O diretor-geral do Comité Olímpico de Portugal disse hoje que o país enfrenta novas ameaças de segurança nos eventos desportivos, como são os movimentos online, e que ainda não está preparado para as combater.
“Há cada vez mais grupos organizados de pessoas que divulgam discursos de ódio e causas políticas, todo um processo online a aprender, a fazer disrupção de bilhética, de transportes e até entrar em canais para fazer propaganda, este é um novo nível de ameaças”, assumiu João Paulo Almeida.
Este responsável falava hoje em Viseu durante o segundo congresso S4 (Safety, Security, Service at Sports Events), organizado pela Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto (APCVD), que decorre até quinta-feira.
No seu entender, hoje está “a mudar-se de paradigma e os espetáculos desportivos são, cada vez mais, oportunidades para manifestar causas políticas, feitas de uma forma menos violenta, mas mais disruptiva”.
Isto, porque, estes movimentos não são de violência física, mas “mais na perspetiva de bloqueio de transportes, bloqueio de bilhetes, de acesso a alimentação”, ou seja, “no fundo criar o caos”.
João Paulo Almeida alertou ainda para um outro fenómeno nos eventos desportivos que "tem a ver com a manipulação de competições desportivas e branqueamento de capitais, em que pessoas estão nas bancadas a ver uma competição desportiva e, através de um ‘laptop’, estão a difundir ilegalmente”.
"Podemos ter ainda outra pessoa a fazer uma aposta no tempo que medeia entre o final do ponto, ou o final do golo, e o momento em que o árbitro digita o resultado no marcador eletrónico”, continuou.
O responsável admitiu que “em alguns casos, a segurança privada de alguns eventos coloca essas pessoas fora do local das competições, mas, depois, não há uma resposta para dar a isto”.
Para João Paulo Almeida, “são cada vez mais este tipo de ameaças que é preciso dar resposta, encontrar formas de o Estado garantir o cumprimento do estado de direito, mais do que, ou para além, da violência clássica e do discurso de ódio clássico”.
“Outra dimensão que me preocupa, e já há outras jurisdições a dar resposta, é quando esse discurso de ódio acontece fora dos locais de competição, mas torna-se controlável e nós vimos, por exemplo, que o Reino Unido já começa a encontrar respostas no seu ordenamento jurídico para sancionar esse tipo de condutas”, disse.
O professor de Direito no Desporto José Manuel Meirim, presente no painel, acrescentou que o desporto “é um veículo promotor de valores para a pessoa e a sociedade, sendo também muito apetecível para transportar e divulgar valores negativos”.
“Essas patologias novas e as que vão surgindo cada vez mais no desporto merecem a atenção das autoridades públicas, mas não só, com as próprias associações e coletividades desportivas para que se possa, do ponto de vista da prevenção e do combate, dar uma resposta equilibrada e adequada a tudo o que é ameaça ao desporto”, acrescentou José Manuel Meirim.
Neste painel, sobre a implementação da Convenção de Saint-Denis, participaram também Adrian Dinca, do comité de Segurança em Eventos Desportivos do Conselho da Europa, e Paulo Valente Gomes, superintendente da Convenção de Saint-Denis do Conselho da Europa.
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