O primeiro ministro do Japão, Shinzo Abe, anunciou esta terça-feira que o Comité Olímpico Internacional (COI) aceitou o seu pedido de adiar por um ano os Jogos Olímpicos Tóquio2020, devido ao surto da Covid-19. Portugal contava já com 34 atletas com presença garantida no certame, divididos por 13 modalidades.
O Sapo Desporto falou com Jorge Silvério, psicólogo de desporto, sobre o impacto que o adiamento do próximos Jogos Olímpicos pode ter a vários níveis na vida dos atletas.
Jorge Silvério começa por salientar que a incerteza em que os atletas viviam até aqui aumentava ainda mais a ansiedade numa altura como a que estamos a viver atualmente. "Esta é uma situação de incerteza para todos e, obviamente, os atletas não escapam a isso. Para além da incerteza de poderem ser contaminados, que é natural e normal, porque os atletas são, primeiro do que tudo, seres humanos, eles têm também essas preocupações relativas à incerteza de como será o futuro das competições em que se encontram inseridos e que estavam previstas nos respetivos calendários. E, como é óbvio, situações de incerteza causam sempre ansiedade. Quando não sabemos o que vai acontecer, naturalmente ficamos ansiosos", explicou.
Para os atletas que estavam ainda na corrida à qualificação para os Jogos Olímpicos, manter-se-ão ainda algumas incertezas em relação ao desenrolar dos torneios de apuramento previstos, mas a ansiedade pelo facto de terem visto as provas adiadas também irá diminuir. "Os atletas que estão ainda na luta pelo apuramento estavam também um pouco perdidos, porque com as provas canceladas não saberiam se havia hipótese de haver mais provas e de se poderem ou não vir a qualificar", explica o especialista em psicologia do desporto.
No entanto, e embora, como todos salientaram e como Jorge Silvério também realça, a saúde esteja em primeiro lugar, será natural alguma frustração, depois de terem estado a trabalhar com o foco num determinado objetivo, ajustando os mais diferentes aspetos das suas vidas para apontar baterias a uma data específica.
"Para os atletas, depois de terem estado a trabalhar para um ciclo de quatro anos e superado uma série de obstáculos e barreiras para conseguir os mínimos, é complicado saberem que agora vão ter de esperar outro ano", reconhece Jorge Silvério.
O especialista em psicologia do desporto dá alguns exemplos. "Muitos deles tinham já programado outras coisas para fazer a seguir. Pessoalmente, trabalho com algumas atletas que estavam a pensar engravidar depois dos Jogos. Teriam um período de um ano de paragem que depois lhes deixaria ainda mais três para entrarem no ciclo olímpico seguinte, o que desta forma já não irá acontecer. Há também atletas que estavam a pensar terminar a carreira depois dos Jogos. E isto traz outro conjunto de indecisões", salienta Jorge Silvério.
"E há ainda a parte académica, visto que muitos atletas, em ano de Jogos Olímpicos, adiam o ano universitário, porque querem investir tudo para se qualificarem e irem aos Jogos. Agora, voltarão a ter de passar pelo mesmo no próximo ano e, em vez de perderem um ano, vão perder dois. Tudo isto acaba por ter impacto na vida pessoal de cada um", lembrou o psicólogo, destacando a importância que pode ter para os atletas algum acompanhamento a esse nível, ajudando-os a lidar com a situação.
"Se os atletas puderem ter esse apoio, contar com um psicólogo especializado que os possa acompanhar nesta fase, será excelente, precisamente porque os atletas que consigam manter os seus níveis psicológicos a 'top' em termos de confiança, motivação e controlo emocional, quando as competições recomeçarem estarão mais bem preparados", conclui Jorge Silvério.
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