Javier 'Chicharito' Hernández é mais um futebolista a assumir problemas psicológicos. O antigo avançado do Manchester United e Real Madrid confessou que sofreu uma "depressão muito profunda" no último ano.
"Foi a pandemia, a morte do meu avô e juntaram-se várias situações pessoais. Caí numa depressão muito profunda, sobre a qual não me dei conta, até que percebi que a minha realidade era responsabilidade minha. Era um vazio que tinha comigo mesmo" contou o mexicano, em entrevista à 'ESPN'.
O avançado revela que conseguiu dar a volta por cima até ingressar na Major Leaugue Soccer, onde representa a equipa dos Los Angeles Galaxy.
"No ano passado ninguém dava um peso por mim e agora estou no All Star. É um desafio muito grande para mim, mas essa tem sido sempre a minha história", atirou o mexicano, que também passou pelo Bayer Leverkusen, West Ham e Sevilha.
A pandemia de COVID-19 tem sido um desafio enorme para a humanidade e tem colocado à prova a saúde mental de todos. Um estudo de análise à escala global estima que um em cada quatro jovens tem sintomas de depressão elevados e um em cada cinco apresenta sintomas de ansiedade altos devido à pandemia da COVID-19. O trabalho, uma metanálise de 29 estudos em que participaram 80.879 jovens de várias regiões do mundo, foi realizado por cientistas da Universidade de Calgary, no Canadá, e publicado na revista científica JAMA Pediatrics.
Em comunicado, a universidade realça que os sintomas de depressão e ansiedade duplicaram nas crianças e adolescentes devido à pandemia. Segundo a metanálise, que incorpora estudos da Ásia Central, Europa, Médio Oriente e das Américas do Norte, Central e Sul, são as raparigas e os jovens mais velhos quem demonstram níveis mais elevados de depressão e ansiedade.
Grandes estrelas do desporte que sofreram de depressão
A questão da saúde mental nos desportistas de elite ganhou destaque este verão quando a norte-americana Simone Biles, tida como a melhor ginasta de todos os tempos, desistiu da prova por equipas e apenas participou numa prova individual nos Jogos Olímpicos de Tóquio por não se sentir preparada mentalmente. De lá para cá, muitos atletas profissionais vieram a terreno assumir problemas mentais que enfrentaram no passado.
Além de Biles, outros atletas profissionais de várias modalidades relataram problemas psicológicos.
Muitos atletas de elite já sofreram de depressão ou algum tipo de problema de saúde mental ao longo de suas carreiras. Nesta terça-feira (27), a ginasta americana Simone Biles se retirou da competição geral por equipes nos Jogos Olímpicos de Tóquio, evocando "demônios na cabeça" que pesaram em seu desempenho.
Ian Thorpe (natação)
O nadador australiano Ian Thorpe, pentacampeão olímpico, revelou em 2016 que estava a lutar contra uma depressão desde a adolescência e até foi hospitalizado em 2014 depois de ser encontrado a passear, desorientado, numa rua de Sydney.
“Sou uma pessoa que luta contra problemas mentais desde a adolescência”, escreveu num blog voltado para o público jovem em 2016. “De fora, muitos não conseguiam ver meu sofrimento ou compreender a luta, às vezes diária, que tive de enfrentar”.
Em 2014, vários meses após receber tratamento, Torpe revelou ser homossexual e foi aplaudido pelo mundo do desporto por ter ajudado na luta contra a homofobia.
Naomi Osaka (ténis)
Antiga número dois no mundo, a japonesa surpreendeu em junho ao recusar-se a falar com a imprensa em conferência de imprensa em Roland Garros para "preservar a sua saúde mental".
Osaka, que carregou a chama olímpica nos Jogos de Tóquio, admitiu ter passado por "longos períodos de depressão" desde 2018. Foi eliminada na terceira ronda do torneio olímpico.
Michael Phelps (natação)
O americano Michael Phelps, maior nadador da história e atleta com mais medalhas olímpicas (28, das quais 23 de ouro), reconheceu ter sido vítima de depressão após cada uma das Olimpíadas de que participou (de 2000 a 2016).
Depois de Londres2012, Phelps passou dias fechado num quarto, sozinho, num dos seus episódios depressivos mais grave.
Robert Enke (futebol)
A Alemanha ficou chocada com o suicídio em 2009 do guarda-redes internacional Robert Enke (ex-Benfica e Barcelona) que se atirou para à frente de um comboio em andamento. Em 2014, Andreas Biermann, ex-jogador da segunda divisão alemã do St. Pauli e diagnosticado com depressão crónica, também cometeu suicídio.
Andrés Iniesta (futebol)
O ex-internacional espanhol Andrés Iniesta passou por um período depressivo quando tinha 25 anos, logo depois de vencer a sua segunda Liga dos Campeões com o Barcelona em 2009. O caso coincidiu com a morte, por paragem cardíaca, do seu amigo do Espanyol Dani Jarque, a quem ele mais tarde dedicaria o seu golo na final do Mundial de 2010.
“Quando ouvi a notícia da morte de Jarque parecia que tinha recebido um soco, um golpe muito forte que me deixou de rastos e me fez-me cair muito fundo. Não estava nada bem”, explicou o ex-capitão do Barça, num documentário sobre ele, intitulado “Andrés Iniesta, o herói inesperado”.
Iniesta trabalhou com a psicóloga Inma Puig e com a ajuda do então técnico do Barcelona, Josep Guardiola, conseguiu superar a depressão.
Paul Gascoigne (futebol)
Outro caso emblemático é o do ex-jogador de futebol inglês Paul Gascoigne, que representou 57 vezes a Inglaterra, seleção que levou às meias-finais do Mundial de 1990, em Itália. Atualmente com 54 anos, Paul Gascoigne sofre de depressão há muitos anos, agravada pelo seu vício em álcool.
Tom Dumoulin (ciclismo)
Vencedor do Giro em 2017, o ciclista holandês subiu ao pódio de um 'grand tour' em duas outras ocasiões e foi proclamado campeão mundial de contrarrelógio (2017), um ano depois de vencer a prata olímpica nessa modalidade no Rio2016.
No início deste ano, Dumoulin anunciou o seu desejo de "fazer uma pausa" na carreira para "refletir". "Quero passear com o cão e procurar saber o que eu quero, tanto como pessoa e na bicicleta, e o que quero fazer com minha vida", disse. Depois voltou a competir.
Christophe Dominici (râguebi)
A carreira do ex-internacional francês de râguebi, Christophe Dominici, que morreu em novembro de 2020 aos 48 anos, confundiu-se com sua sinuosa trajetória de vida, do seu sublime ensaio contra os All Blacks no Mundial de 1999 até a sua caída num poço de desesperança.
Num livro publicado em 2007, Dominici falou sobre a sua depressão, desencadeada por vários episódios pessoais.
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