguma coisa e isso cria-me expetativas, mas é preciso ter cabeça fria. Tenho lugar nos oito melhores do mundo, mas posso ser um dos três primeiros, oitavo ou 10.º”.

O dia-a-dia de Luís Costa, que juntamente com Telmo Pinão vai representar Portugal nos Jogos que decorrem entre 07 e 18 de setembro, é feito de “conjugações difíceis”.

“Treino como os profissionais, em algumas ocasiões duas vezes por dia, pelo meio tenho algumas horas para dormir. O meu dia começa às 06:00 da manhã e acaba perto da meia-noite”, conta.

Apesar das dificuldades, assume que o estatuto de alta competição o ajudou: “Neste momento já me facilitam um pouco no trabalho, mas só desde que tenho estatuto de alto rendimento, e que consegui a qualificação, começaram a pensar: ‘se calhar é mesmo atleta”.

Treze anos depois de ter tido o acidente, confessa que se arrepende de ter “começado muito tarde no paraciclismo”, mas, mesmo assim, acredita que ainda pode fazer muito pela modalidade, enaltecendo o papel do selecionador José Marques que classifica como “o grande mentor da modalidade em Portugal”.

Novato no movimento paralímpico, Luís Costa considera, como praticamente todos os atletas que já representaram Portugal na maior competição mundial de desporto adaptado, que o próximo passo é a “profissionalização” para que se possa competir em igualdade de circunstâncias com as grandes potências mundiais.