Conciliar o desporto de alto rendimento com a maternidade continua a ser um dilema para muitas atletas. É o caso da velejadora Clarisse Crémer, impedida de participar no do 'Vendée Globe 2024' após ter sido mãe em novembro.
O Vendée Globe 2024–2025 é uma competição à volta do mundo sem escalas para iates da classe IMOCA 60, tripulados por apenas uma pessoa. Em 2024 arrancará a décima edição da corrida, que terá partida e chegada em Les Sables-d'Olonne, França. A prova começará em 10 de novembro de 2024.
Há dois anos, uma estudo de um grupo de trabalho associado ao Ministério do Desporto francês mostrou que a maioria (61,6%) das centenas de atletas entrevistadas considerou muito difícil ser mãe durante a carreira desportiva.
"O ambiente no desporto continua muito conservador. Existem muitas ideias preconcebidas sobre o que uma mulher pode fazer ou deixar de fazer quando se torna mãe", disse à AFP a socióloga de desporto, Catherine Louveau.
O medo de queda de rendimento, uma pausa prolongada no cenário competitivo, a falta de apoio dos patrocinadores: a gravidez ainda é vista como uma decisão "de risco" por muitas atletas que preferem renunciar à maternidade ou esperar o fim da carreira desportiva para serem mães.
Esse não foi o caso de Clarisse Crémer, a mulher mais rápida da Vendée Globe. A velejadora deu à luz em novembro de 2022 e foi afastada do seu barco quatro meses depois pelo seu patrocinador, o Banque Populaire.
O grupo bancário francês alegou que como a velejadora não marcou presença nas primeiras provas de qualificação para a edição de 2024 porque estava grávida, não teria hipóteses de participar no arranque da prova, o que fez com que a empresa descartasse a sua participação na competição.
"Ainda temos que melhorar e vamos ver como integrar (a) gravidez (nos regulamentos), talvez mais para acalmar os patrocinadores do que as próprias velejadoras", analisou Alain Leboeuf, presidente da Vendée Globe, durante um debate sobre o desporto feminino, na última segunda-feira (6).
Para Marie-Françoise Potereau, membro da Federação Francesa de Ciclismo e diretor de igualdade no Comité Olímpico Francês, o caso de Crémer "pode acontecer em outras federações".
Em maio de 2019, a estrela do atletismo norte-americano Allyson Felix, dona de sete medalhas de ouro olímpicas, denunciou as dificuldades que teve com a Nike, a sua patrocinadora, quando engravidou.
"Se tivermos filhos, corremos o risco de perder o investimento dos nossos patrocinadores durante a gravidez e após", denunciou a velocista, que mais tarde lançou a sua própria marca de calçados, especializada no pé feminino.
- Poucos avanços -
No caso dos desportos coletivos, a FIFA deu um passo em frente quando, no final de 2020, impôs a licença-maternidade às suas federações-membro. Medida rara até há poucos anos, sobretudo no futebol feminino, modalidade na qual cada vez mais jogadoras estão a tornar-se mães durante a carreira.
Mas ainda há muito a ser conquistado, como foi visto em janeiro com as revelações da islandesa Sara Bjork Gunnarsdottir, que denunciou um corte significativo no salário pago pelo Lyon quando engravidou em 2021. Posteriormente ainda viveu os obstáculos que o clube francês lhe colocou para que conseguisse conciliar a maternidade com a carreira quando voltasse às competições.
No andebol francês, modalidade que conta com várias jogadoras que também são mães, uma medida surgiu para dar esperanças às atletas. A campeã olímpica Cléopâtre Darleux assinou um acordo coletivo em janeiro de 2021 que prevê a licença-maternidade com manutenção salarial por um ano.
A Liga Francesa de Basquetebol Feminino também espera aprovar em breve o seu próprio acordo coletivo que integraria medidas a favor da maternidade a partir de 1º de julho.
Mas apesar dos poucos avanços em França, ainda há muito a ser feito no desporto como um todo em relação à maternidade de atletas.
"Notícias recentes mostraram que as competições e regulamentos desportivos não levaram suficientemente em conta os aspectos relacionados com a maternidade", disse a Ministra francesa do Desporto, Amélie Oudéa-Castéra, na segunda-feira.
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